Lar Doce Lar

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O sol ameaçava trazer o dia à nós quando estavamos chegando na cidade. O clima não poderia estar pior, eu continuava a dirigir, e Elly usava seus poderes para ajudar Thomas a voltar a si, o que a deixava muito cansada. Ele já estava consciente, mas suava frio, aparentava ter delírios porque falava sobre uma mulher que estava tentando matá-lo.

Chegando nos limites da cidade, algo veio em minha mente, se os policiais nos parassem e vissem Thomas daquele jeito poderíamos ter sérios problemas.

- Eu vou parar o carro pra que você vá com Thomas lá pra trás!

Por um segundo, ela pareceu pensar em relutar mas em seguida entendeu o que eu tinha dito.

- Tudo bem. Pare bem alí!

Assim, ela apontou para um amontoado de árvores no canto da estrada. E foi o que fiz.

Colocamos os braços de Thomas sobre nossos ombros, o que foi muito doloroso, porque eu ainda sentia o ombro ferido, por ele. Colocamos ele na parte de trás do carro, deitado, em meio a lençóis, e Ellysa se encostou ao lado dele para fazê-lo companhia. Vê-lo daquele jeito tão debilitado, me fez repensar em meu rancor em relação a ele, porém, sei que assim que Thomas voltar ao seu bem estar, voltará a ser aquele garoto mesquinho e insuportável, comigo.

Deixei os dois sozinhos lá atrás, despertando um pouco do meu ciúme. Fui para o banco do motorista e voltei a dirigir, (eu não aguento mais fazer isso). Entrei na cidade. Por um milagre não havia nenhum polícial para nos parar, mas pelo menos com os dois lá atrás, evitamos olhares curiosos daquela cidade pacata.

Quando cheguei em casa, entrei direto na garagem, para que ninguém pudesse ver os dois. Por sorte, meu pai ainda estava trabalhando, ou seja, o carro não estava na garagem e meu pai não estava em casa para me afogar em perguntas.

Abri a parte de trás, e por incrível que pareça, Thomas aparentava estar bem melhor, apenas suava e demonstrava fraqueza (justificada pela fome). Ele saiu de lá apoiado nos braços de Elly, e com um rosto péssimo. Deixamos ele sentado em um sofá velho e mofado que ficava na garagem. E fomos respirar um pouco lá fora.

- O que faremos com ele? - Perguntei.

- A noite, antes que seu pai chegue, vou levá-lo pra casa da vó dele.

- Nessas condições? Eu não gosto dele, admito. Mas o estado dele me deu até pena.

- Fica tranquilo, ele só precisa tomar um banho e comer. Já está totalmente consciente, e vai ficar bem.

- Se você diz...

- Ele é filho de Poseidon, um banho vai resolver tudo! Sem contar que depois de comer, vai recuperar a força... Ah! Falando nisso, posso pegar alguma coisa na sua cozinha pra ele?

- Hmm, claro... - Eu disse relutante.

Elly saiu e foi em direção a casa, me deixando sozinho com Thomas.

- Leo? - Uma voz fraca e rouca me chamou de dentro da garagem, Thomas.

- O que? - Disse olhando para ele.

- Pode vir aqui?

Me desencostei da parede e fui na direção dele. E ao chegar lá, esperei que ele falasse.

Thomas parecia amargo e triste, até relutante.

- Obrigado...

Me assustei com o que ele disse.

- Nossa... Mas, pelo quê?

- Elly me contou o que você fez, salvou minha vida!

- Acredite, não foi só por você!

- Ah qual é? Por quanto tempo vai ficar insuportável assim? Eu tô tentando ser legal!

- Devia ter feito isso a mais tempo... Mas por nada.

- Foi mal - E colocou a mão no meu ombro bom - Mudando um pouco de assunto, como você conseguiu levantar minha espada?

- Ela era só muito pesada, mas era suportável! Sem contar que se eu não fizesse isso... Nós não estaríamos aqui! E porquê a surpresa? Sou tão magrelo assim?

- Não é isso! Mas é que ela é um item divino, feita pra mim, ninguém pode levantá-la...

Antes que ele continuasse, Elly apareceu na garagem com uma garrafa, provavelmente com suco e três sanduíches de pasta de amendoim e geleia. Um deles já estava comido pela metade, presumi que fosse o dela. Assim que se aproximou de nós, entregou um dos sanduíches a mim, e o outro a Thomas. Deu um grande gole no suco, e passou a garrafa para Thomas que após dar grandes goles famintos me entregou o suco, dei um gole faminto percebendo que era suco de maçã.

Comemos e bebemos toda garrafa de suco, quando estávamos saciados, levamos Thomas para cima, para que ele tomasse banho.

Deixamos ele no banheiro e fomos para a cozinha, conversar.

- O que vai fazer agora?

- Eu estou montando uma armadilha para Joel, e quanto maior, será mais difícil de escapar. Eu já tenho a carta e os documentos. Nessa próxima semana, vou falar com o cara que matou meus pais, e vou convencê-lo a confessar que fez o que fez, a mandado de Joel. Assim o entregarei direto para a polícia, e ele já era. Vai apodrecer - então esmurrou a bancada que estava sentada - na cadeia.

- É um bom plano. Mas e se... Ele descobrir?

- Ele não vai, só não vai.

- O.K.

Conversamos sobre o plano dela, e eu quase falei sobre o que ouvi de Thomas, que ninguém consegue levantar a espada dele, mas eu consegui. Porém, ele saiu do banheiro usando roupas minhas, e totalmente bem. Parecia até que nunca tinha sido quase morto, por um Leão de Quimera.

- E ai? Posso ir agora?

- Uau já? - Elly perguntou, mas sem parecer impressionada.

- Claro! - Thomas disse sorrindo.

Então Elly pegou as chaves do carro que estavam sobre a mesa, e me abraçou:

- Muito obrigada! Você foi a melhor pessoa do mundo nesses últimos dias pra mim... - Disse isso em um tom mais baixo.

Eu retribuí o abraço com forca, dizendo:

- Você faria o mesmo por mim!

Então ela me soltou, sorriu e saiu em direção a garagem. Mas Thomas esperou que ela saísse da cozinha, chegou mais perto de mim e disse:

- A nossa conversa não acabou! Quero saber como fez aquilo!

Antes que eu respondesse, ele me deu as costas e saiu em direção a Elly.

Me deixando sozinho, depois de tanto tempo.

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