Suas mãos me tomam com leveza. Sinto sua respiração esquentar a minha boca. Seus braços agora me envolvem. Envolvo seu corpo com meus braços em resposta. Ele é mais alto que eu, percebo. Percebo também que ambos estamos nus. O meu apenas sentir e perceber, ao invés de ver e detalhar, se dá pelo fato de meus olhos estarem fechados. Seus braços me puxam para um beijo, e eu respondo lhe beijando. Agora ele me agarra com força, uma força que eu não sabia ser capaz de proporcionar tamanho prazer. Sinto que eu vou explodir a qualquer momento, seja pela força desses braços ou pelo tesão que me toma o corpo. Estamos ofegantes e interrompemos o beijo, encostando nossas testas. Abro meus olhos para poder ver esse amante e vejo...
Camilo largou o lápis com raiva. Era nessa parte que o sonho se interrompia. Sim, apenas um sonho. Sonho esse que tomara a mente do rapaz em cinco das dez últimas noites. Decidira anotar o tal sonho após a segunda noite, percebendo, ao final, que o mesmo filme se repetira em sua mente nos dias subsequentes. O abrir de seus olhos para contemplar a face de seu silencioso e forte amante combinava com o abrir de seus olhos para acordar.
"Calma, Camilo. É só um sonho." Disse ele para si quando percebeu que estava começando a pirar. Não era todo o dia que ele tinha sonhos que lhe faziam acordar suado e com uma ereção que demorava mais que o normal para descer.
O grande prolema não era o fato de ele estar tendo sonhos eróticos apesar dos vinte e cinco anos, quando geralmente as pessoas vivem os tais sonhos eróticos. O problema era a identidade do tal homem, que ele sabia ser um homem. A barba não era tão densa, mas se fazia presente. Não conhecera muitos beijos em sua vida. Beijara apenas um homem, várias vezes. Mas não era dele o beijo. Seu beijo era calmo, sereno. O beijo do sonho era selvagem, forte.
Havia também outra possibilidade, essa mais forte. Ele, porém, não queria pensar em mais nenhuma possibilidade, já estava quase surtando. Levantou-se da mesa e foi até a janela. Viu Estilingue correndo pelo largo campo que ficava diante da mansão, brincando com um cachorro. Tenória e Julieta conversavam em uma sombra, acompanhadas por Aurélio. Camilo percebeu que havia dormido demais outra vez. Resolveu pegar algo para comer e se fazer invisível por um tempo.
Viu que o relógio no corredor indicava onze horas e vinte e quatro minutos. Ao menos não perdera o almoço, a exemplo das outras vezes. Antes de descer, se encaminhou ao banheiro para escovar os dentes e tomar um banho. Em aproximadamente cinco minutos ele se livrou da ereção persistente e do suor presente. Fez um pão com manteiga com um pouco de café frio logo que desceu. A ideia do homem misterioso voltou à sua mente. Seria esse um efeito da abstinência de relações sexuais? Tivera a última há três anos e, mesmo assim, não era tão intensa quanto a que imaginava ter tido em seu sonho.
"O belo adormecido finalmente acordou?" Disse uma voz grave ao pé de seu ouvido.
Ele saltou de susto, batendo o joelho na mesa. Levantou-se meio manco, mas abriu um sorriso largo ao ver quem lhe havia dado o tal susto.
"Ernesto? Quanto tempo." Disse Camilo partindo para abraçar seu amigo.
"Uma semana não é muito tempo." Respondeu Ernesto rindo.
"Pra quem se via todo dia é muito tempo sim." Contestou Camilo, apertando mais o abraço.
"É... tem razão" O italiano respondeu vencido.
Os dois finalmente desfizeram o abraço, engatando uma conversa sobre as eleições. Ernesto fora eleito prefeito do Vale do Café com uma larga vantagem contra seu adversário e, por conta da campanha e da preparação de uma equipe de governo, ele tivera (e teria) um tempo um pouco menor para dedicar aos amigos. Agora, porém, ele tentaria conciliar a rotina de administrar a cidade com a sua vida extra política.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nosso Sonho
FanfictionDuas formas diferentes de descobrir uma parte de si. Ernesto e Camilo sempre foram melhores amigos, grandes confidentes e quase irmãos. Apesar disso, eles guardam oculta dentro de si uma parte de suas vidas. Camilo se atrai exclusivamente por homens...