Jornada

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Naquela noite, após todo o trabalho que o deixara exausto, provavelmente iria ter que enfrentar Marieta com umas enxurrada de perguntas do motivo, mas Vladour devia fazer, tinha que ir, tinha que recuperar o brasão que o faz ser mais do que apenas um homem no mundo. Respirou fundo antes de abrir a porta da frente.

     - O que eu fiz para você? - indagou Marieta perplexa saindo da cozinha com olhos cheio de lágrimas pronta para cair. - Sou velha demais para você, cuidei de você como se fosse sua mãe, ou eu acreditei demais no que para você era apenas um meio para se recuperar para voltar a sua vida de antes?

     - Não tem nada a ver com isso. Você é um amor, meu amor, porém eu tenho um nome, um emblema de família que eu tenho que buscar e se eu o perder, vou me sentir como se não fosse nada e como também se eu não pudesse ser seu homem. - respondeu com um pesar na voz, aquela expressão nela não o fazia se sentir bem, da mesma forma que fazia não ter o emblema da família dele em mãos. -Eu preciso voltar, mas também eu tenho que voltar para você...

     - Você não precisa se preocupar com seu nome, você só precisa se preocupar com nós, com a família que podemos criar... - retrucou Marieta com lágrimas escorrendo em grandes quantidades e sua voz carregada com um choro contido a fazia ficar um pouco descontrolada. - Isso é o que importa nesse momento, não o passado e sim o agora, eu, nós!

     - Se eu não for eu não serei feliz de verdade, eu não serei eu, não estaria dando meu melhor por estar me sentindo fora do meu ambiente... - tentava explicar da melhor forma, mas tudo que dizia parecia não surtir efeito, ela queria que ele ficasse e ele não podia. Chegou a se aproximar dela, segura seu braço esquerdo e tocar o rosto limpando o caminho das lágrimas que não poderia ser contida. - Meu amor, quando eu retornar, eu serei o homem que você merece e o homem que te fará feliz e te dará filhos para lhe dar orgulho. Eu retornarei para você por completo.

     - Até onde estou vendo, você está completo... - replicou ela com sarcasmo como navalha e se afastou do toque de Vladour, ficou de costas com os braços cruzados mantendo uma pose forte.

     - "Um homem não é um homem de verdade sem seu nome e sem ter um lugar para ficar raízes." - ditou solene com um tom triste na voz, depois de uma pausa, respirou fundo para continuar - "Um homem não pode criar raízes onde seu nome nome não está, ele não estaria completo e uma boa dama não merece um homem que está completo e bem consigo mesmo."

     - Mas quem lhe disse isso? - indagou à ele um pouco confusa, fazendo abruptamente mudar de expressão e cessar a correnteza de lágrimas que caiam, parecendo não ter fim.

     - Meu pai... - respondeu Vladour abaixando a cabeça lembrando todas às vezes que ouvira essas mesmas palavras, sempre quando perdia a cabeça e a mesma história era pronunciada enquanto os dois olhavam o emblema. - Quando eu perdia o controle e ou parecia triste e desapontado com alguma coisa, ele me dizia essas palavras e contava uma história...

     - Qual nome da história? - Marieta ficou curiosa, mas também parecia irritada.

     - Nunca me disse, mas era a história do homem ranzinza, que brigava com todos e vivia triste, mas sua tristeza profundo vinha do motivo que ele havia perdido seu nome e sua honra, então, a partir desse momento nunca mais pode ser feliz e nunca seria digno de uma esposa. - explicou cada detalhe com uma expressão de tristeza no rosto, abaixou a cabeça e fitou ela de tempo em tempo, em cada pausa.

     - Então... - afirmou Marieta com cuidado, sentiu não só a tristeza na história, mas também o medo de Vladour transbordando de seu ser. Quando pensou em dizer alguma coisa foi interrompida ao abrir a boca com um pedido delicado.

A Vida de Vladour Lichtre - O ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora