O virjão

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Olá Diario!

Após longa crise de abstinência resolvi escrever. Vida de nerd nem sempre é agitada e como nem nerd ainda consigo ser tô no déficit.

Ter amigo é algo que enche minha alma de alegria e enjoo. Um misto de companheirismo e vontade de dar para os cachorros dilacerarem a carne de forma sofrida e vagarosa.

Amor de irmãos raivosos e sede de vingança.

O Joe marcou um game mais tarde em casa pra colocar seus jogos em dia, apenas, pois eu sou o Nerd sem coordenação motora.

- Cara a Josefa anda mandando bem nas artes de dar uns rolê.

- E o que isso tem de mais?

- Cara deixa de ser Virjão. Tô falando de rolê de responsa.

- Com r.g?

- Veeeeei... A mina manda bem no sexo seu cabeção.

Pensei em como meu amigo poderia ter obtido essas informações, mas logo minhas asas de anjo caíram por terra.

- Quem é essa Josefa?

- Cara ela entrou ontem na escola.

- E como você...

- Eu não né cururu pagé? Um amigo que estudou com ela.

Pensei em como os meninos são ingratos. Algo tão importante na vida de um ser humano exposto como um objeto em uma loja.

Pensei na vergonha da tal Josefa entregue aos lobos por um moleque sem pudor ou consideração. Se alguém pudesse avisá-la sobre esse crápula.

- Deveria fazer algo a respeito - pensei alto.

- Mas já???

Ignorei o olhar abismado de Joe e fui para a cozinha apanhar dois copos de suco de uva e lanches com mortadela defumada, a preferida de mamãe.

Notei Joe se ajeitando desconcertado enquanto apertava alguns comando em seu celular.

- Amigo fica pra próxima esse lanche, preciso ir.

Joe voltou e tirou rapidamente o lanche de mortadela do meu prato, então se retirou.

Outro dia achei o clima na escola um pouco diferente do habitual. Joe se entreolhava com alguns meninos que não pertenciam muito ao nosso ciclo de amizade de duas pessoas.

Encostei na deles esperando que o clima se dissolvesse, mas ao invés disso se espalharam como pac mans e eu a vítima fiquei encabulado e só.

Voltaram não um pouco mais de cinco ou seis minutos com uma garota que nunca havia visto na escola: Josefa.

- Ah precisava mesmo falar com você.
Os garotos riram em polvorosa enquanto a menina acompanhava de forma mais contida.

- Ok! Na casa do Joe hoje à noite.
Não compreendi o porquê de tanta perambulagem visto que apenas queria lhe contar o que ouvira, mas enfim, uma vítima a menos.

Ao chegar na casa de Joe fui recebido pelos mesmos meninos da escola que avisaram que em breve Josefa também desceria.

- Desceria? Do céu?

Ambos, Josefa e Joe desceram as escadas com um ar de pompa e vistosidade.

- Vamos lá amigo preparei o cenário.

- Cenário? É uma peça?

Agora todos, inclusive Josefa riram descontroladamente. Me incomodei.

- O que está acontecendo?

- Seu amigo é muito babaca.

Fiquei furioso.

- Babaca eu? Você tá na boca de todo o mundo e eu sou o babaca?

- Seu amigo é um babaca - Repetiu Josefa arrancando mais risos de todos.

- O que é tudo isso Joe? - questionei extremamente incomodado.

- Cara é hoje.

- Hoje o quê?

Mais risos.

- Vem logo, vamos acabar logo com isso.

Josefa me pegou pela mão, mas soltei como uma criança mimada e birrenta.

Nesse momento todos na sala se estribuchavam no chão de tanto rir. Caí em si: queriam expor minha condição de virgem e no final o maior evidenciado da história fui eu e não Josefa a qual cheguei a ter piedade.

Sai desajeitado da casa de quem acreditei ser meu amigo e envergonhado não quis descer para o jantar em família. Passei longos cinco dias em casa até Joe notar minha ausência.

- Cara como você é sem noção! Todo o mundo passa por isso e você sai correndo feito um ganso.

- Você é um otário que não respeita ninguém. Passa daqui Joe. Não preciso de você pra passar vergonha.

- Eu não vou não. Eu não vou sair daqui enquanto isso não ficar de boa.

- Ok. Eu saio.

Precisei mudar de escola no meio do ano e Joe passou a ser apenas o menino que mora uma rua abaixo da minha.
Faz um mês que isso ocorreu e não consigo desvestir minha roupa da vergonha.

Ainda ouço ressoar os risos de todos os meninos encapetados na casa de Joe. Sim, talvez ele tivesse certo que é uma situação corriqueira, mas não sou do tipo de boa.

Sem contar que também não era mais o virjão, mas Joe não precisava saber e nem sou obrigado a sair com quem não aprovo. Perdi um grande amigo que talvez nem fosse tão grande assim já que adolescente tem tara por hipérboles.

E uma nova etapa se inicia, e mais uma vez ninguém se importa.

TEDDY O COITADINHOOnde histórias criam vida. Descubra agora