Segue o baile

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POV Carmem

" Acorda, Maria Bonita, levanta, vai fazer café... Que o dia já vem raiando e o Cirinho já tá de pé !

A cantilena horrível me despertou de um sonho lindo que estava tendo com o homem por quem me apaixonara.

Espreguicei e pus os dois pés nos chão. Me enfiei no banheiro e fiz o mínimo de higiene, pelo bem da minha dignidade - porque a vontade era a de mofar na cama o resto da vida.

" Onze horas da manhã !" - Gomes anunciou.

Ciro ainda estava ali? Ele me aguardou acabar de escovar os dentes cantarolando, segurando a bandeja de café da manhã.

" Como era esperado e inevitável, o seu amado Nandinho teve que ir. Oxe, ele é não é bom da cabeça, não, viu? O turco embromou pra te largar na cama. Foi embora com o sol quente já. Periga seriamente aparecer a carocha dele na imprensa já, já"

Ele cumprira o que prometera. Dormira a noite toda comigo... Me odiei por ter o sono de pedra e não ter despertado na madrugada para fazer e receber carinho debaixo dos lençóis...

Apoiou a bandeja numa mesinha lateral, me servindo o café. O odor da bebida quente invadiu minhas narinas, o cheiro que usualmente me estimulava me deu engulhos.

" Eita preula. Mal trepou e já tá prenhe. Você deixou ele gozar dentro, miga, sua louca?"

Sacudi a cabeça negativamente. - " Porra de gravidez acelerada seria essa, não tem nem doze horas que eu transei... Mas respondendo sua pergunta, não, ele gozou na minha boca."

" Diacho de homem sortudo... Mas fale menos e coma mais, deve estar brocada de fome."

Engoli sem mastigar pequenos pedaços aleatórios de frutas e pães. Não tinha ânimo de fazer porra nenhuma e me sentia um lixo.

" A senhorita acredita que eu já votei?"

" Pau no cu dessas eleições. Eu nem sei onde tá o meu título." - Respondi, o político prendeu o riso.

" Pensei que iria votar em Fernando."

" Eu não voto em esquerdista. E antes que venha me zoar, não é retaliação, não é dor de cotovelo. Apenas não voto." - Virei o copo de suco, tentando engolir o que mastigava. Meu amigo ocupou o lugar à minha frente, lançando mão de uma xícara de café.

" Tá bem, senhora reacionária... Dona Coxinha."

Em definitivo, não estava para brincadeiras aquela manhã.

" Seu cu. Eu sou preta. Não tem como ser de Direita."

" Indecisa ! Desce do muro !"

Nem me dei ao trabalho de responder. Catei o controle remoto e sintonizei no canal que mostrava a votação ao vivo.

Para completar meu mau humor, quem me aparecia posando para as câmeras, ao lado da digníssima esposa?

" Ui..." - Gomes assobiou baixo. Meus olhos arderam.

" Eu disse que eles iriam se reconciliar. Só não sabia que seria tão rápido..."

" Omodeuso, vem aqui com seu Cirinho... " - Levantou-se de seu assento e me abraçou por trás, beijando meus ombros.

" Desconta em mim, vai... " - Sussurrou - "Se consola comigo, violoncelista... Toca minha flauta que eu te faço cantar como os anjos..."

Não havia clima.

" Já fiquei tempo demais aqui." - Respondi, passando o guardanapo pelos lábios. - " Segue o baile !"

Slave of love - Haddad + Ciro + Personagem OriginalOnde histórias criam vida. Descubra agora