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Sofia,

A divisão da cama no primeiro dia não nos pareceu complicada. Tínhamos feito tantas atividades emocionantes e acabamos bebendo um pouco na boate, o que só contribuiu para que eu desmaiasse antes que ele saísse do banho. No mais, a gente se conhecia. Brincamos muitas vezes na piscina da casa dos D'Angelis, e talvez agora, ciente das preferências sexuais do Mark eu entenda o porquê, o Mark nunca ter feito algum tipo de brincadeira ou tomado liberdades com a gente. Quando digo "a gente", me refiro às demais garotas que sempre estavam com a irmã nos banhos de piscina e festas para as quais éramos convidados. De certa forma isso me deixava muito segura. Afinal, sempre dividi a cama com minha tia.

Engraçado que durante os dias que ficamos em Londres, por vários momentos, vendo o Mark tão solicito, e prestativo, e posso dizer que até gentil e carinhoso, longe de ser aquele garoto chato e intrometido, eu me peguei imaginando... "E se fosse verdade? "

─ Como quer aproveitar sua última noite em Londres? ─ Ele se deitou ao meu lado, usando uma calça jeans e camiseta azul. Eu tive comigo naquele momento que nunca mais esqueceria o aroma de sua loção pós-barba. E tive que repreender meus pensamentos que insistiam e trazer ideias de como era a vida de recém-casados. E de "como seria nossa vida de casados se tudo não fosse uma farsa?". Então me levantei e fingi olhar pela janela da cobertura, que dava vista para o Hyde Park.

─ Na verdade, ─ voltei-me para ele. ─ Eu não queria que fosse nossa última noite aqui. ─ Ele fez um semblante risonho e se ajeitou ao travesseiro. E eu pensei... O que estaria acontecendo comigo? Minha tia dizia tanto que os pecados por omissão ou pensamentos, tinham o mesmo peso que os atos. E eu estava ali, simplesmente traindo tudo o que sentia pelo Lian, tendo pensamentos com seu irmão. Pensamentos estes que sabia que nunca se realizariam.

─ Podemos alugar um apartamento aqui por perto e não dar o endereço a ninguém. Teríamos dois cachorros até que vissem nossos filhos, ─ eu sorri. Ignorando-me ele prosseguiu. ─ E depois quem sabe, um ou dois filhos e um cachorro. ─ O Mark tinha esse senso de humor. Brincava com tudo na vida. Principalmente com o coração das pessoas. Lembrei-me de toda confusão que havia se instalado em mim, e decidi que era momento de falar à sério com ele.

Suspirei fundo, e me sentei novamente aos pés da cama, muito próximo a ele e por fim, tive coragem.

─ Por um momento eu cheguei a desconfiar que havia brincado com meus sentimentos, inventando tudo o que seu irmão poderia ter dito durante todos esses anos a meu respeito. Fiquei surpresa com o casamento dele. Quer dizer... Mais decepcionada que surpresa. Por que se casar sem que ninguém soubesse? E depois de deixar claro que havia uma esperança para nós? Fiquei confusa. Talvez você não entenda porque nunca tenha se apaixonado de verdade, ou não na idade em que me apaixonei por seu irmão. Espero que esse tempo em que iremos passar juntos, não seja difícil. Me desculpe.

─ Te entendo. Eu no seu lugar teria feito o mesmo.

─ Claro que teria. Tanto que minutos depois de me trazer de volta para casa, sumiu quando soube que sua família sabia de sua opção sexual e sobre... ─ Eu tinha ido longe demais. Mesmo que durante um tempo a gente conversasse sobre tudo na vida, agora parecia frio e distante e eu não tinha o direito de entrar em assuntos que não me diziam respeito. O olhar dele se fixou no teto e eu fiquei surpresa ao ouvi-lo, mesmo que sem olhar para mim.

─ É como se a gente tivesse vivido uma cena de um filme, ou vivido a história de outra pessoa. Imagina descobrir que você amou uma farsa. Minha mãe não era minha mãe. Meus irmãos não eram meus irmãos. Não dos mesmos pais. E de troco descobri que sua mãe não te quis, te abandonou.

Todos os caminhos me levam até você!Onde histórias criam vida. Descubra agora