O nariz vermelho

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Olá depreciável diário! Quem vos fala é um moleque ainda mais depreciável, ignóbil e de nariz vermelho.
O encantador toque vermelho rosé foi dado pela manhã na ida para o cursinho.

Meu novo e ainda amigo Paulo me acompanhou pois queria se matricular no próximo ano visto que decidiu deixar a faculdade para o ano subsequente.

Resolvi, me achando o espertalhão, lhe mostrar as malandragens do trem estribuchante e me posicionei muito à frente da plataforma.

- Teddy acho que essa distância não é recomendável. Aqui diz atrás da faixa amarela.

Com ares de malandro retruquei:

- Claro. Fique nessa distância e nem sentirá o cheiro do trem.

Nesse instante o bendito e sorridente trem, com seus bancos vazios e brilhantes, se aproxima e junto a tensão por um lugar ao sol todos se expremem para alçar vôo rumo a uma promessa de assento próprio.

Nessa ânsia acabei por ir longe demais e quando percebi tinha uma máquina enorme passando pelo meu nariz como um ralador em uma cenoura.

Na confusão me virei com a mão no meu esmagado cheirador e Paulo desesperado me puxou contra a multidão enfurecida.

Mil coisas se passaram por minha turbulenta cabeça desde "fiquei sem nariz" até "Eu ainda tenho porque estou respirando".

Paulo pediu para ver o ferimento, mas não tinha coragem de mostrar. Com os olhos lacrimejantes aos poucos fui tirando minha mão direita sobre o machucado, olhei para ela e nada de sangue, olhei para o Paulo e sua feição de quem segurava o riso denunciava que eu estava patético.

- Consegue sentir o cheiro do trem agora?

Ele colocou o celular na minha frente e o que vi não podia ser real. Um misto de nariz ralado e graxa. Se não fosse comigo riria tanto quanto tivesse vida, mas quem disse que a vida me concede tal oportunidade: o babaca tem que ser eu.

Além de não descolado agora também era um queijo ralado.

- Não posso andar na rua desse jeito
O que eu faço?

- Hum!

Fomos até a farmácia. Paulo com os poucos trocados que ainda possuia comprou água oxigenada e band-aid.
- Cara não posso andar com um band-aid no nariz é imoral!

- Imoral???

- Foi a única palavra que me veio à mente.

-Então não sei o que fazer.

Raciocinei um pouco peguei meus poucos trocados e voltei à farmácia. Resultado: De rena do nariz vermelho passei a doente com um vírus mortal.
Paulo não conseguia parar de rir
Se contorcia ainda em pé ao me ver com uma máscara no rosto.

- Qual o próximo procedimento doutor? O senhor acha que estou com virose? Será que sobreviveria à um apocalipse zumbi?

Nisso Paulo se parecia muito com Joe, meu antigo e duas caras que se dizia muito amigo. Irritado o puxei para que continuássemos caminhando.

Como miséria pouca é bobagem encontrei a garota mais fenomenal a qual já havia encontrado na vida e que a pouco tempo se juntou à minha baderneira classe.

Alicia é seu nome, mas deveria se chamar Angelica, pois é deveras um anjo.

Tentei me camuflar por entre arbustos, mas eram tão mirrados que nem meu nariz ralado conseguiria esconder naquela miséria de lugar.

Empurrei Paulo mais para a esquerda, mas quem disse que o Pateta entendeu minha intenção. Me deu foi um empurrão de volta e adivinha onde o imbecil caiu? Obviamente que nos braços de Alicia que deveria se chamar Angelica.

- Nossa Teddy! O que houve?
Ela sabia o meu nome e isso era algo que me fez esquecer a derrota a qual me encontrava.

- Eu...

- Ele ralou o nariz no trem!

Grande Paulo. Onde começaria a lhe espancar?

- Nossa que perigo Teddy. Minha irmã é enfermeira, deixa ela cuidar de você.
Seria perfeito. Seria mais perfeito que promoção de sorvete pegue um pague dois, é, acho que é isso.

- Deixa eu ver seu nariz.

Inebriado ainda por sua beleza deixei que tocasse em minha máscara de leproso e quando isso ocorreu algo maravilhoso aconteceu.

Tá, foi ironia. Alicia riu tanto de minha calamidade que convidou Paulo a voltar a rir e em pouco tempo todos em volta também riam. Voltei pra casa humilhado e sem curativo.

Na escola o amável apelido de Teddy o vermelhinho não demorou a pegar. Está demorando mais que o normal para perder a vermelhidão, parece que será meu karma.

Bem, no meu livro do colégio talvez tenha essa descrição abaixo da minha foto, ainda é cedo para profetizar. Até o momento há tantas possibilidades de apelidos e humilhações que creio ser quase impossível até o fim do ano escolher apenas um.

Agora mantenho distância segura de um trem por trás da faixa amarela. Isso não mantém minha segurança diante da corrida insana de malucos por um espaço temporário, mesmo porque... Esqueci a mão na porta enquanto estava sendo amassado.

Quebrei meu dedo por isso estou escrevendo pra você no computador com o dedo da mão esquerda. Até a próxima amigo indolente... Sei que também deve estar rindo de mim. Agora sou o Teddy Capitão Gancho.

Obrigada vida!

TEDDY O COITADINHOOnde histórias criam vida. Descubra agora