Capítulo 7

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Na manhã seguinte, quando Nina entrou na sala do Dr. Antônio, ele perguntou:
— Como foi seu encontro com o Dr. André ontem? Ele veio propor um acordo no caso da
madeireira?
— Não, senhor,.
— Não?! Bem me pareceu estranho. Eles nunca vieram aqui. Mas o que ele queria?
Nina remexeu-se inquieta. Depois disse:
— Era um assunto particular. Veio falar comigo.
— Com você? Assunto particular? O que está acontecendo, que eu não sei?
Nina respirou fundo, sentou-se na poltrona em frente à mesa dele e tornou:
— Nunca toquei neste assunto antes, mas agora sinto que é preciso. Vou contar-lhe a verdade.
Em poucas palavras Nina contou-lhe tudo. O Dr. Antônio a olhava surpreendido. Quando ela
terminou, ele perguntou:
— O que pensa fazer?
— Nada, doutor. Não lhe dou o direito de ver meu filho. Ele nunca saberá que André é seu pai.
Antônio ficou pensativo por alguns segundos, depois disse:
— Não acha que está sendo muito severa com ele?
— Não. Só eu sei o que passei para aceitar o que ele fez e criar meu filho sem pai. Agora que estou
bem, que o menino está grande e posso dar a ele uma vida confortável, André aparece querendo se
aproveitar. Ele nunca se interessou pela vida desse menino. Não merece nada. Ele que fique longe,
tocando sua vida como escolheu, e nos deixe em paz. Se fizer isso, nunca terá do que se queixar.
Mas, se insistir, verá com quem está lidando.
— Nina, cuidado. Você ainda está muito magoada. Não é bom guardar ressentimentos no coração.
Isso está fazendo mal a você.
— Não está. Foi alimentando esse ressentimento que encontrei forças para trabalhar, estudar e criar
meu filho. Foi pela vontade de provar a André que sou suficiente para cuidar sozinha do menino
que eu tenho me esforçado tanto.
— Do jeito que você fala, soa como vingança. Você é uma moça boa, não creio que seja capaz
disso.
— Não quero me vingar, mas fazer justiça. Ele não quis o filho. Enquanto eu sofria a dor do
abandono, ele se casou com outra e foi viver feliz. Agora, depois de tudo, ele volta e quer dar uma
de pai? Isso não é justo.
— Seja como for, ele é o pai. Um filho é um vínculo muito forte. Ele pode reclamar a paternidade
na justiça.
— Se ele fizer isso, negarei sua paternidade.
— Ele pode fazer um exame de sangue.
— Esses exames são relativos. Depois, não creio que ele chegue a esse ponto. Seria um escândalo.
Ele é casado. O que sua família pensaria disso?
— E uma possibilidade, apesar de tudo. Por isso seria aconselhável você não ser tão dura com ele.
Pode exacerbá-lo.
— Não consigo, doutor. Só de pensar nele com Marcos, fico indignada.

— Calma, Nina. Afinal, ele era muito jovem, e os jovens muitas vezes são influenciados pela
família. Deve estar arrependido.
— Talvez. Mas isso não apaga o que ele fez. Ele terá que nos deixar em paz. Para isso, vou fazer
tudo que puder.
— André não vai se conformar. Marcos pode descobrir que você o impediu de ver o pai e não
aceitar isso. Apesar do que houve, ele tem o direito de conhecê-lo e de decidir se quer ou não privar
de sua amizade.
— Ele pensa que o pai morreu durante minha gravidez. Aceitou muito bem essa situação e nunca
comentou nada a respeito. Não creio que sinta falta do pai. Eu tenho suprido todas as suas
necessidades. Marcos é um menino feliz e alegre. O senhor o conhece e sabe que digo a verdade.
— Sei. Marcos é um menino amoroso e adora você. Mas, apesar disso, sugiro que pense melhor. E
um assunto muito delicado.
— A esta altura, a presença do pai iria perturbá-lo. Ele está bem como está. Não precisa de nada.
Antônio não respondeu. Sentia que Nina estava determinada. Nada que dissesse iria fazê-la mudar
de idéia. A raiva que ela sentia de André depois de tantos anos, sua falta de interesse em encontrar
outro relacionamento amoroso faziam-no suspeitar deque ela, embora negasse a si mesma, não
havia conseguido arrancar aquele amor do coração.
Naquela noite, depois do jantar, Antônio contou a Mercedes o que havia acontecido e finalizou:
— Nina está resolvida a impedir que o André veja o filho, Fica indignada só em falar nisso.
— Apesar do tempo decorrido, ela não esqueceu. A dor ainda está viva como no primeiro dia.
— E isso que eu penso. Tentei fazê-la compreender que a ligação entre pai e filho é um elo muito
forte. Marcos, apesar de não falar, pode estar sentindo muita falta de um pai. Ele tem o direito de
decidir se quer ou não estar com ele.
— Pelo que sei, Janete tem horror de ter filhos. Andréia vive confidenciando às amigas que sonha
em ter um neto e está muito decepcionada porque depois de tantos anos de casados isso não
ocorreu. O que acontecerá se ela descobrir que já tem um neto de nove anos?
— Como você sabe disso?
— Minha prima Celina é muito amiga de Andréia e comentou comigo.
— Você acha que eles reconheceriam o neto?
— Não sei. Andréia é muito formal, cheia de regras sociais. Entre o desejo de ter um neto e o
escândalo que sua presença provocaria, talvez ela preferisse ignorá-lo. Depois, há Janere,
orgulhosa, vivendo seu papel social. Essa, se descobrisse esse filho de André, nem sei o que faria.
Pensando bem, Nina pode estar agindo certo. Ter essas duas mulheres como inimigas não seria
nada bom para ela e Marcos.
— Você acha que tentariam alguma coisa contra Nina?
— Você não sabe o que mulheres com a vaidade ferida podem fazer.
— Tenho visto alguns casos e você está certa. Mas acho difícil Nina conseguir segurar André. Já
pensou como ele deve estar? Nina nunca o procurou e ele não sabia que tinha esse filho. Suspeitava
mas não tinha certeza de nada.
— Ele deve estar emocionado, ansioso. Também acho que não vai se conformar. Vai dar trabalho a
Nina.
Antônio suspirou pensativo e ficou calado por alguns instantes. Depois disse:
— Nina vai precisar de apoio. Nós vamos ajudá-la.
— Isso mesmo. Faremos tudo que for preciso para que ela continue vivendo em paz. Mas temo que,
depois de hoje, ela não consiga.

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