1- A patética história de Búzio, um grande palerma

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- Há muito tempo eu precisava presentear-me com aquele momento, não só o da execução em si, mas tudo o que sucedeu e tudo o que a antecedeu. Eu poderia dizer de varias formas. Búzio mantinha-se ajoelhado, de costas para mim, enquanto eu tentava fazer as necessidades atrás de uma pedra. Sim, eu tinha pressa. Eu sei que a historia com Búzio não foi nenhum serviço em especial, embora minhas convicções não me permitam desfazer ou fazer determinadas separações entre o que é e o que deixa de ser, se é que você entende minha linha de raciocínio. Posso dizer que era algo constrangedor. Ele não era um bom sujeito, não ia deixar saudade a ninguém exceto em suas trinta e cinco mulheres espalhadas pelo sertão afora. Sei que não é algo bom de ficar se comentando o tempo inteiro, mas a forma do Búzio com a mulheres, assim como a daqueles sujeitos machos e galanteadores do passado, se devia única e exclusivamente a sua fama patética – e mentirosa - de ter um membro avantajado com relação aos demais sujeitos de sua região. Fama essa que acabou se espalhando por toda a redondeza onde ele morava e aumentou rápida e consideravelmente seu patético harém. No mais, era um subversivo desgraçado, alguém que esperava que o mar pegasse fogo para que pudesse saborear peixes fritos, e um sujeito com o péssimo costume de gerar confusão por causa de resultados de jogos de futebol. O pior era sua voz, tão ridícula e desprezível quanto ele, e um ultimo elemento que me desagradava, seus pés. Eles pareciam pés de uma garota de oito anos de idade, a única forma de deixá-los mais femininos era pintando suas unhas.

- João... Ce ta...

- Não se mexa, nem faça nada, eu o estou vendo. A arma está apontada para suas costas. Seu animal.

- Joãão, puta que pariu! Não faz isso comigo! Eu tenho como te pagar, estou falando! Espera só o fim de semana passar que agente resolve isso!

Aquele momento em particular era bastante irritante para alguém que tenta defecar. Ou bem você faz de uma vez, ou não fará tão cedo. Moscas ao redor são implacáveis.

- João, por favor, eu te peço, só mais um dia!

- Não – disse desistindo daquilo que estava tentando. – Eu já disse que você não me engana como enganou tantos outros e outras.

- O que quer dizer com isso? Como assim "outros e outras"?

- Não importa.

- Tenho cinco bocas para alimentar e muitos dependem de mim. Por favor, piedade!

- É só isso que você sabe falar? Poderia me pagar o que deve. Lá se vão pelo menos três meses. Nesse tempo poderia ter pensado mais em como sua vida estava chegando ao fim.

- Prometo a você que assim que o sol nascer na segunda-feira, tudo estará na sua conta! Eu prometo a você! Eu prometo pela minha filha caçula!

- Búzio, isso é constrangedor.

Estar com Búzio naquela situação era algo caótico. Eu não sabia se o matava, terminava de defecar, ia embora ou ficava ali ouvindo a conversa mole. É claro que não iríamos chegar a lugar algum. Búzio sempre foi um grande palerma e naquele dia sua palermisse se tornara insuportável. Quando ameacei matá-lo, alias, eu não ameacei... Que seja. Quando pensei em matá-lo, a única coisa interessante que imaginei foi nos maridos chifrudos que viriam me trazer presentinhos ou até mesmo, quem sabe, algum dinheiro no Natal. Seria um estranho presente de fim de ano... Guardadas as devidas proporções ostensivas, eu adoraria ir à Disneylândia algum dia, tal qual meu primo Wallace, o amoroso. Aquilo sim é que eram férias divertidas...

- João, poupe-me de seus desejos infantis – interviu Valles, impaciente.

- Como eu ia dizendo, estávamos ali, eu e Búzio, sozinhos no meio daquele monte de pedras e mato seco por todos os lados e eu com receio de gastar minhas balas:

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