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Londres, 30 de janeiro de 1950.

Heaven Bryer

— O que quer? — Diana levantou o olhar até meu rosto, finalmente deixando de encarar a pasta aberta em sua mesa.

— Preciso que me dê uma informação — iniciei, mordendo a bochecha. Ela piscou indiferente, esperando que eu continuasse. — Onde fica a biblioteca?

Seu corpo se endireitou. Me arrependi de ter posto meus pés no tapete a sua frente quando ela inclinou a cabeça e moveu os lábios rubros.

— Para quê exatamente?

— Pesquisas — resumi.

Seus olhos me fitaram com desconfiança, talvez. Um suspiro. A caneta em seus dedos foi deixada ao lado do cinzeiro de seus cigarros. Lembrei-me do quanto eu odiava conversar com fumantes; o cheiro impregnava onde quer que eles tocassem.

— Me acompanhe — ela levantou, ajeitando o vestido preto.

Segui-a pelo corredor até as escadas. Ela subiu pelos dois lances até o andar acima, mas ao contrário do que eu pensava, continuou. Meus saltos verdes batiam ritmadamente no chão frio da companhia. Uma placa indicando o 5° andar estava pregada ao lado do último degrau. Diana dobrou o corredor e andou por ele mais alguns metros até alcançarmos a última porta. "Biblioteca". Ela abriu-a e deu espaço para que eu passasse.

— É aqui — disse, segurando a maçaneta. — Não quebre, não rasgue, não manche nada.

Sorri sem mostrar os dentes.

— Não se preocupe. Obrigada, senhorita Diana.

Ela apenas assentiu e em segundos, sumiu pelo corredor.

Desfiz o sorriso e entrei. Parei de respirar no mesmo momento. Estantes de livros se estendiam do chão até o teto, e este possuía um grande lustre no centro. Escadas de madeira se apoiavam nas paredes. O espaço era amplo. Mais a frente, uma grande janela de vidro era coberta por uma fina camada de cortinas brancas. Duas poltronas estavam colocadas em frente a uma mesa arredondada de centro e um grande sofá de couro escuro. Explorei por entre as estantes alinhadas que formavam pequenos corredores entre si. Por sorte, ninguém mais estava ali.

Procurei por alguma indicação de livros de história. Estava difícil raciocinar com tantas capas belas. Dedilhei os que estavam na seção de literatura. Muitos exemplares em perfeita conservação e até alguns raros. Eu jamais imaginaria que o The Times manteria obras como "L'âge de Raison" e "Animal Farm".

Por segundos, tive a ligeira vontade de pegar um romance clássico qualquer e deitar-me no sofá o resto da manhã. Céus, há quanto tempo eu não o fazia! Mas, infelizmente, não pude perder muito tempo ali. Em breve, seria requisitada em minha sala para novas revisões e tudo o que precisava fazer era pegar um livro de história da Guerra.

— Vamos... — sussurrei para as prateleiras. — Guerra...

Avancei para outras seções. Passei por ficção científica, contos, biologia, geologia. Finalmente, depois de alguns minutos, encontrei história.

Os livros estavam ordenados em períodos e ordem alfabética. Não foi difícil encontrar livros da Primeira Guerra. A respeito da Segunda, haviam poucos, novos. Capturei um deles com as mãos. Analisei sucintamente sua capa e seu conteúdo. Couro preto, título em escrita dourada. Muitas páginas. Talvez aquele pudesse me ajudar.

1950 • h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora