4 - A casa do chefe

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- Sim, e ai eu peguei aquela pirada, dei um monte de tapas na cara dela, ela pedia mais... Mais... A criatura estava gostando - O chefe gostava de contar historias estranhas de sua estranhas namoradas, não importando quão demoradas estas podiam ser. - Meu tratamento com ela sempre foi este, mesmo. Duas coisas que começam com "p", e uma delas é porrada. Por todas as muitas vezes que nós nos encontramos. A desgraçada queria só dinheiro.

- Huuuum – dizia Regis entusiasmado, mas com uma coloração estranha na face.

-  Eu concluo que ela se tornou uma garota suja e medonha, sem limites.

- Ela não toma banho, chefe?

- Não João, ela não faz isso. Mas não é ao asseio que me refiro, e sim à eletricidade que eu encontrei nessas aventuras. Vocês sabiam que comer cabelo é saudável?! Pois bem... Agora é.

- ???

-  Ahh... Layla... Óleo de motor...

- Layla?! Mas chefe Layla não é o nome da sua irmã mais nova?

- Hein? – O chefe fez uma cara estranha, como se eu fosse a pessoa mais intrometida do mundo. Cheguei a perceber um cheiro acido e abafado saindo de sua boca. – Você acha que eu sou o quê?! Quantas Laylas pensa que existem??? Vou fingir que não ouvi esta asneira patética proferida por você, careca do inferno!

- Continue chefe! – disse Regis, parecendo um garotinho punheteiro de 11 anos.

- Onde eu parei?! Ha sim, ela não se chama Layla, me enganei. Chama-se Dalila. Conhecida também como Lalá.

- Lalá???

O chefe parecia apressado com algo.

- Cale-se seu careca insolente. Eu vou contar mais nada.

O chefe nos levou até o sótão. Bem, acho que ainda não descrevi a forma cônica que tinha a cabeça do chefe, perceptível mais agora que antes; isso não é realmente importante. Ele apenas nos levou ao sótão e falou coisas estranhas e doentias. O fim daquele dia seria bem mais esticado do que o que eu havia imaginado. Ninguém cairia mais na historia das hemorroidas lanciniantes que eu havia inventado na semana anterior. Não mesmo. Em dois tempos o chefe puxou uma foto de um novo desafeto: outro cara careca. Puta que pariu.

- Aqui está. fitem!

- Outro careca – disse Regis, com uma coloração mais estranha ainda agora.

- Não é só outro careca, sua ameba! Este é Flatus. Servimos juntos no exercito e no clube de bingo do recôncavo, na juventude. É um antigo desafeto meu, mas não deve oferecer resistência quando forem pegá-lo. Tragam-no vivo até aqui, pois tenho contas a acertar com ele o mais rápido possível. Eu mesmo iria lá, mas como tenho vocês sem atividades objetivas úteis no momento e como meus encarregados de honra, eu quero que vão buscá-lo. E antes de partirem eu quero que façam algo para mim. Elzo se matou no banheiro, com a carabina nova e está tudo uma porcaria só. Já que o João já está meio melado mesmo, seria bom me dar essa força. O retardado do Elzo foi limpar a arma e não percebeu que ela estava descarregada. Falando nisso, você, Régis, vocês tem passado pelo "desvio 66", não?

O que realmente se sucedeu:

Elzo era nada além de um maníaco e deprimido que tinha horror a sangue. O chefe o forçou a assistir filmes proibidos de tortura durante algum tempo, para treinamento com ênfase em preparação e tempero de carne humana para degustação e depois o levou ao DOICODI para que ele se familiarizasse com algumas partes de corpos. O método que o chefe utilizava para insistir sempre foi alegar o quanto isso era importante para os antepassados canibais indígenas dele, e que costumes devem ser preservados. O Elzo ficou estressado, com olheiras, e num momento de delírio se matou no banheiro. O chefe não queria mandá-lo de volta para casa, enquanto estava vivo, pelo simples fato de que Elzo realmente cozinhava muito bem.

Enquanto isso, enquanto eu limpava a sujeira e juntava o que sobrou da arcada dentaria do Elzo na pia, o principezinho do Regis apenas viajava em seu mundo de sonhos. Não, não era maconha. Era algo novo e caro que o chefe tinha conseguido de algum lugar próximo, da Colômbia ou de Cuba. Bem, mas se fosse de Cuba Regis estaria experimentando charutos. Ele não estava; eu apenas fiquei lá, deixando o chefe com seus obituários, Regis com suas viagens e o radio tocando um cara bêbado e boêmio. Definitivamente nunca tive oportunidade de trabalhar como faxineira, e poucas pessoas haviam me visto naquela situação. Nunca fui um cara de me importar com sujeira ou coisas do tipo, apenas achei que limpar um suicida já era demais.E nunca mais iria usar aquele banheiro. Eu continuei:

- Qual é a história, chefinho? - eu disse ainda usando o avental da velha balofa que só vinha a cada quinze dias.

- João, eu não devia, mas vou dizer. Flatus o e eu criamos uma conta na Suíça, uma conta conjunta. Tudo por causa de certa valise com dinheiro endereçado a certo político muito famoso, vinda lá daquelas terras frias do Alasca, como um presente de governo para governo. Agraciados pela sorte e pelo acesso especial, o qual no momento não preciso entrar em detalhes com vocês, acreditamos que naquele momento pegá-la-íamos como um favor a tal político, vez que, ele já detém muitos bens materiais. Porém estávamos enganados. As coisas estão mudando. Essa guerra maluca que aconteceu agora a pouco vai ser muito útil para nós e muita coisa vai mudar. Não estou nem aí para os países influentes! Quem tem o petróleo tem poder e eu sei como lidar com isso porque eu sei, eu vivi, passei a vida inteira trabalhando em coisas assim. Sei que se você andar um grau fora da direção você é apagado, mas francamente eu não estou nem uma vírgula preocupado com isso. Ninguém foi bem sucedido não arriscando na vida e ninguém lucrou com a bunda colada na cadeira comendo pipoca e quebra queixo. Eu não sou aquele ancião do saco que sequestra criancinhas malcriadas, mas sei como atrair bons ventos para mim, infantes.

- ?

-??

- Agora, ou melhor, sempre, desconfiei que o meu amigo, quer dizer, meu desafeto, estava ou talvez esteja sendo monitorado, mesmo morando aqui neste lugar onde Judas perdeu as pregas. Antes, em caráter de precaução nós dividimos o numero em duas partes, ele tatuou na região nadegal, vulgo rabo, esquerda, os quatro primeiros dígitos, e eu tatuei na direita o resto. No entanto esqueci qual era a sequência de números que existia na nádega dele, escrita em um código conhecido como Morse. Entenderam? MORSE. E como nos separamos e agora eu preciso do dinheiro, vocês, seres incapacitados e encefalicamente acima de suspeitas trarão o Flatus até mim! Entenderam?!

- Certo – disse Regis. – entendi até a parte em que ele tem uma tatuagem na bunda.

- Por fim isso não lhes é proficiente, só preciso que o tragam aqui. Deixem o resto comigo. Darei o endereço do cara a vocês e ambos irão lá ainda hoje. Eu não sei se ele é protegido por seguranças ou Dobermanns, sejam apenas discretos e não estranhem se ele já estiver esperando visitas. E não façam essa cara de idiotas, pois o dia está apenas começando para vocês!

- Certo chefe – às vezes, Regis falava a expressão "certo chefe" umas 1000 vezes por dia. O chefe gostava de falar cuspindo quando estava exaltado e era exatamente isso que estava se sucedendo naquele exato instante; a euforia do chefe era estranha, eu o respeitava, mas às vezes ele parecia patético. Bem, odeio interferir na viagem alheia, mas já estava se tornando prejudicial. Regis viajava demais para alguém tão novo, ele e os oficiais que forneciam a droga para o chefe. Nem o próprio chefe conseguia se divertir, pois perdia mais tempo juntando dinheiro de sua firma e pensando em quem iríamos apagar do que pensando em viagens transviadas pelas vias do inconsciente. Agora eu me concentrava apenas em quando aquele dia iria acabar e quando eu poderia me sentar e assistir o jornal. Eu sei que isso é um pouco boçal da minha parte, mas tudo o que eu queria fazer naquele momento era espancar alguns bailarinos, não por que eu não goste de teatro, mas pelo fato de que eles trabalham com o corpo e tem sempre aquelas mulheres lindas e dançando entre os caras. E eu sou preguiçoso demais para dançar daquele jeito, como eles.

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