No Meio do Nada

No Meio de Arcanjos | Capítulo 12 - Um Passado Sombrio

  Durante o restante do dia, foi difícil me concentrar nas campanhas de publicidade que eu tinha para fazer, então apenas anotei algumas ideias e deixei para arrumá-las melhor depois. O fotógrafo novo havia chegado mas tirou o dia para se instalar e organizar seus equipamentos pessoais. Eu não conversei muito com ele mas ele parecia gente boa, de qualquer maneira.

Olhei o relógio e marcava cinco horas da tarde, em ponto. Finalmente! Eu amava o meu trabalho, amava o que fazia, mas a minha vida estava completamente diferente agora e, entre anjos, demônios e até bruxas e arcanjos, trabalhar num estúdio de fotografia e publicidade parecia irrelevante. Ao mesmo tempo, era o que mais me mantinha ligada à — suposta — normalidade da vida, e eu não estava pronta para abandoná-la assim. Agora eu conseguia entender Adam um pouco melhor.

Pouco tempo depois, saí do estúdio e comecei a caminhar em direção à casa de Nicolas. Felizmente, não ficava muito longe do estúdio e caminhar um pouco me faria bem. Estava ansiosa para contar a Nicolas sobre a minha missão e, a essa altura, talvez ele já tivesse pegado os livros que eu precisaria estudar. Também estava ansiosa para começar a treinar minhas habilidades, especialmente agora que o demônio-sem-nome havia tentado me assustar — e obteve sucesso.

Como seria lidar com uma bruxa? Sim, era Mia, mas o quão poderosa era ela? Os arcanjos eram realmente tão fortes assim? Eu sequer tinha alguma chance sendo um mero meio-demônio? Lúcifer realmente queria que eu falhasse e fosse ao inferno? — Todas essas perguntas e muitas outras me atormentavam e, pensando nelas e em todas as possibilidades de respostas, cheguei rápido demais à casa de Nicolas.

Abri a porta silenciosamente e uma doce melodia encheu meus ouvidos. Um sorriso se espalhou pelo meu rosto quando vi Nicolas tocando piano e apenas me encostei na parede, admirando-o, evitando fazer qualquer barulho que o distraísse. Eu sabia que ele havia sentido minha presença por ser uma baalihan, mas ainda assim não queria interrompê-lo.

Seus olhos fechados, seu corpo se movendo como se dominado pela canção... Aquela cena me fez até esquecer das minhas preocupações.

Quando a canção parou, Nicolas abriu os olhos e olhou para mim intensamente, um sorriso brotando em seus lábios.

— Admirando a vista?

Eu balancei a cabeça e andei em sua direção, sentando-me ao seu lado e colocando meus braços em volta do seu pescoço num abraço terno, e então o beijei nos lábios.

— Senti sua falta — murmurei. — Você poderia trabalhar tocando piano em algum restaurante ou algo assim — Nicolas era realmente talentoso.

Seus olhos se iluminaram.

— Acha mesmo? — ele perguntou, num tom inocente que mais parecia uma criança, o que me fez rir.

Eu assenti.

— Claro, ouvi dizer que no próprio Filippo's estão procurando por uma atração para algumas noites durante a semana. Talvez seja a sua chance.

Ele meneou a cabeça.

— Talvez amanhã eu me candidate à vaga, se é assim — o meu demônio de olhos flamejantes se levantou e caminhou em direção à sala de estar, voltando rapidamente com uma pilha de livros.

Meu coração deu um pulo.

— Peguei alguns livros para você. Tem livros sobre o Trono e o Inferno, anjos, demônios, arcanjos, baalihan, nefilins, nefalens e criaturas sobrenaturais do lado do Inferno e do Trono.

Aquele tanto de informação fez a minha cabeça girar e eu soltei uma risadinha nervosa.

— Aconteceu algo hoje — eu puxei a barra de sua camisa, convidando-o para sentar-se novamente ao meu lado, ainda no banquinho do piano.