Era uma mulher jovem, alta e bonita. Seus longos cabelos da cor da noite esvoaçavam-se numa dança tranquila pelo ar.
— Mãe de Mia? Como está aqui? — perguntei, incrédula.
Eu me afastei um pouco de Nicolas e dei alguns passos na direção da mulher de olhos avermelhados.
— Eu sei sobre a missão e estou aqui para ajudar. Podemos conversar num outro lugar?
Olhei para Nicolas e, depois, voltei meu olhar novamente para Margot.
— Sim, claro...
Ela sorriu.
— Nicolas. Faz muito tempo!
Olhei para ele com um olhar interrogativo. Quantas coisas do passado de Nicolas estavam vindo à tona — ou melhor, quantas pessoas.
— Vocês se conhecem?
Nicolas pigarreou.
— Sim, nos conhecemos brevemente quando eu estava no Inferno, antes de receber uma missão e vir para cá.
Eu meneei a cabeça, refletindo.
— Nossa, que inferno pequeno, não é mesmo?
Margot sorriu.
— Bem, podemos ir agora?
Eu olhei de relance para Nicolas, incerta de para onde iríamos. Não podia levá-la para uma de nossas casas já que ainda não sabia se podíamos confiar nela.
— Vamos — Nicolas abriu suas asas e levantou voo.
Margot logo fez o mesmo e eu, ainda um pouco desorientada, fui por último.
A brisa da noite soprava nosso rosto com certa doçura enquanto a luz da lua nos banhava. Nadava contra a correnteza de ar, sentindo meu corpo fluir com facilidade e leveza.
Nicolas parou na cobertura de um prédio, a mesma onde ele havia me levado no dia em que nos conhecemos — e onde tinha acontecido nosso primeiro quase-beijo. Senti uma nostalgia preencher o meu peito mas não deixei que aquilo tirasse meu foco da situação atual.
Quando meus pés firmaram-se no chão, todos os olhos voltaram-se para Margot.
— Eu acho que vocês devem conversar sozinhas.
Olhei para Nicolas, incerta. Mas, sim, Mia era minha amiga e a missão era minha. Era compreensível.
— Obrigada — Margot sorriu para ele.
— Tudo bem — eu assenti para Nicolas.
O demônio de olhos flamejantes, ainda com suas asas abertas, logo voltou a voar pela noite.
— Sei que pode ser estranho para você, Aurora. Inusitado... eu entendo. Mas estou aqui para ajudar, pode ter certeza.
— Estou ouvindo — eu respondi, analisando seu comportamento.
De fato, ela não parecia má pessoa — correção: má demônio.
— Quando soube que Mia deixara de se tornar demônio, fiquei desesperada pois sabia o que estava por vir, sabia que o acordo com Lúcifer se romperia e que os arcanjos viriam atrás dela — ela pausou por alguns segundos. — Eu não podia deixar que ela se machucasse, é claro. Apesar de tudo, é a minha filha. O único motivo que me prendia ao Inferno era esse acordo. Eu sou um demônio livre, mas havia negociado com Lúcifer pela vida de Mia.
Demônio livre? O que ela queria dizer com isso?
— Eu sei que tudo isso é novo para você, Aurora — ela sorriu carinhosamente para mim. — Eu consigo acompanhar a vida de Mia, mesmo de longe. Bem, só algumas coisas, mas sei de você.
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No Meio do Nada
FantasyApós uma marca aparecer em seu pulso, coisas estranhas começam a acontecer na vida de Aurora e, durante uma perseguição misteriosa, um demônio narcisista chamado Nicolas aparece para salvá-la, levando-a a descobrir muitas novas informações sobre a s...