Epílogo

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 Valles pareceu confuso por dois segundos, percebendo que João havia terminado. Então sorriu. Estava convencido de que aquelas palavras todas, proferidas em um par de horas e toda a baboseira junto eram possíveis. João, o careca infame, passara por situações das mais diversas para sem querer, chegar até aquele local. E de um jeito ou de outro era o que poderia se chamar de um sobrevivente. Régis não havia agido com muita cautela desde o início, preocupado com muitas coisas de caráter supérfluo. Isso tornou suas chances reduzidas.

- E então João foi assim que você veio parar aqui, no meio do nada, numa estrada à espera de uma carona – concluiu ele ainda sorrindo.

- Pois é Valles. Como eu disse, não matei o Regis. E todos estes fatores envolvendo o chefe serviram apenas para que eu e ele terminássemos por ir para a capital buscar o agora nosso dinheiro. E acho que serve como pagamento por ter sido um funcionário tão fiel ao chefe, como uma herança. E aí para minha sorte você surgiu aqui agora.

- Claro – disse ele com um sorriso maior. – É justo. Tenho que reconhecer, apesar de não acreditar muito, sua historia é bastante interessante, e pelo que alega, Regis foi o único culpado por tudo isso ter acontecido. Como de praxe. Acho que tenho que reconhecer que não houve culpa sua nessa história.

- Não era. Mas, e então? O que você pode fazer por mim? Se me der uma carona você será recompensado.

- Você não está armado, certo?

- Não. Como já disse, tenho apenas a arma. Nada de balas.

- Dê-me a arma.

João fez o que Valles pediu. Valles devia estar querendo conferir, pensou João. Mas o homem fez algo meio estranho. Valles tinha balas no bolso, as quais ele retirou e começou a colocar no tambor do 38, de cano longo reforçado.

- Muito bem, passe o numero para cá, agora! – Disse Valles, apontando a arma na direção do careca.

- Porra, pode confiar em mim.

- Não entendeu? É o fim. Estava apenas fazendo um horário aqui.

João puxou um papel rabiscado do bolso, ainda sem entender o que exatamente estava acontecendo.

- Pronto. Obrigado, Joãozinho. Agora vamos ver... Como eu gosto muito de hippies, vou ser solidário ao hippie desconhecido que quis te matar. Embora ele não seja uma porra de um hippie, e sim um ator que estava vestido de padre. O que não tem absolutamente nada a ver com hippies, mas você é tão burro que até agora não percebeu isso. Bem, como ele deveria ser um iniciante só conseguiu realizar metade do trabalho, mas você precisa concordar comigo e reconhecer que atirar com uma WALDICK de dentro de um carro em movimento é difícil Serei solidário e vou fazer com você o mesmo que fizeram com ele. Agora cada uma das tuas pernas vai receber um tiro e você vai ficar aí, ao léu. Não posso dizer que vai permanecer sozinho. Como tu mesmo falou, tem "fantasmas por aí".

- O que? Porra Valles, isso é sacanagem... Argh! – Disse João enquanto Valles cumpria o que havia dito. O cara realmente tinha uma mira boa.

- Então, caro amigo, você vai até aqui. Sem demagogias ou sarcasmos, eu espero que tenha um bom dia, e quando o sol esquentar rasteje até uma pedra qualquer. Deixo claro aqui que não é nada pessoal. O plano do Regis incluía matar você e o meu incluía matar ele depois, é óbvio. Apesar de ele não saber desta segunda parte. Acredito que não concordaria e que talvez se decepcionasse comigo, logo, foi melhor assim. Como ele acabou indo para o inferno primeiro, só invertemos a ordem dos acontecimentos, o que não é algo para se alarmar. Já deve saber que é um grande risco seres como vocês sempre acabarem desse jeito, mais cedo ou mais tarde.

- Valles...

- Não espere que alguém te encontre, fui eu mesmo quem escolheu este lugar. Aliás, enquanto estiver rastejando em vão pelo terreno vai ver que já deixei outros seres imundos apodrecerem aqui antes. Até algum dia. Talvez ainda nos encontremos, no inferno!








FIM

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