Capítulo 10

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Nina chegou em casa pensativa. Durante o trajeto de volta, Marcos contara animado a conversa que
haviam tido com Marta, mostrando-se muito interessado sobre as outras dimensões do universo e a
comunicação com os espíritos, Não tinha dúvida de que Renato dizia a verdade e gostaria de poder
ser como ele.
Ela, apesar da çonvivência com Marta, de respeitar a família de seu chefe e amigo, aindà não
conseguia ter a mesma certeza deles. Marcos foi dormir. Nina foi para o quarto, deitou-se, mas
sentia-se inquieta. De repente, uma tristeza, uma sensação de medo a acometeu e ela acendeu a luz
do abajur, levantou-se e foi tomar água na cozinha.
Talvez tivesse ficado impressionada com aquela conversa. Seria melhor não deixar Marcos
envolver-se com aquele assunto. Ele poderia ficar sugestionado. Voltou para o quarto e deitou-se.
A lembrança do que acontecera no escritório veio-lhe à mente. Antônia teria mesmo estado lá?
Gilda não teria tido uma alucinação? Lembrou-se do dia do suicídio, do enterro, da indiferença da
tia de Antônia. Por que ela teria cometido o suicídio? Nina queria dormir e resolveu reagir.
Precisava esquecer esse triste acontecimento. Rezou pela alma dela e procurou pensar em outra
coisa. Havia um caso que precisaria estudar no dia seguinte e ela rememorou os detalhes, as
providências que precisaria tomar, até que, cansada, apagou a luz do abajur e finalmente
adormeceu.
Sonhou que estava caminhando por um corredor escuro, sentia o peito oprimido, angústia e a
mesma tristeza que a envolvera pouco antes. Queria sair desse lugar e procurava a saída sem a
encontrar. Finalmente chegou a um lugar escuro onde vultos passavam por ela provocando-lhe
arrepios de medo. Aflita, sentiu que precisava deixar aquele lugar. Foi quando divisou uma moça
de rosto agradável, que a abraçou dizendo:
— Venha comigo. Vou levá-la de volta.
Nina sentiu-se calma, mas nesse instante ela viu Antônia em sua frente, rosto pálido, olhos
encovados, estendendo as mãos e gritando aflita:
— Nina, por favor, me ajude! Não agüento mais!
Nina acordou ouvindo aquele grito de dor. Assustada, sentou-se na cama, coração batendo
descompassado, pernas trêmulas. Passou a mão na testa como para apagar aquela imagem
assustadora. Acendeu o abajur e aos poucos foi se acalmando. O que teria acontecido? Teria visto
mesmo o espírito de Antônia ou fora uma alucinação? A cena no escritório, a conversa na casa de
Mercedes, teriam provocado aquele sonho?
Levantou-se. Estava com medo de dormir e sonhar de novo. Marta dissera-lhe que os suicidas não
têm paz. Seria verdade? Antônia estaria vagando naquele lugar horrível sofrendo pelo gesto que
cometeu? Pedira-lhe ajuda. O que poderia fazer por ela? Mandar rezar uma missa? Tentou pensar
em outra coisa, talvez tudo não passasse de uma ilusão. Ela havia ficado impressionada com os
fatos daquele dia. Mas a lembrança do encontro com Antônia não lhe saía do pensamento. Foi tão
real!

Se fosse verdade, por que ela não teria ido pedir ajuda de Marta ou de Mercedes? Elas saberiam
como ajudá-la. Apesar do esforço para esquecer e poder dormir, o dia estava amanhecendo quando
Nina, cansada, conseguiu pegar no sono.
Três horas depois, quando o despertador tocou, Nina custou a acordar e precisou fazer grande
esforço para levantar. Pensou em Marcos. Ele teria dormido bem?
Vestiu-se e foi ao quarto dele, mas ele já havia descido para o café. Encontrou-o na copa.
— Então, meu filho, dormiu bem?
— Muito bem.
Ele parecia bem-disposto e Nina sentou-se para o café. Marcos continuou:
— Mãe, o Renato é como a Marta. Ele também vê os espíritos.
— Nós já falamos sobre isso ontem.
— A mãe dele não entende e o pai é igual. Por isso ele não conta mais nada a eles. Cada vez que
falava o que estava vendo, eles o levavam ao médico, e o remédios além de não adiantar o
deixavam indisposto.
— Esse assunto é delicado. Seria bom que você não pensasse muito nessas coisas.
— A Marta disse que precisamos estudar os fenômenos porque tanto eu como ele temos
mediunidade. Eu gostaria muito de aprender como é isso. Não quero ficar tendo pesadelos nem me
envolver com espíritos perturbados. Eles fazem reuniões uma vez por semana. Eu pedi para
participar.
— Devia ter me perguntado antes. Essas reuniões são para as pessoas da família.
— Ela disse que já convidou você para ir e que se você for eu poderei ir junto.
Nina tentou contemporizar:
— Vamos ver. Está na hora de você ir. Não pode chegar atrasado na escola.
Depois que ele se foi, Nina lembrou-se do sonho e pensou:
— Vou espaçar minhas visitas à Marta. Marcos precisa esquecer esse assunto.
Chegou ao escritório e encontrou Gilda ao telefone falando sobre que lhe acontecera na véspera.
Vendo-a entrar, ela finalizou:
— Não posso conversar mais. Está na hora de trabalhar. Passe na minha casa à noite e falaremos
melhor.
Nina aproximou-se e perguntou:
— Está mais calma?
— Estou. Mas esta noite quase não dormi, Não consigo esquecer como ela estava.
— Não deve levar tão a sério. Pode ter sido uma ilusão.
— Que nada, Nina. Era ela! Estava com aquele vestido igualzinho
do enterro. Olhos encovados, magra, pálida, estendendo as mãos. Nina sentiu um calafrio. Em seu
sonho ela estava assim mesmo.
— Ontem, quando saí daqui, fui à igreja pedir para rezar uma missa. Mas, quando o padre soube
que ela havia se suicidado, disse que não podia, que a igreja não permite. Fiquei triste. Ela está
sofrendo muito, pediu ajuda. Mas nós só podemos rezar, nada mais.
— A oração é só o que podemos fazer.
— Minha amiga freqüenta um centro espírita. Eu estava falando com ela. Disse que vai me
orientar. Eu tinha ouvido falar que os espíritos aparecem para as pessoas, mas eu nunca tinha visto
nada. Foi a primeira vez e quase me matou de susto. Nunca mais quero ver nada.
— Você está impressionada. Vamos esquecer esse assunto.
— Eo que eu mais quero. Mas a cena volta e sinto medo. Não vou entrar mais naquele banheiro.
Vou usar o do corredor.
— Vamos trabalhar.
Nina foi para sua sala mas reconhecia que seu sonho também não lhe saía do pensamento. Guardou
a bolsa e sentou-se disposta colocar toda a atenção no trabalho.
Quando entrou na sala do Dr. Dantas, ele levantou os olhos e fixou-a:

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