- Só na maldita capital se consegue um banco aberto. Temos que chegar lá o mais cedo possível acelere essa carroça! – disse Regis com um tom autoritário.
- Isso não é nem um pouco interessante para mim. Odeio aquele lugar.
- O que há, João? - perguntava Regis. Percebemos que só na capital estaríamos realmente bem com relação a achar um banco que fornecesse a quantia que queríamos. Muitos dólares à nossa espera. Eu já estava com medo e conversava com Regis sobre o excesso de viagens que ele estava cometendo naquele período, os conselhos do Elísio e outros pormenores.
- Você viu o que o Elísio falou, não foi?!
- João, cale a boca e dirija!
- Eu não vou calar a boca. Essa porcaria não serve pra nada, nunca serviu e nem vai servir! Vai ficar ai viajando até sermos pegos por algum policial desconhecido. E quando estiver viajando, não saberá a diferença de uma arma para um pedaço de cocô seco. Estamos saindo de nossa área, só lembre disso!
- Você é maluco. Ouve sons de buzinas e pessoas que não existem.
- Não, você é que é o maluco! Você ainda não prestou atenção em todas as besteiras que andou fazendo nos últimos meses.
- E o que eu tenho feito nos últimos meses?
- Você "viaja". O tempo inteiro!
- E o que queria que eu fizesse, hein?! É a nossa vida. Não tenho culpa se você acha que ter pena desses otários vai nos ajudar em alguma coisa.
- Vai sim...
- João...
- O que?
- Que eu saiba, não há carro nenhum na estrada. Você está dirigindo a 20km.
- Certo...
- Certo – disse Regis, depois de trocarmos de lugar, pois ele iria me bater caso eu continuasse naquela velocidade. Era por isso, acho, que ele nunca me deixava dirigir. Ele continuou falando sem parar durante todo o tempo. Já estava realmente enchendo o saco com todas aquelas precauções e me tratando como se eu fosse uma criança. Regis não era um rapaz muito inteligente, eu imaginei.
– Todos os negócios de fachada do chefe, desde agiotagem até venda de mimiógrafos adulterados. Nem quando ele resolveu falsificar dinheiro imaginei que fosse capaz de acumular algo assim. O chefe estava a um passo de fugir e nem sequer cogitou a possibilidade de me levar junto. Não que eu desejasse isso, mas, eu não conheço bons fornecedores. Não tenho tempo para comprar armas ou balas novas. Não faço a mínima ideia de como tudo iria se desenrolar caso ele viajasse, uma vez que a soma em dinheiro pode estar entre quinhentos mil e um milhão. Isso é interessante.
- Claro que é.
- Mas se quer saber, deve ter muito mais no banco. O chefe era esperto demais, só fugiria por uma quantia muito grande, se ele não ia querer voltar, nada me convence do contrário.
- É.
- João, você trouxe alguma arma?
- Sim, mas está sem balas. Só para garantir. Deixei as balas lá com o Elísio.
- Seu burro. Podia ter deixado a arma e as balas. O que vai fazer com uma arma sem balas?
- Praticamente o mesmo que faria com balas sem uma arma.
- Eu devia abrir um buraco na sua cabeça agora mesmo – disse Regis de uma forma feroz. - Eu não vou ter tempo de abrir o maldito porta-malas que está cheio de tralhas suficientes para montar uma barraca e morar no polo norte por um mês. Precisamos disso? Absolutamente não. Não vou levantar suspeita como você faria. Embora saibamos muito bem que você, caro gênio, só tem um revolver e que agora ele é inútil,
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A Alcatéia
Ficción históricaChapada Diamantina, anos 70. Dois assassinos de aluguel não muito discretos percorrem estradas caçando vítimas a esmo e planejando novos crimes. No caminho encontram todo o tipo de figuras e compartilham suas histórias, mau-humor e falta de educação...