Sentimentos

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Qual é a ideia de quando descobre que os segredos do seu corpo contém mais segredos? Vladour começou a pensar, o que imaginou ser uma maldição poderia ser realmente um dom. Então é a hora de treinar e se conhecer.

     Mas quem iria treiná-lo? Era a questão mais difícil de responder.

     Por mais estranho que seja, Vladour ainda ia a taverna pegar os pães e geléias feita pela esposa do Pietro. O que achou que seria perigoso, se tornou um pouco bom demais. As vezes o barman o chamava para lhe dar algumas carnes, apenas para vê-lo devorar pelas mãos. Consideravelmente era um preço pequeno do que ser exposto e atacado por todo tipo de guarda. Alias, era também legal poder devorar carnes sem precisar pagar.

     Por outro lado, começava a entender a base de funcionamento desse dom e por um momento ficou feliz em tê-lo.

     Depois de algumas semanas, Vladour montou um boneco de madeira e uma espada para treinar, pelo menos não ficaria parado. E todo dia, depois que terminava o serviço de casa e alguns trabalhos de ajudante, ficava por horas batendo no boneco de diversas formas, efetuava jogos de pés também como lembrava do fez naquela noite que lutou pela vida de Pietro. Também tentava acessar aquela habilidade que surgiu em um momento crítico, mas sempre sem sucesso.

     Agora já fazia dois meses e meio que estava na casa de Marieta. Além dela, outros começaram a notar o interesse desse jovem em se transformar em um guerreiro, mas ninguém saberia dizer porquê. Talvez, quisesse tentar se transformar em guarda, ou sendo mais ambicioso, ser um guarda real e viajar a Roma. Ninguém saberia dizer.

     Em uma noite, Vladour entrou para jantar, encharcado de suor e muito cansado, deixou a espada de madeira em um canto para se sentar à mesa como um cavaleiro. Marieta já tinha terminado a refeição, os dois estavam prontos para comer.

     - Como foi seu dia, querido? - indagou Marieta carinhosamente, sorrindo ao terminar a sentença.

     Vladour sorriu e após mastigar um pedaço de gazela pingando de óleo, disse: - Foi bem. Estou quase terminando o estábulo da casa do Vladimir e já tenho dois outros serviços programado.

     - Ótimo. - parabenizou Marieta. Depois de cortar um pedaço de carne e comer, resolveu dizer - Sabe que é ótimo não estar sozinha aqui... Você me ajudou muito. Deus me colocou à frente das espadas não para eu te salvar, mas para que você pudesse me ajudar.

     - É foi incrível o que fizera por mim e tudo que fiz até hoje, foi em agradecimento. - com alegria e cansaço, Vladour respondeu finalizando levando uma garfada recheada à boca.

     Vladour não sabia, mas sua aparência passou a ser jovem, até mesmo mais jovem do que o dia que sofreu nas mãos dos saqueadores a primeira vez. Tinha algumas pessoas que diziam que ele era algum sobrinho que viera visitá-la, ou até mesmo um irmão mais novo que pediu ajuda por conta das despesas altas. Porém, o que ninguém mais sabia e podia ver era um calor que crescia dentro do peito dele. Nunca havia sentido isso, não sabia como reagir. Até mesmo pensou que se deixa-se de lado, passaria, mas não estava nem perto de sumir e aparentava crescer.

     Enquanto comia a janta, ficava pensando não só sobre esse sentimento, mas também sobre como Marieta o tratava, com carinho e gentileza, chega parecer a falecida mãe dele. Por um momento isso o incomodava, queria retribuir, queria fazer o mesmo por ela, porém se perdia no que poderia fazer.

     Marieta retirou o prato de Vladour que estava vazio e sorriu carinhosamente. As lindas bochechas ficaram mais atraentes, os lábios ficaram mais rosados do que o normal e olhos estavam hipnotizantes. Imediatamente Vladour se levantou e com um gesto se ofereceu para lavar a louça.

     - Não, tudo bem. - recusou Marieta educadamente e sorriu timidamente. Deixou o homem parado no meio da cozinha perdido em pensamentos enquanto pegou o balde cheio de água para começar a lavar a louça.

     - Tem certeza? - indagou Vladour se adiantando para pegar um prato ou talher para começar, mas quando percebeu o que ia acontecer já era tarde de mais.

     Levemente esbarrou nas costas de Marieta e a mesma levou um pequeno susto, mas não se sentiu incomodada, pareceu gostar do toque e do susto. Um riso entrecortado saiu involuntariamente e Vladour pode sentir o perfume adocicado que ela usava. Naquele momento seus pensamentos se perderam e tudo que visualizou era Marieta.

     Uma mulher esbelta, jovem e cabelo liso majestoso. As curvas eram chamativas até no meio de mulheres, quantas não diriam querer ter as mesma curvas. A pele parecia um manto dourado, mas sem brilho, lisa como uma lâmina, porém essa não matava e sim, acariciava. Quando Vladour percebeu estava beijando levemente a nuca dela, afastando o cabelo com a mão esquerda e abraçando-a com a direita. Os dois corpos estavam completamente encostado, transferindo um ao outro o calor que apenas aumentava a cada segundo.

     Ele se esqueceu do que estava fazendo, queria apenas ficar para sempre, abraçando e beijando-a suavemente no pescoço, percorrendo até a bochecha.  Foi então, quando ela se virou e ficou na frente dele, fitando-o como se quisesse decifra-lo. Uma das mãos de Vladour acariciou a maçã do rosto enquanto a outra, na cintura, puxava para mais perto. Queria sentir novamente o toque dela em seu corpo, aquele calor, aquele sentimento que não sabia o que era, mas que era bom, era tudo o que queria depois de tudo o que lhe aconteceu. Por fim, mesmo não sabendo que sabia fazer, a mão no rosto dela parou na nuca e beijo-a na boca com todo esse sentimento novo que crescia a cada segundo. Nesse momento, Marieta aceitou e aproveitou cada minuto que passou com Vladour.

     A cozinha não era mais o lugar quem eles queriam estar, então, em concordância, foram ao quarto. Com um pouco de demora, parando para acariciar um ao outro e se beijar. Em fim chegaram, Marieta fechara a janela e quando se virou, ele já estava sem camisa mostrando um corpo escultural, definido que deixaria qualquer outra mulher louca. Vladour fechou a porta para poder se perder naquele belíssimo corpo, como também faria o se esquecer de tudo.

A Vida de Vladour Lichtre - O ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora