Capítulo 10 - Um Novo Começo

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  O calor do sol aquecia o meu rosto de forma confortável. Abri os olhos devagar, examinando cada detalhe do meu quarto. Flashes da noite anterior cruzaram minha mente de repente e eu me sentei na cama com um sobressalto. Nicolas não estava ao meu lado, como eu me lembrava de tê-lo deixado.

Me pus de pé, sentindo o meu corpo dolorido — especialmente as costas — mas ignorei o mais breve que pude, preocupada demais com Nicolas para manter meu pensamento em qualquer outra coisa. Entretanto, a porta entreaberta do meu quarto teve um efeito tranquilizante sobre o meu corpo.

— Nicolas? — eu chamei, com a voz rouca por ter acabado de acordar, enquanto abria a porta.

O demônio de olhos flamejantes estava no meu sofá e ele me olhava intensamente. Ele sorriu para mim com uma ternura que me deixou desconcertada e fez um calor se espalhar pelo meu corpo.

— Se lembra do que aconteceu ontem? — eu quis saber, aproximando-me lentamente dele e me sentando ao seu lado no sofá.

Nicolas meneou a cabeça.

— Lembro de estar lutando com David.

— Você perdeu a consciência, faz sentido que não se lembre de muita coisa.

— Me conte o que eu perdi.

Tantas informações passavam pela minha cabeça ao mesmo tempo que tive dificuldade em escolher uma para começar.

— Minha marca está completa — eu lhe confirmei, mostrando meu pulso. — Eu tenho asas, acredita? — sorri para ele mas meu sorriso se desfez tão rápido quanto apareceu. — David... — eu pausei.

Nicolas franziu o cenho e colocou uma mecha do meu cabelo por trás da minha orelha.

— O que houve com ele? — ele afagou o polegar na minha bochecha e eu fechei os olhos.

— Ele tentou matar você — eu lutava para tentar encontrar as palavras certas. — e eu o matei.

Os olhos de Nicolas se iluminaram em surpresa.

— Pode repetir? Acho que não entendi direito.

Eu balancei a cabeça, sentindo que ia começar a chorar de novo.

— A adaga, ele usou em você mas você não morreu porque você se tornou humano — eu estava falando rápido demais. — Eu peguei a adaga e...

Nicolas me olhou pensativo. O que ele estaria pensando de mim?

— Ele não ia nos deixar em paz — concluí.

Para a minha surpresa, Nicolas beijou o topo da minha cabeça.

— Acalme-se. Você fez o que era certo, se defendeu.

Eu fiz mais do que me defender, eu o matei por vingança e sentia a culpa me corroer por isso.

— Não sei — suspirei. — Não sei.

  Nicolas sorriu sutilmente, de forma compreensiva.

— Você fez o que eu teria feito. Não se sinta mal por isso.

Eu respirei fundo antes de continuar.

— Você estava perdendo muito sangue ontem e a Mia... — bem, eu não sabia explicar o que tinha sido aquilo. — Ontem ela fez um corte na mão dela e depois segurou a sua, e então apagou.

O olhar de Nicolas se iluminou, como se tudo fizesse sentido para ele agora.

— O que foi? — perguntei, soando mais apreensiva do que pretendia. — Ela vai ficar bem, não vai?

— Depende. Ela vai gostar de ser humana?

Humana? Então tinha sido isso? Ela havia trocado com Nicolas a sua humanidade? Era isso que ela queria, afinal, ser humana. Senti uma lágrima pingar do meu queixo mas, antes disso, nem percebi que estava chorando.

Peguei o meu celular e vi que tinha uma mensagem da Dakota:

Mia está bem, só está... diferente. Nos dê notícias quando acordar e vamos nos encontrar na casa de Nicolas, pode ser?

Respondi para Dakota: Nicolas está bem. Estamos bem. Logo iremos para lá.

— Isso quer dizer que você ainda é um demônio? — eu me voltei para Nicolas, incrédula.

Nicolas meneou a cabeça.

— Na verdade, meio que voltei a ser um.

Eu pigarreei tentando esconder um sorriso. Tudo tinha dado certo, então. Eu estava a salvo, Dakota estava bem, Nicolas continuava com o poder e imortalidade que ele desejava e Mia, finalmente, podia viver a sua vida como uma humana, como ela sempre desejou.

— É uma pena que David tenha mudado de lado — eu disse, já que ele e Nicolas pareciam amigos próximos e provavelmente se conheciam há bastante tempo. Bastante tempo mesmo.

Nicolas deu de ombros.

— Em partes, eu o entendo.

Eu também, o inferno tem sua fama por uma razão.

Pensei em contá-lo sobre a minha mãe, meu coração aquecia de lembrar da sua voz em minha cabeça. Talvez eu estivesse tendo uma alucinação? Não, não era minha imaginação. Eu sabia que ela estava comigo, em algum lugar. Achei melhor não contá-lo naquele momento, queria guardar aquilo só para mim mais um pouco, mas tinha certeza de que ele ficaria feliz por mim.

Aliás, eu precisava agradecer a Mia e a Dakota em grande estilo.

— Nicolas — comecei mas parei subitamente ao ver seu olhar curioso. —, você... Hum... se lembra de ter me feito uma promessa? — senti minhas bochechas corarem.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Promessa?

Como ele ousava ter esquecido algo tão importante?! Uma raiva crescente começou a tomar conta de mim.

Nicolas deu risada.

— Devia ver a sua cara agora — ele continuou sorrindo enquanto se aproximava ainda mais de mim, mas eu não achei nada engraçado. — Não poderia me esquecer disso... Nunca.

Meu corpo se enrijeceu.

Eu me afastei só o suficiente para encará-lo. Seu olhar ia dos meus olhos para a minha boca e então a sua boca curvou-se num sorriso que, por Deus! Ele era o homem mais sexy que eu já tinha visto na minha vida, e ele estava todo ali, para mim.

Que se dane, pensei. Fechei os olhos e avancei em sua direção, sentindo o toque quente dos seus lábios nos meus. Sentia minha pulsação acelerar cada vez mais, sentindo-me até um pouco tonta, envolvida em seu cheiro e toque inebriantes.

  Eu sentei em seu colo de frente para ele enquanto beijava o seu pescoço e desabotoava os botões da sua camisa.

Sussurrei, com uma voz suplicante que mostrava um lado de mim que eu nem sabia que existia:

— Acho que nunca estive tão feliz — sorri. — Eu amo você.

Nicolas encostou sua testa na minha e eu sentia sua respiração ofegante em meu rosto, com seu peito musculoso subindo e descendo.

— Eu amo você — ele respondeu. — Você é minha — Nicolas sussurrou, mordendo o lóbulo da minha orelha.

Sim, eu era dele. Eu queria ser dele. E nunca estive tão feliz na minha vida! Agora seríamos eu e ele, juntos por toda a eternidade — que prometia ser bem longa.

Fim.

No Meio do NadaOnde histórias criam vida. Descubra agora