Absorção

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Qual a chance depois de uma grande confusão com guardas você acordar na cama de uma mulher desconhecida? Isso é completamente imprevisível e problemático.

     Ao abrir os olhos se deparou com um teto de madeira, sob a luz de velas. A luz estava estremecida em tom alaranjado, dando ao marrom um tom fantasmagórico. Um suspiro para relaxar mais o pescoço no travesseiro confortável em que estava descansando. Ao lado da cama tinha um criado-mudo, um copo de porcelana com água estava a espera de uma subida vontade de tomar água no meio da noite.

     Alguns dias se passaram e Marieta estava cuidando vigorosamente de Vladour, de todo seu corpo que não se regenerava. Somente se degradava a cada dia mais. As dores pioravam, agora era como se sentisse toda a sua coluna destroçada, partida, com os músculos dilacerados. Era algo impossível, como Marieta sempre ficava repetindo, sempre a cada trinta minutos.

     Toda noite, nesse mesmo horário, sempre acordava-o. As vezes as dores, as vezes os pesadelos do dia em que deveria ter morrido. Até na perda dos país, das terras - o que provavelmente aconteceu por não ter voltado.

     Suas emoções também estavam estranhas, algumas não apareciam mais, até mesmo a de susto, surpresa e de raiva, não sentia por nada, nem mesmo as pessoas que haviam atacado. O que mais sentia nesse momento era uma obsessão pela morte, como também tinha diversas perguntas sobre o que estava acontecendo, estava confuso, perdido e mal sabia o que fazer.

     Ouviu um barulho na cozinha, de madeira rolando pelo chão, depois facas caíram de ponta com um baque seco e oco. Com o reflexo incrível que não sabia que tinha, de uma flexibilidade impressionante se levantou, as dores sumiram, as costas se reconstruíram imediatamente, mas teve uma tontura leve, tendo que se segurar em um cômoda próxima. Um dor de cabeça se instalou, porém teve que ignora-la. De tanto que fizeram por ele, era hora de retribuir, se equilibrando na parede foi para a cozinha da melhor forma que poderia, em uma velocidade incrível.

     Atravessou o batente tão rápido quanto uma tempestade de vento antes de uma forte chuva. Se deparou com um jovem rapaz com facas em punho agachado segurando uma das madeiras que usavam como lenha para o fogão. Os olhos azuis se fixaram no seus e ficaram surpresos de ver alguém acordado. Um ladrão, pensou imediatamente, deveria impedi-lo. O que pode fazer foi apenas dar um soco e o rapaz, usou a faca para lhe dar vantagem. O soco de Vladour foi direto para a bochecha do invasor que por causa da força quebrou a em diversos pedaços, alguns até voaram e cortaram o pescoço.

     Tendo dificuldade para respirar, só tentou segurar seu o pescoço do novo assassino, sem saber porque. Esse lapso momentâneo veio com um ódio avassalador pelo ser humano, pela ganância, pelas batalhas que cria para tentar se sentir superior pelo próximo. A única coisa que desejou no fim, um ultimo pensamento, foi que esse invasor sumisse para sempre.

     Imediatamente suas mãos horrendas entraram na pele, se misturaram aos músculos, veias, nos tecidos corporais e em todo o resto. Logo estava sentindo todo o liquido do corpo do rapaz sendo sugado pelos dedos, sendo absolvido, passando pelo seu antebraço, alimentando o braço e dividindo para o restante do corpo. Também teve uma sensação de euforia, nem entendeu o motivo disso, só teve uma reação que foi de gritar, cada vez mais, enquanto via a pele secar, os músculos do rosto sumir, os olhos afundar, o cabelo retroceder, sua mão gerar membranas que se manifestavam em todo o corpo daquele jovem. Isso em questão de segundos. No final, era como se sentido o cérebro sendo retirado como um liquido do crânio e o absolvendo pela mão, da mesma forma que apreciava um delicioso prato durante um banquete. Restando apenas as roupas do rapaz e seus ossos. Vladour soltou-o com uma mão mais linda, com um pouco mais de pele do que anteriormente. Até a pele queimada desapareceu um pouco do restante do corpo.

     Depois, foi encontrado no chão de joelhos ofegante por Marieta, assustada, sem entender o que houve. Apenas teve forças para dar um sorriso brincalhão com seu novo rosto de um terço dele cheio de pele e músculos mais vivos, sem pele negra e com um cabelo curto que começou a nascer - de alguns dias se for analisar.

     Após os dois puderam dormir e Marieta teve que carrega-lo até a cama lentamente, aguentando o peso do corpo de Vladour que não era nem perto de carregar uma pena.

A Vida de Vladour Lichtre - O ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora