- Elísio – perguntou Regis. – Por qual motivo você se castrou?
- A Bíblia, caro irmão, diz que se você tem um órgão que te faz pecar, deve cortá-lo... Fora. Mas a culpa desse excesso todo é da Darlene... Glória, e suas... Malditas fotos. E também o fato de eu não confiar em pessoas cabeludas. Façam o mesmo! – disse Elísio, enquanto uma de suas orelhas despencava. Estávamos sentados com ele à mesa da sala, em sua casa. Elísio era de Lençóis. O motivo da orelha dele ter despencado permaneceu um mistério para mim naquele momento. Mas eu o admirava assim mesmo.
- É verdade. Apesar de preferir achar que esse trecho se refere a órgão de igreja, acho que você fez a coisa certa. E então, dá pra desvendar esse código ai?
- Vocês estão... Brincando comigo?
- O chefe disso que estava escrito em código Morse.
- Código Morse? Isso aqui são números escritos em algarismo romano; um 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1. Depois um 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, e 9. É só isso. Vocês sabem... O que é algarismo romano?
- Huuum... Eu não.
- Seus imbecis... O chefe... Era um gozador – Disse Elísio, pouco antes de seu nariz cair e uma substância esverdeada e pastosa escorrer pelo buraco nasal. Ele fez uma pausa de 43 segundos. - Um desgraçado maldito que não tinha escrúpulos e sabia o quanto eu sou esperto e... Não seria pego por nenhuma das ideias truculentas dele. Ele não mantinha controle sobre... Mim ou sobre o Elzo. Só sobre vocês... Dois. Esse dinheiro é maldito, mas... Deve ser uma quantia grande, entre quinhentos mil e um... Milhão de dol... dola... Há!
- Foi ume erro, tem razão Elísio. Elísio, eu sei que você é um cara misterioso – disse Regis, lenta e calmamente. – Mas por que hoje você está derretendo???
- Eu... Não sei com certeza – naquele momento, os cabelos de Elísio já estavam despencando aos montes, os olhos dele estavam fundos e enevoados e ele falava com dificuldade. – Eu fiquei assim... Depois que comi... Os bombons... que o chefe... Mandou... desconfiei que pudesse ser estranho... Dei primeiro ao gato, mas... Nada aconteceu a ele... Suspeito de o chefe me mandar bombons, mas... Nunca imaginei que seria capaz de algo assim... Eu adoro chocolate, dizem... Que chocolate compensa a falta de sexo, eu como... Três caixas por dia. Mas se eu ainda tivesse pau, ele já teria... caído...
- Você quer alguma coisa? – perguntou Regis.
- Não, obrigado... Caras... Apenas deixem-me agora. E, Regis, não se drogue... Muito. Você pode se acabar... Está com... Uma coloração lilás que não é típica de um... Ser humano. Não volte mais naquela loja, a Palácio...
- Hum, certo. Vamos, João. Até Elísio! - Regis tentou apertar a mão do Elísio, mas a mão também caiu. O sujeito estava começando a ficar irritado com sua condição e resolvemos deixá-lo ali, sentado, enquanto ele podia. Não tivemos como agradecer já que aparentemente a cabeça dele também estava prestes a cair. De qualquer forma era melhor sair, e logo, pois não íamos ficar ali para limpar aquela sujeira. Dissemos que mantivesse a fé, pois dias melhores viriam.
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A Alcatéia
Historical FictionChapada Diamantina, anos 70. Dois assassinos de aluguel não muito discretos percorrem estradas caçando vítimas a esmo e planejando novos crimes. No caminho encontram todo o tipo de figuras e compartilham suas histórias, mau-humor e falta de educação...