Kaiser

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Na véspera do segundo turno das eleições nacionais, os candidatos a presidente e vice presidente pelo Partido dos Trabalhadores se reuniram na sede do comitê para uma reunião de última hora, solicitada pela feminista gaúcha.

Ela pedira privacidade e discrição para tratar com Fernando Haddad, a portas fechadas, sobre um comunicado eletrônico que chegou de madrugada em sua caixa postal do e-mail profissional.

" Eu vi que foi você quem me mandou, mas nem abri." - O homem deu de ombros, apoiando-se no espaldar da poltrona de couro. - " Como encaminhou a mensagem que era de um e-mail que desconheço, não quis ler." - Fez um gesto evasivo.

Uma das primeiras coisas que pessoas públicas e famosas aprendiam, para seu próprio bem, era não abrir mensagens de remetentes ignorados. A mulher sabia bem como funcionavam essas coisas, ainda mais em época de eleição.

Pululavam abobrinhas de todos os tipos, desde ameaças a pedidos descabidos, mas nunca nada que com que se valesse a pena perder tempo.

Manuela D'Ávila não era tão novata na política para ter se esquecido daquela regrinha preciosa. A jornalista continuou a amamentar a filha, ouvindo, contrariada, Fernando Haddad a criticar.

" Que pena que você não leu. Então eu vou lhe fazer essa caridade." - Pigarreou, acomodando melhor Laura no colo, relatou em voz alta a mensagem que leu a partir do navegador do telefone celular.

O moreno ergueu o sobrolho ao término da narrativa, entre decepcionado e aborrecido.

" Você me tira cedo da cama por uma brincadeira dessas? Ir a uma reunião num hotel com um louco qualquer com nome de cerveja ruim, um cidadão que ninguém sabe de qual buraco saiu? Ô, Manuela... Tá de sacanagem que tu tá levando essa porra a sério?

Manu suspirou, pondo o aparelho sobre a mesa onde Haddad espalmara as mãos.

" Bem... Como eu vou lhe explicar isso... " - Disse pausadamente, ajeitando os cabelos lisos escuros num movimento de cabeça. - " Talvez você não se recorde do Candinho, amigo meu da faculdade, eu te apresentei na festa na Mônica, uns dois meses atrás... Lembrou?"

Cândido não exatamente era má pessoa. A bem da verdade, o tipo de gente que deveríamos manter bem por perto, graças às suas habilidades acima da média de burlar sistemas de computador.

" Tá." - Fez Haddad, estalando os dedos. - " O hacker, lembrei." -  Fez um meneio positivo.

Cândido contava com muitos contatos nesse meio, mais do que gostaria e poderia admitir em público.

" Enfim... ele deu uma olhada no endereço de e-mail e garantiu que procede." - A candidata concluiu, distraidamente afagando os cabelos cacheados da filha. Estava cansada, física e mentalmente, com zero de paciência para a birra de um homem crescido.

" E...?"

Manuela engoliu em seco para não soltar um palavrão na frente de Laura.

" Foi mesmo Kaiser quem me remeteu. E se não lhe preocupa nem faz medo um homem que invadiu o sistema da Nasa, do FBI, que está por trás de compra e venda de armas nucleares e é íntimo de Kim Jong-un, eu acho melhor cancelarem as eleições, não as só Brasil, mas as do mundo, e te darem o cargo de presidente do planeta !" - Disparou, subindo a voz, dando um tapa no braço da poltrona, a pequena ensaiou um choramingo, a mãe a embalou rápido.

O advogado pestanejou, ainda atônito, tentando processar a quantidade de informações.

" Não..." - Abanou o indicador. - " Continua não batendo. " Um homem tão poderoso assim não se daria o luxo de pedir algo a um simples candidato à presidência de um país de terceiro mundo. Candidato esse que, aliás, está perdendo nas pesquisas de intenções de voto !" - E, resoluto: -" Isso é alguma pegadinha suja do Bozo !"

Manuela soltou um longo muxôxo, jogava a toalha, aquela pica não era dela. Tinha uma filha para criar, e se tinha algo que a vida lhe ensinara fora não a se meter em briga de cachorro grande.

" Faça como quiser. O homem quer vê-lo no endereço que lhe passei, e... Ora, cala-te boca ! - Estapeou os próprios lábios - "Não me meto mais ! Bom, o recado está dado !" - Levantou-se com cuidado, segurando a bebê enrolada numa manta xadrez.

Fernando abriu a boca para continuar a reclamar do adversário quando o seu celular acusou sonoramente o recebimento de e-mail.

" Não acredite nas pesquisas. Você não está perdendo. Mas amanhã nenhuma urna eletrônica computará um voto sequer seu se não comparecer a nosso compromisso - E de bônus, posso lhe proporcionar detenção e inelegibilidade por oito anos. Obs: Isso não é uma pegadinha suja do Bozo. Não sou de forma alguma esquerdista, mas também nem tanto à Direita, rsrsrs."

Um silêncio tenso e pesado se abateu no ambiente. Manu pestanejou rápido. Já passara da hora dela abandonar o navio.

" Bom dia, então, eu já vou indo, caríssimo. Boa sorte lá."- Disse, retirando-se do recinto e deixando um atônito Fernando Haddad para trás.

Slave of love - Haddad + Ciro + Personagem OriginalOnde histórias criam vida. Descubra agora