Saque

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De uma pessoa que sofreu por conta de saqueadores, era difícil imaginar que iria se transformar em um. Era bastante hipocrisia de Vladour fazer tal coisa, mas humanos são hipócritas.

Pegou a espada e colocou uma armadura leve, colocou um pano na cabeça para não identificarem. Ele e mais duas pessoas estavam se preparando para saquear o carregamento de vinho que estaria chegando em breve. Pietro estava penteando os cavalos da carroça que usaria para se aproximar da carruagem. O plano já havia sido traçado e seria de forma completamente inesperado.

Estariam eles na carroça se aproximando do carregamento, guardas das escoltas se preparam para defender a mercadoria e eles seriam os primeiros a caírem. Quando acontecesse a carruagem que leva o vinho tende a acelerar tentando fugir e os cavalos dos guardas seriam roubados pelo Vladour e os dois homens amigo de Pietro. Alcançando novamente a carruagem ao qual querem saquear, eles matam o cocheiro e pegam as rédeas.

Fácil como o próprio Pietro previu. Entretanto Vladour não estava tão confiante assim. O problema maior era que não era um guerreiro, o que sabia em manusear uma espada era pouca coisa. Suspirou e se preparou para o salto da carroça ao qual estava.

A estrada não ajudava, o veículo estava indo rápido demais para sua estrutura e a cada solavanco por causa de algumas pedras na terra parecia que a madeira iria quebrar. O vento estava gélido, estava no inverno e as roupas de todos era um casaco de lã preto com uma calça de couro por debaixo da armadura leve. As armas que portavam era tão de segunda mão que nem tinha bainha para deixar guardada e Vladour só imaginava que em um desses solavancos faria com que se ferisse sem nenhuma intenção. Apesar do frio, o suor de preocupação escorreu pela sua testa.

- Estou vendo, estamos chegando. Preparem-se! - berrou Pietro atiçando os cavalos a irem mais rápidos.

O momento chegou mais rápido que Vladour havia imaginado. Procurou o guarda ao qual devia pular, porém não encontrou, apenas tinha dois que abriram a formação atrás esperando atacar a carroça que estava em alta velocidade. Foram surpreendidos antes mesmo de conseguirem sacar suas espadas. Logo, os quatro homens ficaram para trás e Vladour fitou Pietro que dera de ombros.

- Assim fica mais fácil, pule na mercadoria... - afirmou Pietro em um tom alto para ser ouvido sobre o vento - AGORA! - berrou no momento em que os cavalos estavam bem próximo da carruagem de carga.

Como havia prometido que iria executar o serviço, não pensou duas vezes. Vladour juntou todas as forças que pode, saltou por cima de Pietro e por reflexo usou um dos pés para dar impulso nas costas do cavalo da carroça que estava. O animal relinchou protestando, porém tudo aconteceu tão rápido que mal pode sentir o peso do homem. A carroça desviou para o lado esquerdo e Vladour subiu no teto da carruagem em que estava a mercadoria.

"Bom, agora só preciso matar o cocheiro e assumir as rédeas." - pensou enquanto andava agachado para manter seu equilíbrio no meio dos tremores da carruagem em movimento.

- Não será tão fácil assim! - disse o cocheiro alto o suficiente para o vento levar as palavras até os ouvidos do homem que tinha subido no veículo. Após prender as rédeas em um objeto metálico para manter os animais focados na estrada, o mesmo sacou sua espada e subiu no teto para interceptar.

Vladour ficou surpreso, não imaginava que o cocheiro teria uma arma e que muito menos teria alguma resistência quando fosse a hora de tomar a carruagem. Os dois foram para cima um do outro com as armas em prontidão.

Pietro viu faíscas no alto do veículo que transportava o vinho e quando focou sua atenção observou Vladour lutando com o cocheiro com vigor. Desviava de golpes mortais, desferiu golpes ameaçadores que foram bloqueados com dificuldade - mas imaginou que seria por conta da instabilidade de onde lutavam. O barman atiçou os cavalos para acelerar e se aproximou o máximo que os animais aceitavam. Só teria uma chance e era do que precisava.

Os tilintares das espadas se chocando tomava conta do ar, logo eram levados pelo vento e substituído por outros sons metálicos de novos choques entre as armas. Era incrível que nenhum deles havia caído ainda. Pietro nem pensou mais, largou suas rédeas, subiu no acento de madeira e saltou para o outro veículo. Se agarrou ao que pode, em uma decoração de ferro que ficava no teto da carruagem. Em movimento tinha sempre o medo de cair, da dificuldade em se segurar e se aguentaria por tempo suficiente para ir até o acento do cocheiro para tomar as rédeas. De pouco em pouco, Pietro chegava mais perto do seu objetivo.

Finalmente havia chegado e tomado as rédeas, incitou os animais a acelerarem mais, sendo que com o barulho das armas os cavalos diminuíram a velocidade. As curvas eram suaves e com um pouco de força conseguia guia-los dentro da estrada de terra. Os relevos irregulares deixava a luta de espada complicada, tanto o cocheiro quanto Vladour tinham que se agachar no teto para manter o equilíbrio e levantavam para desferir golpes tentando jogar seu oponente para fora da carruagem. O suor escorria por causa do esforço, também começou a respirar fundo pelo cansaço.

Um golpe mortal e forte veio do cocheiro tentando partir a cabeça de Vladour, porém ele conseguiu conter, mas com o peso do homem, Vladour começou a ceder. Uma rápida visão veio a mente, tendo em vista a terra da estrada saindo por debaixo do veículo em alta velocidade. Medo se instalou e então o que pode fazer era desviar o golpe do homem. Jogou-o para o lado, deixando ele com um dos joelhos no teto, mas também foi seu erro, pois antes que pudesse pensar em contra atacar finalizando a luta, o cocheiro dera uma cotovelada no nariz de Vladour, desorientando-o, fazendo também pender para trás. Ele caiu para fora e parecia que a luta havia terminado.

O cocheiro se estabilizou e suspirou por um momento, depois teve a iniciativa de voltar ao seu assento, onde também iria descansar, mas quando se virou fitou Pietro nas rédeas comandando a carruagem. Silenciosamente, da melhor maneira que poderia, se aproximou e depois ficou de joelhos para levantar a espada no alto. Com uma expressão de raiva se preparou para desferir um golpe no oponente desavisado.

- Não... - sussurrou Vladour segurando na nuca do homem e imediatamente a pele da mão se abriu, os músculos viraram tentáculos e as veias em um tipo de chicote que perfuraram a pele do cocheiro. A expressão dele mudou no segundo em que os tentáculos começaram a devora-lo, o pânico travou todos os músculos do corpo. A pele começou a secar, os músculos começaram a sumir, o som de ossos quebrando sobressaiu a ventania produzida pela velocidade. Os olhos entraram na cavidade ocular, a língua tinha sido engolida e os órgãos começaram a se liquefazer. Vladour já não sentia mais nada em relação a esse "dom", já conseguia controlar seus sentimentos em relação a ele, também aprendeu a ignorar o tato de engolir enquanto as veias sugavam o inimigo. Só tinha um problema, achava horrível ver, então enquanto fazia isso ficava de olhos fechados. Até mesmo a espada na mão do cocheiro foi sugada para ele, mas antes de "devorar", a arma mudou, se transformou em algo orgânico e o metal se desfez como tinta que não havia secado direito. No fim, sobrou apenas as roupas daquele homem que foram levadas pelo vento e a mão de Vladour voltou ao normal.

Sentiu-se cansado e as únicas forças que teve foram para se jogar ao lado de Pietro no assento confortável da carruagem.

- Conseguimos! - vangloriou-se Pietro.

A Vida de Vladour Lichtre - O ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora