Aliado ou inimigo?

176 15 27
                                    

POV Fernando Haddad

Adentrei furtivamente o elevador, torcendo para não ser captado pelas lentes de algum paparazzi ou intrometido mesmo.

Um nó subia e descia na garganta, meus instintos me gritavam que havia algo de errado,

O PT lidava com adversários que não titubeavam em lançar mão de fake news, para me clicarem entrando no hotel à noite e publicar com alguma legenda infame eram dois palitos.

Apertei o botão de número 13. Ansioso, o pé batendo de leve no piso brilhante, aguardei até a porta se abrir.

" Hum. cobertura." - Observei, seguindo pelo corredor. Não houve como não notar a decoração cara, embora exagerada e de gosto duvidoso.

" E dizem que o crime não compensa." - Analisei, com um travo de amargura. Achei por bem conferir na mensagem se era aquele mesmo andar. Não podia mais cometer nenhuma gafe.

Antes que tocasse a campainha, a porta se abriu e um rosto conhecido surgiu por detrás dela.

"Ciro Gomes? Você que é o..."

" Oxente, seu cabra, se eu ia marcar encontro com macho em hotel !" - Se escusou, falando aos sussurros, gesticulando que eu entrasse.

Não era para o ex-adversário estar na Europa? Não fora isso que noticiou a imprensa? Quando comecei a questionar isso, cruzando o indicador nos lábios ele me mandou entrar e ficar quieto.

" Não dê munição à imprensa marrom, você sabe que eles querem o seu couro, lesado! Vai ficar aí plantado feito um pé de pau?" - Falou cuspindo as palavras.

Obedeci ressabiado. Ouvi a porta se fechar atrás de mim. A sala era ampla, decorada com papel de parede em tons vermelhos e dourados, um festival de breguice.

A um meneio de cabeça, Ciro me indicou uma poltrona. Sentei-me com a mente em polvorosa.

Sem nem me perguntar se eu queria beber, Gomes me colocou um copo com whisky nas mãos.

Eu não tive ânimo de nem sentir o cheiro daquilo.

" Faria muito sentido você ser o Kaiser. Meteu o pé do país e não quis apoiar o PT no segundo turno..." - Disse eu de súbito, quebrando o silêncio. O rosto até então tenso do outro se abriu num sorriso.

" Kaiser? Foi esse o nome que lhe deram? Kaiser?

" Foi, qual a graça, porra? "

O mais velho tomou um gole do próprio copo, se engasgando de rir. Sorvendo fôlego, replicou, suspirando.

" Nesse caso, eu acho melhor você beber. Ou não. Não beba muito ! Cachaça demais nesses casos prejudica o desempenho do cabra."

Apertei as pálpebras, o desgosto tomando a forma de dor física no meu estômago. Eu ia mesmo ter de fazer sexo com um homem?

Embora nutrisse todo respeito do mundo pelos LGBTQ, e urgisse em protegê-los, aquela definitivamente não era a minha praia.

" Tudo o que eu quero é servir à democracia do meu país." - Disse a mim mesmo, tentando me consolar. Pedi mais uma dose.

" Olha, assim o bingulim não sobe..." - Provocou.

Fiz um muxoxo - " Nunca decepcionei ninguém, não há de ser agora." - Recebi o copo e o virei em um só gole. - " Eu vou dar uma surra de piroca nesse cara."

" Esse cara?" - Ciro repetiu - "Não é exatamente um homem, homem por assim dizer."

" Uma trans, já entendi." - Encolhi os ombros.
-" Que seja. Só quero que isso acabe logo. Vamos, atire-me aos leões." - Fui me erguer da poltrona, cheio de coragem, mas o chão faltou um instante. Minhas vistas escureceram.

" Perdão, amigo... Mas se eu não obedecer às ordens sobra pra mim também...
E não vou poder nem pagar com rola, porque a mim ela não quer.

A garganta estava fechando, tentei engolir o ar, sôfrego como um afogado.

" Ela?! Kaiser é uma mulher?" - Foi o que consegui dizer antes de apagar.

Slave of love - Haddad + Ciro + Personagem OriginalOnde histórias criam vida. Descubra agora