Capítulo 9

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Nina chegou ao escritório um pouco atrasada. Antônio havia marcado uma reunião com um cliente
e desejava que ela estivesse presente.
Dirigiu-se apressada para sua sala, onde Lúcia a esperava.

- Estou atrasada! O Dr. Mendes já chegou?
- Acabou de chegar e já está na sala com o Dr. Antônio. Mandei servir um café. Aqui estão todos
os relatórios que pediu.
Estendeu a pasta e Nina determinou:
- Vou até lá. Quando chamar, você me leva tudo.
Deixou a bolsa no armário, deu uma olhada no espelho, ajeitou a roupa e foi à sala de Antônio.
Bateu levemente e entrou. Eles estavam tomando café e conversando.
Depois dos cumprimentos, Nina sentou- se e esperou que eles iniciassem o assunto a ser tratado.
Então chamou Lúcia com os documentos e começaram a analisálos. Mendes era um empresário
bem-sucedido no ramo de confecções e estava enfrentando um problema sério com um dos sócios,
que estava desviando dinheiro. Apesar das evidências, ele relutava em aceitar essa idéia, ao que
Antônio observou:
- As provas são concludentes. Se não tomar providências enérgicas, acabará falindo.
- Trata-se de um primo de minha mulher. Fica difícil. E se estivermos enganados?
- Dr. Mendes, está claro que ele desviou o dinheiro. Veja este extrato. Não há engano. Sinto
muito, mas ele está mesmo lesando sua empresa.
Nesse instante eles ouviram gritos de pavor e imediatamente se levantaram.
Nina abriu a porta assustada. Correrias, e os três foram ver o que estava acontecendo. Gilda estava
caída em frente à porta do banheiro, desmaiada, e Maria, pálida, tentava reanimá-la.
- O que aconteceu? - indagou Nina.
- Não sei. De repente, ouvi Gilda gritar, corri e a encontrei aqui.
Antônio abaixou-se e Mendes ajudou-o a levantá-la e levaram-na ao sofá na sala da diretoria. Nina
apanhou um copo com água enquanto Antônio esfregava os pulsos tentando reanimá-la.
- E melhor chamar o médico - sugeriu Mendes.
- Ela está apenas desmaiada - respondeu Antônio. - Olha, está voltando.
De fato, Gilda estava respirando melhor. Abriu os olhos e olhou em volta como querendo situar-se.
Depois levou a mão ao peito e gritou:
- Eu vi! Era ela. Antônia, estava lá, dentro do banheiro!
- Não pode ser - disse Nina. - Foi alucinação!
Antônio interveio:
- Conte o que viu.
- Quando abri a porta do banheiro, ela estava em pé diante do espelho de costas para porta. Virou-
se e disse: "Gilda, me ajude!" Ela estava pálida, com o mesmo vestido do enterro, respirando com
dificuldade. Eu acho que gritei e depois não vi mais nada!
- Acalme-se - pediu Antônio. - Ela gostava de você e não vai lhe fazer mal. Está precisando de
orações.
- Nunca mais vou entrar naquele banheiro! Tenho medo! Cruz credo! Nunca tinha visto alma do
outro mundo!

- Sempre há uma primeira vez. Não precisa ter medo. Vamos rezar para que ela seja auxiliada e
encaminhada para onde precisa ir - disse Antônio.
Depois apanhou o copo que Nina segurava com mão trêmula e deu-o a Gilda.
- Beba, vai sentir-se melhor.
Ela obedeceu. Antônio continuou:
- Vamos todos rezar pedindo a Deus que a ajude.
Em seguida ele fez uma oração pedindo a Deus que Antônia pudesse ser auxiliada. Depois ele
voltou-se para Gilda:
- Então, sente-se melhor?
- Sim. Estou mais calma, mas ainda que viva cem anos nunca vou esquecer. Ela parecia viva!
- Ela está viva! - respondeu Antônio.
- Ela se suicidou, todos vimos, fornos a seu enterro! -disse Maria, assustada.
- O corpo dela morreu, mas o espírito continua vivo. Essa é a primeira descoberta que o suicida
faz depois da morte: que apesar de tudo continua vivo. Outro dia voltaremos a esse assunto. Nina,
cuide dela. Eu e o Dr. Mendes vamos continuar.
Nina ajudou Gilda a levantar-se, apoiando-a, e saíram da sala. Depois que se foram, Mendes
sentou-se novamente em frente à escrivaninha de Antônio e perguntou:
- Você acredita mesmo que ela esteja dizendo a verdade?
- Claro. Infelizmente, Antônia era nossa funcionária e suicidou- se dentro daquele banheiro. Era
jovem, foi uma tristeza.
- Não teria sido uma alucinação? Ela não estaria impressionada com esse suicídio e imaginou ter
visto?
- Se fosse assim, ela teria tido alucinações logo após o fato, não agora, que faz tanto tempo. Era
ela, estou certo disso.
- E difícil acreditar que alguém que morreu possa voltar.
- E mais comum do que imagina. Minha filha desde muito pequena via os espíritos e os descrevia
para nós com tal riqueza de detalhes que nos convenceu. Eu sempre me perguntei para onde iriam
os que morrem, mas não tinha certeza de nada. Minha mulher era mais incrédula. Contudo, tantas
foram as evidências, que fomos forçados a admitir. Hoje não temos mais nenhuma dúvida.
O Dr. Mendes baixou a cabeça pensativo, depois disse:
- Se isso for verdade, acho que estou cometendo um grande erro. -Porquê?
- Meu filho está com oito anos mas desde os dois anos diz que vê pessoas do outro mundo,
conversa com elas. Eu e minha mulher o levamos ao psiquiatra, que o vem tratando há anos sem
sucesso. Ele não nos conta mais como fazia antes, mas, quando não estamos perto, ele continua
conversando com seres invisíveis.
- Tirando esse detalhe, ele tem demonstrado algum desequilíbrio mental?
- Ao contrário. Tem um QI alto, responde a tudo com desenvoltura, o psiquiatra diz até que ele é
altamente dotado. Isso que não entendo.
Dantas sorriu e considerou:
- Você tem algum compromisso para esta noite?
- Não. Porquê?
- Vá jantar em minha casa, leve sua esposa e seu filho. Conhecerá minha filha e descobrirá como
lidar com seu filho. Temos muito o que conversar.
- Está bem. Iremos. Quanto ao nosso assunto, voltarei outro dia. Sinto que não estou em
condições de decidir nada hoje.
- Está certo. Mas esteja lá antes das oito.
Depois que ele se foi, Antônio chamou Nina:
- Como está Gilda?
- Mais calma. Contudo não consegue falar em outra coisa. Maria está muito assustada. Quer
pedir-lhe licença para trazer um padre para benzer tudo aqui.

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