A noite havia sido longa, mal consegui pregar os olhos e, sempre que adormecia, um pesadelo me fazia acordar novamente. Os pesadelos nunca eram iguais, mas eram relacionados. Toda essa história de anjos me perseguindo, me tornar um demônio — ou meio-demônio —, meus pais estarem mortos, Nicolas e etc, estava acabando comigo.
Sentia meus olhos fundos e sabia que veria gigantes olheiras se me olhasse diante de um espelho naquele momento. Em uma opinião não-popular, eu achava olheiras algo bonito — apesar de quase sempre significar que algo não estava certo. Acredito que mesmo que eu tivesse dormido bem naquela noite, ainda me sentiria exausta, dado ao meu estresse mental com todas aquelas novas informações.
Meus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta da minha sala, no estúdio. Antes que eu pudesse falar para que a pessoa entrasse, a porta se abriu e, obviamente, Nicolas entrou.
— Sutil como um hipopótamo — resmunguei, em voz alta.
Nicolas ignorou meu comentário.
— Falta muito pra terminar aí? — ele perguntou, apontando para o meu computador.
Eu dei um sorrisinho.
— Depende do porquê de você estar me perguntando isso.
Ele estava de pé em frente à minha pequena mesa. Nicolas pigarreou.
— Quero saber se você gostaria de ir a um lugar comigo hoje.
Eu arqueei as sobrancelhas. O que aquilo significava? Ele tinha se arrependido de ter fugido na noite anterior e agora estava tentando consertar as coisas? Ou estava sendo paranoica?
— Quero que conheça alguém — ele completou.
Ah, então não era um encontro.
— Quem é? — eu quis saber, desviando meus olhos para o meu computador para disfarçar meu desapontamento, fingindo estar ocupada.
Um minúsculo sorriso tomou conta do rosto de Nicolas.
— Terá que ir se quiser saber isso.
Aquilo era golpe baixo mas, sabendo como Nicolas era — e que não adiantaria insistir —, acabei cedendo de uma vez.
E lá estávamos nós, entrando num restaurante numa das principais avenidas de Nova York.
Numa mesa, um rapaz de cabelos escuros e olhos profundamente verdes acenou para mim e para Nicolas. Olhei para o demônio ruivo que, por sua vez, parecia feliz em ver seu amigo — eu acho.
— Nicolas — ele o cumprimentou, quando nos aproximamos de sua mesa. — Aurora.
Como ele sabia o meu nome? Afinal, quem era ele?
— Eu sou o David — ele se apresentou, fazendo uma reverência dramaticamente.
Eu olhei em volta do restaurante mas todos pareciam distraídos demais para perceber que nós sequer estávamos ali.
— Oi David — foi tudo que eu consegui falar, confusa com o que estava acontecendo.
Olhei para Nicolas, esperando encontrar alguma pista em sua expressão.
— David também é um de nós — ele falou, gesticulando para que nos sentássemos, e assim fizemos.
— Um demônio? — eu sussurrei, inclinando-me sobre a mesa.
David assentiu, sorrindo.
— Isso tudo ainda deve ser muito novo pra você, eu entendo — o demônio de olhos verdes me ofereceu um sorriso gentil e compreensivo, fazendo com que eu relaxasse um pouco na cadeira.
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No Meio do Nada
FantasíaApós uma marca aparecer em seu pulso, coisas estranhas começam a acontecer na vida de Aurora e, durante uma perseguição misteriosa, um demônio narcisista chamado Nicolas aparece para salvá-la, levando-a a descobrir muitas novas informações sobre a s...