Capítulo 2

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Nina apressou o passo. Não desejava chegar atrasada. Fazia dois meses que estava trabalhando no
novo emprego. Ao contratá-la, Antônio lhe dissera:

- Apesar de você não ter formação universitária, seu teste foi bom. Por isso vamos dar-lhe uma
chance. Começará como auxiliar de escritório.

- Obrigada, doutor, Não vai se arrepender.
Neide, a chefe do escritório, era uma mulher sisuda, beirando os cinqüenta anos, exigente, discreta,
fria. Quando se dirigia a um subalterno, raramente sorria. Falava pausado mas firme. Vestia-se com
classe e elegância.

Todos os advogados da organização estavam satisfeitos com seus serviços e sua experiência, confiando a ela as providências mais delicadas.

Nina era o oposto dela. Exuberante, jovem e bonita, notou logo que sua contratação não fora vista
com simpatia. Percebeu que aquela mulher poderia atrapalhar seus planos. Por isso, no fim do
primeiro dia de trabalho procurou-a em sua sala.

- O que deseja? - indagou Neide, olhando-a nos olhos.

- Conversar com a senhora - respondeu Nina sem desviar o olhar.

- Sente-se e vá direto ao assunto.

- Obrigada. Vim pedir uma orientação pessoal. Estudei muito, me esforcei para conseguir este
emprego, mas hoje, vendo-a, senti que, embora tenha conhecimento profissional, falta-me a classe,
a postura, que notei na senhora.

Nina fez ligeira pausa e, vendo que Neide a ouvia com atenção, continuou:

- Gostaria que me orientasse, que me dissesse como me tornar uma funcionária exemplar.
Prometo obedecer a seus conselhos e dedicar-me inteiramente ao trabalho.

Sem mover um músculo do rosto, Neide respondeu:

- Vejo que é perspicaz. Muito bem. Em primeiro lugar, devo dizer-lhe que, para trabalhar em um
escritório onde os advogados são homens, precisa ser muito discreta nas roupas, nas atitudes e ser
muito profissional. Por isso pedi que contratassem alguém de mais idade. Você me parece muito
nova para a função.

- Garanto que, se me disser como deseja que eu proceda, obedecerei e não terá motivo para
lamentar haver me contratado.

- Bom, vejamos... Deve mudar seu penteado. Melhor cabelo preso. Escolher roupas de boa grife,
mas com cores discretas. Os complementos deverão ser de cores básicas. A maquiagem, suave; a
postura, séria. Os assuntos dentro do escritório deverão ser exclusivamente profissionais. Conversas
com os colegas só admitimos fora da empresa. Isso vale também com relação aos advogados, desta
ou de outras empresas que circulam aqui.

- Entendi. Farei o possível para atender a suas considerações. Obrigada por ter me orientado. Até
amanhã.

No dia seguinte, Nina já compareceu ao trabalho com um conjunto discreto, cabelo preso e atitude
séria. Neide não lhe disse nada, mas Nina percebeu que ela aprovara sua aparência. Antônio olhou-
a surpreendido, mas não comentou.

A partir desse dia ela dedicou-se ao trabalho, procurando fazer o melhor que sabia. Entretanto,
notou logo que Neide evitava ao máximo que algum dos advogados conversasse com ela ou com as
outras três moças sob sua direção.

Neide ficava atenta para que eles só se dirigissem a ela, evitando a todo custo que abordassem as
outras funcionárias.

Ficou claro para Nina que ela manipulava tudo, objetivando aparecer sempre como a pessoa-chave,
nunca permitindo que as outras se destacassem. Por isso desejava que elas se tornassem
inexpressivas, sem nada que chamasse a atenção. Todas elas se vestiam igual, falavam igual,
atuavam igual. Eram como robôs nas mãos de Neide.

Uma Amor de VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora