34. So Mais Uma Estatistica

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              Abro meus olhos para encontrar Francisco deitado em minha cama, ao meu lado. Olho ao redor e observo o meu quarto, fotos minhas com a galera toda cobrindo as paredes. Francisco abre seus olhos castanhos e da um sorriso. Dou um sorriso de volta e ele envolve seu braço ao meu redor, me puxando para mais perto de si.

              "Bora dormir mais.. dormir e tão bom," Ele diz e fecha seus olhos novamente, ajeitando sua cabeca e eu solto uma risada, me virando de lado e ele abre os olhos para demonstrar que esta prestando atencao na obvia reclamacao minha que esta prestes a vir.

              "A gente tem que continuar com o projeto, e eu nao posso dormir muito, pois tenho um pouco de dever de casa para recuperar." Francisco rola os olhos brincando e da um sorriso, seus olhos fixados nos meus e ele deixa seu beico para frente, juntando suas sobrancelhas.

             "Mas eu quero dormir contigo..." Ele continua com a mesma expressao e eu fecho os meus olhos por alguns instantes antes de me levantar. Eu sento na cama e escoro no meu braco, olho para ele e o mesmo continua a fazer o mesmo rosto. "Por favor," eu balanco a cabeca, "sil-vous-plait," eu balanco a cabeca, ele da um sorriso e eu levanto uma sobrancelha, ele hesita antes de abrir os labios. Ele se assenta na cama e junta suas maos, me olhando com um pouco de incerteza, "pozhaluysta?"

            Eu caio na gargalhada e Francisco cruza os bracos enquanto eu quase fico sem ar de tanto rir. Me jogo de volta na cama e bato na mesma enquanto continuo a ter uma crise de risos. Francisco me puxa para sentar e me olha com um olhar de bravo.

           "NAO E MINHA CULPA SE RUSSO E DIFICIL DE FALAR" Ele quase grita e eu continuo a rir. Limpo uma lagrima de debaixo dos meus olhos e olho nos olhos de Francisco, que pareciam estar quase pulando de seu rosto, logo percebo que eu havia parado de rir e havia comecado a chorar. Pressiono os meus labios em uma linha fina e limpo as lagrimas do meu rosto, respirando firme.

          "Desculpa, eu-"

          "Nao se pede desculpas a uma pessoa que trouxe algo que te machucou para a superficie, eu que tenho que pedir desculpas." Meu sorriso e interrompido pelo meu pai que quase derruba a porta na hora de abrir-la, eu olho rapidamente para ele e ele levanta uma sobrancelha.

         "Valeu por avisar antecipadamente que Francisco estaria aqui," Meu pai diz para mim e eu dou um sorriso nervoso. Francisco se vira para olhar para o meu pai.

         "Ele veio pra fazer o projeto" Eu respondo antes que meu pai diga algo para Francisco e antes que Francisco corresponda ao meu pai. Meu pai concorda, suas sobrancelhas praticamente costuradas uma a outra, ele aponta para a minha cama onde Francisco e eu estamos sentados/deitados.

         "E o projeto de voces involve o habitat de criar um bebe?" Meu pai pergunta e eu ja consigo ver as bochechas de Francisco se tornar vermelhas como se ele tivesse passado o dia inteiro na praia. Sinto, tambem, o meu rosto se tornar vermelho inteiramente, como se eu tivesse me tornado uma pimenta. Meu pai olha para os nossos rostos e rola os olhos. "Que bom que os dois ficaram constrangidos, Francisco se voce poder me dar licensa, eu tenho que conversar com Alana privadamente," Meu pai diz e Francisco se vira para mim e me da um beijo na testa e me da um sorriso simpatico antes de sair do quarto, dando tchau para mim e para o meu pai que fecha a porta assim que o pe detras de Francisco passa pela porta.

         "O que foi?" Eu pergunto e meu pai puxa a cadeira da minha escrivaninha que estava com o meu computador novo com uma capa azul. Meu pai senta na cadeira e puxa ela para ficar de frente para mim.

         "Minhas proximas palavras sao definitivas e nada que aconteca ira mudar elas de modo algum, nao importa se voce queira ou nao, nao importa quantas memorias ruins isso trara, voce tem que saber a verdade e eu preciso que voce aceite isso." As palavras voam dos labios do meu pai. Sua maca de Adao subindo e descendo. Ele repira fundo e fecha os olhos, antes de abrir-los e logo vejo o meu pai em um estado tao vulneravel que fiquei com medo de tocar-lo e ele quebraria, como um boneco de porcelao.

         "Pai, voce esta me assustando, o que foi?" Eu pergunto, franzindo minhas sobrancelhas e meu pai me olha como se estivesse sentindo uma dor enorme ao pelo menos tocar em um assunto que nem foi tocado ainda, como se a propria tensao no ar poderia o quebrar. Ele olha para o chao e um suspiro pesado sai de suas narinas.

        "A sua..." Ele iniciou, um suspiro tremulo saiu dos meus labios, ja sabendo que ele iria dizer... mae.. "A sua mae estava gr.. gra.." Lagrimas descem as bochechas de meu pai quando ele olha nos meus olhos, e foi assim que eu soube a frase inteira mesmo antes de ele a terminar.. ou pelo menos chegar a metade da mesma. Meus olhos ardem e eu suspiro trêmula, sem saber se o que eu achava era verdade ou não, isso me assustava, sem saber se eu nunca tive um irmão ou uma irmã porque alguém sem coração teve a coragem de atirar no coração dela. "Gravida no dia em que ela foi.."

        "Assassinada" Eu sussurro e meu pai concorda, me olhando, me analizando. Eu olho para a minha mao, observando as minhas maos pequenas com uma mancha no meio do peito da minha mao, pele lisa e queimada, eu toco a ferida e sinto ela queimar do mesmo modo que queimou no dia que a recebi.

        Mas a dor nao se comparou nem um pouco com o vazio que eu senti no peito, como se alguem tivesse pegado uma colher gigante e tivesse coletado todos os meus orgaos, e de algum modo-  eu ainda estava viva, sobrevivendo com pouca esperanca. Um irmao-  ou irma, um ser vivo, naquele dia eu nao perdi so uma pessoa essencial para a minha vida. Eu perdi duas, duas vidas retiradas da terra sem justica nenhuma. So perdidas, so mais um numero de mortes anuais. So mais uma estatistica.

Querido Amor Proibido (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora