O que não se pode perdoar

14 3 6
                                    

Edit: Geralmente não digo para ouvirem a música, mas esse capítulo escolhi especialmente para a ocasião.

Joshua

Entro na sala e não consigo encarar Kate imediatamente, olho o ambiente que chega a ser agoniante de tão limpo e claro, puxo a cadeira me sentando em frente á ela, levanto meus olhos e ela me encara, sinto um nó se formando em minha garganta vendo sua expressão, limpo a voz e vejo como ela está desconfortável com a situação. Passo a mão pelos cabelos e ela solta um riso nervoso.

- Não perdeu os velhos hábitos, sempre faz isso quando está desconfortável. – ela diz e abaixa a cabeça.

- Como está se sentindo? – digo tentando iniciar a conversa de forma mais natural o possível.

- Me sinto melhor. E você e Julie estão bem?

- Sim.

- Joshua... Eu preciso te contar uma coisa muito importante, mas não sei como começar...

- Se não está pronta não precisa falar, eu entendo que seja difícil... Pra nós dois.

- Eu preciso que saiba o que eu fiz. Quando eu soube da gravides entrei em pânico, eu sabia que você era bom demais pra mim e que nunca me deixaria na mão... – ela esconde o rosto entre as mãos, vejo que as lágrimas dela descem pelo queixo e me preparo para o que ela vai dizer. – Quando eu ia te contar sobre o bebê, cheguei ao seu escritório e você estava com seu pai, talvez não se lembre, mas ele sugeriu que se casasse e eu por um momento fiquei feliz, pensei que poderíamos ter uma família e viver como pessoas comuns, mas Joshua você nunca foi alguém comum e quando cheguei ao salão percebi que não seria capaz de ser esposa e mãe de um Callun, agi por impulso, por egoísmo... Quando fui atropelada tinha terminado a cirurgia de... Eu... Eu... – sinto a raiva subindo pelas minhas veias, serro meus punhos e deixo as lágrimas descerem amaldiçoando a mim e a Kate.

- Você não tinha esse direito... VOCÊ NÃO PODIA TER FEITO ISSO KATE! – grito e ela soluça totalmente entregue a dor, não consegui encara-la, estava com nojo, ódio... Nunca á perdoaria, nunca perdoaria uma assassina... Meu filho que eu nunca conheceria, não saberia como era seu rosto, não o veria caminhar... Parte de mim havia morrido, não sabia como me reerguer.

- Eu lamento tanto... Lamento tanto por tudo que eu fiz, por culpa-lo todo esse tempo, lamento tanto Joshua.

- Eu não quero nunca mais te ver... Espero que nunca mais apareça na minha frente. – saio da sala e encontro Julie andando de um lado para o outro, assim que me vê ela corre até mim e me abraça sem perguntar nada, apenas fica ali me segurando contra ela enquanto eu desabo nela, sentindo cada osso do meu corpo se partindo.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Kate

Depois de me ouvir repetir infinitas vezes o que eu havia feito com meu filho, me sinto suja, deplorável, lembro-me das palavras de Joshua e do quanto o machuquei durante esses anos todos, penso em maneiras de viver, mas a dor que me consome é mais profunda que nem mesmo o melhor medicamento me curaria, não sinto vontade de continuar, cada partícula do meu corpo grita por paz de forma desesperada.

A enfermeira entra com os medicamentos e a comida, encaro o prato sem fome e exausta tomo os remédios me deitando. Acordo não sei exatamente quanto tempo depois e me viro à comida ainda está lá, pego o garfo e jogo a comida dentro da bandeja, encaro o prato de vidro como minha ultima visão... A última coisa que verei antes de morrer.

Com meus olhos quase fechados vejo uma poça de sangue se formando, meu corpo dói e aos poucos paralisa, não sinto minhas pernas, meus braços e por fim apago...

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Joshua

Corro para o hospital passo por enfermeiras procurando freneticamente o quarto de Kate, as enfermeiras me dizem o número do quarto, mas parece que nunca vou encontra-lo, quando vejo o número paro em frente à porta criando coragem para entrar. Abro a porta e ela está deitada desacordada, vou até ela que abre os olhos e tenta me identificar.

- Por que fez isso? Por que ir tão longe? Kate? Por quê? – meu peito aperta vendo-a naquele estado, tão pálida e com aparelhos ao seu redor, pego a mão dela e vejo seu pulso cortado, desvio meus olhos do ferimento e volto a encara-la. – Eu te perdoo, mas, por favor... Lute.

Ela tira a máscara de oxigênio mesmo eu tentando impedi-la.

- Eu sint...O muito Josh... Não sei como... Como viver com essa culpa. Me perdoe... – coloco a máscara de volta e acaricio seus cabelos.

- Eu te perdoo, e sei que te devo desculpas também... Não fui bom o bastante... Perdão Kate... – ela acena com a cabeça e seus olhos se fecham, os aparelhos apitam e logo o quarto fica cheio de médicos e enfermeiras que me empurram para o lado, sinto braços me puxando dali e desnorteado sinto meu peito se abrir, meu cérebro grita que ela está morta... Kate morreu na minha frente.

Música: nf\\ Can you hold me Ft Britt Nicole

Boa Leitura!

The road to the happy endingOnde histórias criam vida. Descubra agora