Cartas à Senhorita

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De imediato, peço-lhe perdão. Não cumprirei nossa promessa, mas sei que continuará me amando mesmo após o feito. A lâmina está apoiada na ponta dos meus dedos, esperando a força na pele, prestes a injetar agonia em minhas carnes.

Lembro-me de um dos nossos curtos encontros, na qual me fez o singelo pedido de levá-la comigo. Pretendíamos pular da montanha de mãos dadas, prontos para o mergulho da morte. Mas não quero arrastá-la ao inferno. Não posso. Digo-te obrigado, sempre me acompanhou em todas as provas desta jornada, que hoje chega ao seu fim.

Sentei-me contra a parede, com os olhos fixados no obscuro reflexo projetado na faca. A expressão era assustadora, um fantasma solitário, sem luz em seu interior. A vista sombria subiu para sua forma. O que fazia aqui? O objeto caiu das mãos ao me abraçar. Você apertou o punho prendendo minhas costas, laçando minhas carnes ao calor. "Fica, por favor...". Sua imagem desapareceu no sussurro proferido.

Precisava acabar com a dor. Mesmo que lhe causá-se dor também. Mais tarde a notícia chegará aos seus ouvidos. Quero que à receba antes. Por favor, suplico que não venha ao encontro do meu corpo. Apenas deleite-se à minha foto e não me mate dentro de ti.

Rascunhos SolitáriosOnde histórias criam vida. Descubra agora