Crônica 98

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O que eu quero para meu filho, desejo para meus alunos.

- Quero que meu aluno vire médico.Seria minha felicidade.

- Quero que minha filha seja juíza ou, quem sabe, engenheira.

- E o que vocês são?

- Professores.

- A classe média.

- A classe C subindo.

- Vocês sabiam que os filhos de vocês, mesmo tornando-se médicos teriam dificuldade de entrar, ou melhor, dizendo casar com pessoas de determinadas famílias?

- Mas de que família vocês são mesmo?

- Ah, desculpe! Vocês querem apenas que seus filhos sejam doutores para sentirem orgulho e para que eles não sofram com pouco dinheiro!

- Mas vocês podem ter sofrido a vida toda.

- Para eles (filhos) ,eu não quero isso.

- Qual a sua religião?

- Porque a pergunta?

- E as pessoas que estão nas ruas, vocês não se importam?

- É coisa de outra vida. São culpadas.

- Se eu tirasse um prêmio na Mega-Sena ajudava.

- Então você olha apenas para seu próprio umbigo e ao redor dele.

- Não, eu quero o mesmo para meus alunos.

- Então, como seria seu mundo?

- Teríamos apenas médicos?

- Onde é o seu salão de beleza?

- E sua empregada?

- Onde você leva seu carro?

- Ah já sei! Eles são apenas os outros.

- Eu não posso pensar diferente e desejar o melhor para outros.

- Claro.

- Mas a misoginia, a aversão a gays, negros nasce de tudo isso.

- Como assim?

- Você está alimentando com suas ideias e pensamentos retrógrados tudo o que você muitas vezes sente na sua própria pele.

- O preconceito, o elitismo e a diferença entre classes se alimenta destas ideias...

- E existe um antídoto?

- Sim

- A arte, a filosofia, os professores que fazem pensar, a música feita com cuidado e principalmente a dúvida podem destruir tudo isso.

- Espero

CRÔNICAS DE UM SOBREVIVENTEOnde histórias criam vida. Descubra agora