VIII

51 4 3
                                    

— Mas já que falamos disso, importa-se em responder-me algo? Como é possível que sua existência não tenha sido relatada antes? Por que o senhor não está no esquema das espécies de Darwin?

— Sigmund perguntou-me o mesmo... Ora, Darwin e eu não nos conhecemos... Como ele poderia me incluir em seus esquemas?

O analista satisfez-se com a explicação. Afinal, se o dragão dormia por cem anos, como dissera, não teria como ter encontrado Darwin, que era uma criança inglesa quando de seu penúltimo despertar. Isso levava a uma questão mais intrigante: talvez haja muita coisa que Darwin não tenha levado em conta em sua teoria... Talvez coubesse a ele, Klaus Geldgierig, desbancar Darwin! E ainda reescreveria a história da Europa através da identificação daqueles tesouros. Bendita curiosidade a sua! Foi por isso que ousou perguntar:

— E o que mais existe por aí que não sabemos? Os outros mitos são reais?

— É como vocês mesmos dizem: há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a vã filosofia. O universo não existe para os humanos. Vocês são apenas mais uma espécie inteligente dentre várias.

— Incrível... Então, existem sereias?

— Hmmrmm, e têm gosto de peixe.

— Ai, não acredito que você devorou uma sereia! — Ele ficou horrorizado; sempre gostara de histórias de sereias quando menino.

— Ora, tente fazê-las parar de cantar... Só assim consegui.

— E lobisomens?

— Fedem como cachorro molhado em dia de chuva.

— Vampiros também?

— Soube de um que é presidente hoje em dia...

— Isso tudo é impressionante demais. Nem sei mais o que dizer... Então, me tira uma dúvida. O Senhor já voou tanto pelo mundo, e bem alto... Sabe se a Terra é mesmo plana?

— Isso não, né! Donde saiu essa ideia louca?... — respondeu o dragão, surpreso.

— Deixa, é só algo que falam por aí. Isso de dragões, lobisomens e sereias serem reais me deixou desnorteado; e sempre me pergunto se a NASA não estaria escondendo algo, mas nem sei o quê...

Então caiu em silêncio. Parecia refletir sobre o que ouvira do dragão, mas continuava cada vez mais distraído com a coroa de Carlos Magno e outros objetos reluzentes que se misturavam à pilha das moedas. Foi a fera quem lhe tirou da quietude.

O Dragão e o AnalistaOnde histórias criam vida. Descubra agora