Quem come quem?

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Canibalismo: presos matam comparsa a facadas e depois ingerem o seu fígado assado na brasa. O que analisar? Primeiro observo que li os comentários que ficam abaixo da noticia e boa parte ironizava e dizia que seria bom assim seriam exterminados mais cedo. O brasileiro gosta de fazer piada de tudo. Isto é um fato. Segundo acredito que não devemos ficar assustados. Homem sapiens. Homem canibalis.

Em algumas situações geográficas e históricas este fato já aconteceu, em tribos ou porque determinado grupo ficou perdido na selva. O fato talvez marcante seja a questão dos presos estarem em uma instituição do Estado, o presídio, o que seria apenas uma forma de linguagem, porque todos sabem a barbárie que imperam em vários presídios. O ato de comer o que não somos habituados a comer geralmente causa revolta nas pessoas com relação a outros animais, que para nós são amigos ou filhos. Os presos são nossos amigos? Os chineses comem cachorro? Absurdo! Para os indianos comer vaca é um sacrilégio! E os vegetarianos? Vi uma reportagem sobre uma dieta de 21dias que as pessoas passam sem ingerir nenhum alimento. Achei interessante um relato que dizia como ele se sentia ao ver pessoas comendo açúcar, bolo e pão. Ele relatou que os via como drogados. A barbárie da noticia não esta em comer humanos. Está na degradação dos seres humanos que estão no presídio. Que vai de questões complexas como a ressocialização a outras mais simples, como o direito de defecar em paz. O direito à vida e à vida digna. Não sou dos direitos humanos. E logo alguns leitores vão pensar que eles não deram direito às vitimas e por isso devem sofrer. Assim, ficamos entre duas posições:vingança e perdão. Perdão muitas vezes soa a vaidade de quem perdoa. Vingança não nos tira o peso da dor, como bem nos tem dito os filmes norte americanos. Talvez o tempo e a duvida sejam as melhores armas para tudo isso. E, quanto aos presos, canibalismo, tortura, presídio... Bem, eles são os outros e nós, meu euro leitor, nunca nos solidarizamos ou nos damos bem com os outros.

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