Londres, 11 de fevereiro de 1950.
Heaven Bryer
Assim que chutei os cobertores pesados que me sufocaram durante toda a noite, lutei contra a vontade incessante de telefonar à secretaria executiva do The Times avisando que me sentia indisposta para comparecer ao trabalho naquele dia. Talvez nos próximos sete dias. Ou, pelo menos, até que a sensação de humilhação profunda e dolorosa se esvaísse do meu corpo magicamente.
A angústia de saber ter sido tão duramente enganada ainda povoava meu interior, e isso deveria ser o suficiente para manter-me distraída em minhas tarefas mais simples. Mesmo que horas e horas houvessem passado desde que Luke Hemmings declarara, em alto e bom tom, a trama de Smith e Styles sobre mim, o amargor não deixava minha garganta.
Como esperado, eu passara a maior parte da noite entregue às lágrimas, culpando a mim mesma por ter sido tão ingênua a ponto de ser manipulada por uma porção de homens de caráter duvidável. Entretanto, ao fim da madrugada, meu rosto secou, restando apenas a indignação pura e a raiva cortante.
Minha mente divagava entre as possibilidades futuras. Como eu lidaria com tudo aquilo, a partir de tudo o que eu sabia a respeito? Eu me revirava em minha cama, inquieta. Nunca fui o tipo de mulher que desistia tão facilmente, mas àquele ponto, além da possibilidade de sumir por toda a eternidade, não me restavam outras opções. Como conseguiria olhar para o rosto de Styles novamente?
Por outro lado, minha intuição, agora tão certa, me dizia que algo deveria ser feito. Eu não poderia permanecer inerte a tamanha humilhação.
Pensei, pensei e pensei, até que concluí que a medida mais correta seria delatá-los a George. Sim. Era o mais sensato a se fazer. Ao mesmo tempo, essa decisão custaria, muito provavelmente, o fim da competição e, por conseguinte, a impossibilidade de continuar a colaborar com meus pais com a despesa do hospital e conquistar meu sonho de ser colunista. Parecia egoísmo meu esconder de George uma verdade tão séria apenas para manter a minha integridade frágil na empresa.
Sentei-me, passando as mãos sobre o cabelo bagunçado. Nem havia me preocupado em enrolar bobs antes de me deitar; meus músculos estavam fracos demais para sustentar os braços erguidos por meia hora. Coloquei a cabeça sobre os joelhos, unindo os pedaços de coragem que ainda restavam para me dirigir ao banheiro.
Ao desligar a torneira de água quente que enchia a banheira, livrei-me do meu pijama amassado, adentrando ao pequeno espaço. Quando o calor me abraçou, mergulhei até estar totalmente submersa.
Os motivos pelos quais eu deveria permanecer em minha casa eram tantos que eu quase me esqueci de um dos principais. Simon. Meu corpo foi tomado por um arrepio com a lembrança recente de sua mão em minha perna e seus olhares descaradamente presunçosos.
A conexão entre todos os momentos que tive com Simon nas últimas semanas foi praticamente imediata, e a conclusão foi clara como a lua. Simon nutria sentimentos por mim.
Não. Não podia ser. Para mim, Simon era apenas um amigo, e eu jamais poderia corresponder ao que eu supunha que ele sentia. Mesmo assim, não pude deixar de analisar o quão mal eu reagi no dia anterior. Minha rejeição deve tê-lo chateado demasiado. A consciência de ter de enfrentá-lo muito em breve compunha a lista crescente de motivos pelo qual eu não queria deixar meu quarto naquela manhã.
Limpei as marcas de maquiagem borradas ao redor de meus olhos, soltando um suspiro profundo. Nada, absolutamente nada, seria igual a partir de hoje.
●
Eu marchava em direção a sala do editor chefe, ajustando as mangas de meu sobretudo escolhido aleatoriamente. A determinação pulsava em minhas veias, tão certa de minha decisão quanto a Ciência estava certa de que o Sol é uma estrela. George saberia sobre cada artimanha inescrupulosa de seu filho e de seu repórter, de certo, favorito.
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1950 • h.s
أدب الهواةQuando um concorrente a colunista de um dos maiores jornais britânicos da década de cinquenta se mostrara uma ameaça para a candidatura da determinada jornalista Heaven Bryer, todas as estratégias lógicas da moça para conquistar o tão desejado cargo...