7 - Nada mais que dinheiro

1 0 0
                                    


Regis era frequentador de um lugar chamado Casa Mameluca, na região dos antigos quilombos. Um lugar especializado em sessões de mesa branca, Espiritismo, Candomblé, práticas de meditação, Elementais etc. Para mim era apenas um bando de ladrões. Ele dizia fazer contato com seu falecido avô que só aparecia nas noites de lua-cheia. Tecnicamente, não era o velho. Mas era nisso que ele gostava de acreditar. Regis ia lá sempre às sextas-feiras, vestido de branco. O sujeito que o atendia era o Pajé Azulejo, um sujeito velho e gordo, que parecia colado numa cadeira de balanço. Ele vendia biscoitos de coco na feira e em boates clandestinas, e nas horas vagas fazia aquele serviço.

(simulação)

- Você não deveria ficar preocupado com isso. É normal! Meu neto, você deve entender uma coisa: Na vida existem diferenças entre nós, por mais parecidos que possamos parecer. Tem gente que nasce com o "fiofó" virado para a lua, e outros que só recebem no rabo a vida inteira. De forma continua e ininterrupta! Alguns acabam até gostando.

- Eu sei... Vovô.

- Apesar de tudo é preciso correr riscos, para não acabar pertencendo ao grupo dos bestas. Existem armas, meu filho. Para que pessoas como nós possam ter todo o controle da situação; ficar por cima mesmo sem ter dinheiro. Até os eunucos percebem isso: a vida não é nada além de dinheiro!

- Sim, vovô.

- Tudo por causa de um maldito... Um... Um ser gordo que apareceu na minha vida...

- Está falando da vovó?

- E de quem mais eu estaria falando?! Tudo foi por causa daquela desgraçada. Ela mudou o rumo da minha vida e me deixou na maior pobreza do mundo... Não tive um único momento bom com aquela criatura em toda a minha vida! E tudo isso para acabar velho, feio, com uma sonda enfiada no rabo e sem direito a um enterro descente!

- Mas pareciam bem felizes.

- Está louco?! Aquela mulher me obrigou a fingir que era maluco para me aposentar mais cedo, nas sessões de perícia eu tinha que me auto flagelar! E me fez arranjar um emprego ridículo e noturno, e ainda me obrigou a ir morar com os pais dela.

- Como assim?

- Isso não importa agora. Eu quero te pedir um favorzinho, certo?!

- O que é vovô?!

- Eu quero um pouco de incenso milagroso. O véio aqui também tem necessidades.

- ?

- Eu estou falando de erva, neto burro.

- Hoje eu não pude trazer nada, vovô. Vou fazer uma viagem de negócios muito seria, com o Vales.

- Neto ocupado. Andando com um sujeito barra-pesada.

- Não exatamente... Valles é legal... E é seu neto também!

- Eu ficaria feliz, muito feliz se alguém falasse: Regis é um descarado filho da mãe, um eunuco descarado. Mas está montado nos Cruzeiros!

- Eu também vovô.

- Ora, pare com esse drama falso e fale logo a verdade!

-Qual verdade?

- Tudo bem, se não quer dizer eu entendo, mas não tente me enganar. Sou um homem vivido e velho.

- Vovô eu realmente não sei sobre o que está falando!

A AlcatéiaOnde histórias criam vida. Descubra agora