Sofia,
Quando cheguei ao hospital, mal tinha colocado a mão à maçaneta, fui praticamente empurrada pela enfermeira.
— Onde pensa que vai?
— Ah, sim! — Mostrei o crachá. — Estou de acompanhante do paciente. — O rapaz que estava com ele inclusive, posso garantir, não estar mais aí dentro.
— Posso perguntar, onde estar sua mascara? — Nesse exato momento ela foi retirando uma luva do bolso e calçando, e em seguida colocou uma mascara branca.
— Poderia conseguir uma dessas para mim?
— Você mesma pode conseguir a sua no posto três. E quando entrar, faça-me o favor de não se assentar na cama do paciente. — Ela me indicou onde ficava.
Teria que descer um corredor, ao lado oposto por onde eu tinha subido. Virar a esquerdar e depois a direita para conseguir a luva. Parecia fácil durante a explicação. Mas enquanto eu caminhava pelo "tal corredor" não me lembrava dela ter me explicado do bendito corredor ser tão escuro e medonho. Era como se a qualquer momento alguém, alguém a qual a minha imaginação se referia era um morto, ou algum corpo envolto em faixas, fosse surgir bem perto de mim. E eu me vi andando bem mais rápido, tanto na ida, quanto na volta, depois de conseguir a bendita máscara. Eu não entendia o porquê de usar mascaras, já que todos sabiam que a tuberculose não pegava assim, pelo simples contato.
Quando entrei no quarto, ele logo se apressou de colocar sua própria mascara. E quanto me aproximei de uma poltrona, foi nosso primeiro contato, antes mesmo de um cumprimento civilizado.
— Por favor... Aquela! — Ele mostrou uma poltrona bem mais distante. O que estava pensando? Que daquela distância teríamos condições de mantermos uma conversa civilizada?
Deixei a bolsa onde havia colocado, e sentei-me, ali! Cruzando as pernas e fixando meus olhos nos seus. Meu coração estava cortado de tanta tristeza. E eu orava a Deus naquele momento para que ele não pudesse sentir a minha dor ou ouvir as preces que meu coração fazia em seu favor. Eu tentei disfarçar a todo custo que sua magreza não me incomodava.
— Não finja que liga para mim nesse instante Mark, porque sei que não se incomoda com o que penso. Como que acho. E muito menos com o que sinto. Principalmente com o que sinto.
— Sofia...
— Não tem nada de Sofia. A verdade é essa. Se se importasse comigo, não estaria aqui. Não sozinho com o Bento. Não sem minha presença. Ou pelo menos sem meu conhecimento.
— Isso mesmo! Está aqui por insistência do Bento! Queria ter poupado você de todo processo desgastante de cuidar de um tuberculoso.
— E mudou de ideia só porque o Bento insistiu.
— E me arrependo amargamente. — Quando ele se virou para o lado da janela, eu senti que estava sendo injusta com ele. Não sabia seu real estado. Não sabia sequer o verdadeiro motivo pelo qual ele havia me chamado. E se estivesse prestes a morrer.
Meu Deus! Me arrependi naquele mesmo instante. As lágrimas vieram aos meus olhos, e me lembrei de todos os dias em que chorei sozinha naquele apartamento clamando sua volta. Pedindo a Deus que ele desse ao menos uma notícia de onde estava.
Me levantei e fui até a beira de sua cama, quebrando a promessa de não me aproximar dele, feita à enfermeira.
— Tudo bem, Mark! Eu não vim aqui para brigarmos! — Quando eu me sentei, à beira da cama, ele praticamente me empurrou.
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Todos os caminhos me levam até você!
RomanceNem sempre existe uma terceira pessoa ao fim de um relacionamento. Talvez o que exista sejam sonhos antigos. Deuses ultrapassados, aos quais nos apegamos. Príncipes que jamais existiram, mas que sempre nos impediram de ver nossas possibilidades em n...