— Mas já que falamos disso, importa-se em responder-me algo? Como é possível que sua existência não tenha sido relatada antes? Por que o senhor não está no esquema das espécies de Darwin?
— Sigmund perguntou-me o mesmo... Ora, Darwin e eu não nos conhecemos... Como ele poderia me incluir em seus esquemas?
O analista satisfez-se com a explicação. Afinal, se o dragão dormia por cem anos, como dissera, não teria como ter encontrado Darwin, que era uma criança inglesa quando de seu penúltimo despertar. Isso levava a uma questão mais intrigante: talvez haja muita coisa que Darwin não tenha levado em conta em sua teoria... Talvez coubesse a ele, Klaus Geldgierig, desbancar Darwin! E ainda reescreveria a história da Europa através da identificação daqueles tesouros. Bendita curiosidade a sua! Foi por isso que ousou perguntar:
— E o que mais existe por aí que não sabemos? Os outros mitos são reais?
— É como vocês mesmos dizem: há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a vã filosofia. O universo não existe para os humanos. Vocês são apenas mais uma espécie inteligente dentre várias.
— Incrível... Então, existem sereias?
— Hmmrmm, e têm gosto de peixe.
— Ai, não acredito que você devorou uma sereia! — Ele ficou horrorizado; sempre gostara de histórias de sereias quando menino.
— Ora, tente fazê-las parar de cantar... Só assim consegui.
— E lobisomens?
— Fedem como cachorro molhado em dia de chuva.
— Vampiros também?
— Soube de um que é presidente hoje em dia...
— Isso tudo é impressionante demais. Nem sei mais o que dizer... Então, me tira uma dúvida. O Senhor já voou tanto pelo mundo, e bem alto... Sabe se a Terra é mesmo plana?
— Isso não, né! Donde saiu essa ideia louca?... — respondeu o dragão, surpreso.
— Deixa, é só algo que falam por aí. Isso de dragões, lobisomens e sereias serem reais me deixou desnorteado; e sempre me pergunto se a NASA não estaria escondendo algo, mas nem sei o quê...
Então caiu em silêncio. Parecia refletir sobre o que ouvira do dragão, mas continuava cada vez mais distraído com a coroa de Carlos Magno e outros objetos reluzentes que se misturavam à pilha das moedas. Foi a fera quem lhe tirou da quietude.
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O Dragão e o Analista
FantasiApós hibernar por um século, um enorme dragão vermelho acorda na cidade de Mitteltal, no Sul da Alemanha, trazendo pânico ao local. Para interromper os ataques às fazendas, ele exige que a cidade lhe envie um interlocutor que entenda as dores e os m...