No Meio de Arcanjos | Capítulo 18 - Margot

171 30 3
                                    


  Era uma mulher jovem, alta e bonita. Seus longos cabelos da cor da noite esvoaçavam-se numa dança tranquila pelo ar.

— Mãe de Mia? Como está aqui? — perguntei, incrédula.

Eu me afastei um pouco de Nicolas e dei alguns passos na direção da mulher de olhos avermelhados.

— Eu sei sobre a missão e estou aqui para ajudar. Podemos conversar num outro lugar?

Olhei para Nicolas e, depois, voltei meu olhar novamente para Margot.

— Sim, claro...

Ela sorriu.

— Nicolas. Faz muito tempo!

Olhei para ele com um olhar interrogativo. Quantas coisas do passado de Nicolas estavam vindo à tona — ou melhor, quantas pessoas.

— Vocês se conhecem?

Nicolas pigarreou.

— Sim, nos conhecemos brevemente quando eu estava no Inferno, antes de receber uma missão e vir para cá.

Eu meneei a cabeça, refletindo.

— Nossa, que inferno pequeno, não é mesmo?

Margot sorriu.

— Bem, podemos ir agora?

Eu olhei de relance para Nicolas, incerta de para onde iríamos. Não podia levá-la para uma de nossas casas já que ainda não sabia se podíamos confiar nela.

— Vamos — Nicolas abriu suas asas e levantou voo.

Margot logo fez o mesmo e eu, ainda um pouco desorientada, fui por último.

A brisa da noite soprava nosso rosto com certa doçura enquanto a luz da lua nos banhava. Nadava contra a correnteza de ar, sentindo meu corpo fluir com facilidade e leveza.

Nicolas parou na cobertura de um prédio, a mesma onde ele havia me levado no dia em que nos conhecemos — e onde tinha acontecido nosso primeiro quase-beijo. Senti uma nostalgia preencher o meu peito mas não deixei que aquilo tirasse meu foco da situação atual.

Quando meus pés firmaram-se no chão, todos os olhos voltaram-se para Margot.

— Eu acho que vocês devem conversar sozinhas.

Olhei para Nicolas, incerta. Mas, sim, Mia era minha amiga e a missão era minha. Era compreensível.

— Obrigada — Margot sorriu para ele.

— Tudo bem — eu assenti para Nicolas.

O demônio de olhos flamejantes, ainda com suas asas abertas, logo voltou a voar pela noite.

— Sei que pode ser estranho para você, Aurora. Inusitado... eu entendo. Mas estou aqui para ajudar, pode ter certeza.

— Estou ouvindo — eu respondi, analisando seu comportamento.

De fato, ela não parecia má pessoa — correção: má demônio.

— Quando soube que Mia deixara de se tornar demônio, fiquei desesperada pois sabia o que estava por vir, sabia que o acordo com Lúcifer se romperia e que os arcanjos viriam atrás dela — ela pausou por alguns segundos. — Eu não podia deixar que ela se machucasse, é claro. Apesar de tudo, é a minha filha. O único motivo que me prendia ao Inferno era esse acordo. Eu sou um demônio livre, mas havia negociado com Lúcifer pela vida de Mia.

Demônio livre? O que ela queria dizer com isso?

— Eu sei que tudo isso é novo para você, Aurora — ela sorriu carinhosamente para mim. — Eu consigo acompanhar a vida de Mia, mesmo de longe. Bem, só algumas coisas, mas sei de você.

No Meio do NadaOnde histórias criam vida. Descubra agora