Indagação

13 4 0
                                    

O treinamento à fim de entender sobre o dom continuava, mas parecia fluir de uma forma melhor. Vladour não está só focado, mas estava feliz, estava com quem gostava e ela cuidava dele. Enquanto trabalhava construindo estábulos ou reparando casas, estava pensando como seu dom funcionou até o momento, porem quando tomava um gole de café, Marieta tomava conta total de seus pensamentos. Aquele sorriso, a voz, o cabelo e a pele, era a perfeição para ele. Não queria deixar aquele lugar, queria ser normal, ou pelo menos ter uma vida normal. Entretanto, nem tudo é como queremos e quase um mês enquanto voltava para casa de Marieta - que começou a considerar sua própria casa - pensou ao ver a porta da frente como estaria a fazenda de seus pais e a casa, se estava tudo igual, ou alguém já havia se apossado, ou apenas foi saqueada e abandonada ao tempo? Vladour parou e fitou a porta da frente por minutos demais.

     No durante a noite, depois de um belo momento com Marieta que durou horas, o sonho de Vladour foi tomado pelo pensamento da fazenda dos pais, a casa humilde e uma grande quantidade de terra de plantação, estavam mortos. O pesadelo parecia estar cinza e um sentimento de vazio tomou conta dele. Ele correu, queria ver se estava tudo como se lembrava, queria ter certeza que nada havia sido mudado de lugar. Quando foi chegando mais perto da residência começou a ficar mais detalhada, paredes decrépita, frágil; janelas de madeira quebradas, cortinas rasgadas; a porta, quando chegou estava em uma posição fora do normal, entreaberta pendia para o lado porque uma das dobradiças havia soltado.

     - Céus... - disse, com os olhos começando a lagrimejar. Tocou a maçaneta por um momento antes de tentar abrir a porta, enquanto isso fitava os detalhes na madeira.

     Era como se um animal selvagem tivesse forçado a porta no máximo tentando arrancá-la, com grandes arranhões Vladour imaginou que um lobo queria destruir a porta. Quando não conseguia mais olhar o estrago, puxou a maçaneta para abrir e depois de um tempo, usando um pouco mais de força que o normal, a dobradiça que segurava a porta cedeu e a porta caiu. No susto, conseguiu jogá-la para o lado e fitou por mais alguns instantes, abismado com a situação. Entrou logo depois.

     Quando vislumbrou o interior parecia que haviam botado fogo no logo e o tempo tinha apagado. Os móveis de madeira estavam destruídos, negros como carvão. Em alguns pontos das paredes estavam como os móveis, mas ainda inteira. Os tijolos estavam amostra e tudo que restara com vida era um pouco de brasa espalhada. Vladour andou pelo local com medo. Sua visão focou na parede ao lado da porta, onde tinha um braseiro de madeira entalhado com o símbolo da família. Esperava encontrar as duas espadas de prata, o item mais valioso da residência, porém o que sobrara era a bainha. Perdendo a única riqueza da família o fez pensar que o nome Lichtre não tinha mais valor, não era mais digno. A sensação do vazio aumentou e a tristeza se apossou do corpo.

     Quando pensou em ir à cozinha, pisou em uma pequena brasa que fizera um barulho quebradiço e em seguida vislumbrou um teto de madeira. Estava deitado na cama que adormecera com Marieta e as cobertas estava cobrindo partes do seu corpo nu. Respirou fundo pensando no sonho e sentiu a subida vontade de voltar, porém um dilema apareceu: deixar Marieta ou não deixar Marieta. A dúvida corroeu seu coração porque queria voltar à residência dos pais, mas não queria deixar a mulher que o defendeu, cuidou e agora é a mulher que ama. Decidiu pensar e viveria aquele dia normalmente enquanto não decidia.

     Vladour jogou as cobertas de lado, levantou e se vestiu, ou pelo menos vestiu uma calça e chinelos. Depois foi à cozinha para o café da manhã. Assim que encontrou Marieta, deu-lhe um beijo e sentiu-se à mesa.

     - Dormiu bem, querido? - indagou a mulher com um sorriso, colocando uma travessa de pães e outra com cubos de queijo e filé de galo assado.

     - Sim, sim! - respondeu retribuindo o sorriso e perguntou animado tão rápido tomando para si sua vez de manter o papo - Então, quais seus planos para hoje, Má?

A Vida de Vladour Lichtre - O ImortalOnde histórias criam vida. Descubra agora