"Você o que?!" perguntou uma Ema atônita.
"Eu segui o teu plano de buscar sinais de atração nele." disse Ernesto num tom quase irônico.
"Eu disse pra iniciar com sutileza." Ema agora estava genuinamente a beira de explodir, já que não percebera se o italiano estava zombando ou simplesmente não se importando.
"Mas eu fui sutil, caramba!" o tom dele denotava que ele realmente acreditava ter sido sutil.
"Tirar a sua camisa pra ver como que ele vai reagir não é nada de sutil, você me desculpe." a moça agora se controlara, falando num tom calmo.
"Não foi a primeira e, se Deus quiser, não será a última vez que ele me vê assim. E eu não deitei tudo a perder, não. Eu mantive a minha camisa de baixo pra não matar o rapaz do coração." o italiano completou, tomando o máximo de cuidado para não falar além do que sentia ser necessário.
"Enfim, ele não te rejeitou, e é isso que importa." Disse Ema abrindo um sorriso leve "Ai, Ernesto, eu fico tão feliz de te ver assim empenhado nesse 'amante misterioso'."
Ema não sabia quem era o rapaz que Ernesto queria tanto conquistar, e o italiano não lhe dera abertura alguma para a mínima especulação sobre sua identidade, desconversando ou sendo vago quanto a qualquer coisa. Usara a justificativa de que, caso ela soubesse a identidade do rapaz, não o disfarçasse de todo para o mesmo, assustando-o. Mas o que realmente lhe barrava de fazer a revelação era a incerteza de como Camilo se sentiria sendo "exposto" desse jeito.
Era dia 23 de dezembro, faltavam dois dias para o natal e, com ele, vinha mais uma daquelas festas que reunia basicamente a população inteira do Vale do Café. Julieta fizera questão de convidar a todos, basicamente. Ernesto não planejara algo sólido para esse dia, mas não queria deixar a data passar em branco, apesar da alta concentração populacional daquele lugar. Ema, por outro lado, não tinha planos quanto ao "Caso Jane", tendo dito que desistira de confessar seu amor e que apenas contemplaria a "Dama de Azul" nos espaços de tempo possíveis.
"Ema, Ema, minha cara baronesinha: de nada vale se oferecer para mover mundos pela felicidade dos outros se você não os move pela sua felicidade." disse Ernesto ao ouvir que Ema não planejava fazer nada quanto aquela que amava.
"Mas eu estou tranquila desse jeito." a moça falou tentando distrair o rapaz, o que não deu certo de todo. Ele, porém, nada mais disse, além de uma frase:
"Apenas siga aquele conselho que você mesma me deu quando eu estava quase desistindo do Ca..." Ernesto pigarreou, para disfarçar que quase dissera o nome do rapaz."do Mr. B e aproveita essa data, essa reunião, essa energia... geralmente milagres acontecem no natal. Principalmente falando de Vale do Café..."
A baronesinha ficou mexida, indecisa sobre investir em Jane ou não. A resposta, porém, ela apenas se daria umas horas antes da confraternização.
Ernesto, logo, se retirou da mansão de Ema, se encaminhando para a mansão de Julieta, com o objetivo de rever Camilo. Ao chegar lá, se deparou com o início das decorações para o natal. Tenória dava orientações para Aurélio, que estava no topo de uma escada pendurando uma guirlanda por sobre a porta. Estilingue e Julieta faziam um trabalho de jardinagem simples, aproveitando a luz solar do fim da tarde. Camilo parecia fora do campo de visão do italiano, que se encaminhou para o quintal, cumprimentando todos os que lá estavam.
Julieta, instintivamente, disse-lhe que Camilo estava na parte detrás da casa, consertando uma mesa. Ernesto caminhou de forma sorrateira até a parte detrás da casa. Chegando lá, seus olhos encontraram o outro. Ele estava agachado ao lado de uma mesa, martelando um prego num dos pés dessa mesa, que parecia meio rachado. O rapaz, que usava apenas uma camisa regata e uma calça meio manchada pendurada por suspensórios, estava meio suado e seus olhos se concentravam no trabalho que fazia. O italiano mordeu suavemente seu lábio inferior e ficou olhando aquele serviço que seu amigo fazia.
Camilo demorou para perceber que havia alguém lhe observando, se assustando um pouco ao ver as pernas, mas se acalmando ao reconhecer seu rosto. O rapaz largou as ferramentas e se levantou, abraçando Ernesto, apesar do suor em seu corpo. O italiano retribuiu, e o abraço se sustentou longamente.
"Está aí há muito tempo?" perguntou Camilo, se soltando do abraço.
"Na verdade eu acabei de chegar." respondeu Ernesto sorrindo. "Aliás: o que deu nessa mesa?"
"Nem eu sei. É como se um leão tivesse arranhado as patas no pé da mesa." disse o rapaz dos olhos azuis sem prestar nenhuma atenção no que dizia.
"Que essa coisa tá meio feia é fato" disse o italiano olhando o rachado "Mas eu acho que também não é pra tanto."
"O que não é pra tanto?" Camilo respondeu, voltando a realidade.
"Essa coisa de patas de leão... Camilo você prestou atenção no que você tava falando?" Ernesto perguntou um pouco curioso com essa repentina dissociação do amigo.
"Meu deus eu me distraí demais. Desculpa." Camilo disse sem jeito "Esse rachado é por causa de cupim."
Camilo sorria com um pouco de vergonha. Genuinamente não sabia o que dissera, temendo ter soado estranho demais para o italiano. Ernesto, encantado por tal sorriso, tentou conter o impulso de simplesmente agarrar o rapaz em outro abraço. Esse impulso, porém, foi mais forte, e seu corpo apenas seguiu o comando, abraçando Camilo de forma acolhedora. O menor se assustou com a repentinidade da ação, mas retribuiu o abraço. Nenhum dos dois disse absolutamente nada, sequer tentaram justificar o abraço. O coração de Camilo parecia estar a beira de extrapolar os limites do peito. Nunca Ernesto lhe abraçara desse jeito. O italiano, apesar do semblante calmo, estava anestesiado pela felicidade daquele momento impulsivo. Caso fosse possível, aqueles dois permaneceriam abraçados até o anoitecer. Ernesto, sentindo o bater acelerado do coração do amigo, se afastou levemente, olhando no fundo dos olhos dele.
"Eu... Quer dizer, você... Ajuda... Tá precisando?" Perguntou Ernesto com extrema dificuldade, como se tivesse se esquecido de que modo pronunciar a frase.
"não... Sim, Sim, eu preciso. É que... Tem uma infestação de cupins e eu vou demorar muito pra verificar todas as cadeiras sozinho. Se você puder..." Disse Camilo, também com dificuldade. As cadeiras já haviam sido verificadas por ele uns instantes antes, mas, como nada havia que mantivesse o italiano perto de si, essa verificação prévia foi ocultada.
"Ok... Eu posso fazer isso." Ernesto disse, acatando a sugestão. Ele viera apenas para ver aquele que amava, mas precisava de uma razão consistente para lá permanecer. Esse serviço repentino fora perfeito.
Camilo rapidamente consertou o pé de mesa, passando a ajudar Ernesto à "investigar" as cadeiras. A caça aos cupins durou mais com os dois analisando do que havia durado quando Camilo olhara sozinho. Várias vezes eles se olharam e soltaram risos. Em um dado momento, Camilo encarou Ernesto do outro lado de uma das cadeiras. O italiano, em resposta ao olhar, deu a volta na cadeira para encontrar o rapaz. Ao ver esse reflexo, Camilo deu a volta pelo outro lado, chegando à posição onde o italiano originalmente estava. Por um tempinho, os dois deram voltas e mais voltas pela cadeira brincando de pega-pega. Quando Ernesto finalmente alcançou Camilo, ele agarrou o rapaz menor, levantando-lhe do chão. As testas dos dois se encostaram momentaneamente, mas logo se desgrudaram.
Assim que se completou o serviço, Ernesto se despediu lentamente de Camilo. Os dois estavam no céu. Tinham vivido um dos fins de tarde mais felizes de suas vidas. Quase pareciam dois namorados. A ausência de olhares misturada a adrenalina repentina injetada em seus corpos lhes fizera agir de modo que eles normalmente não seriam capazes de agir.
Quando o italiano se despediu, Camilo lhe perguntou sobre a ceia de natal, apenas para confirmar que o italiano marcaria presença. Ernesto confirmou presença, afirmando que sentia algo de diferenciado se aproximando do vale nesse natal.
"Eu tenho a sensação de que esse natal será o melhor das nossas vidas" Disse o italiano sorrindo.
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Nosso Sonho
FanficDuas formas diferentes de descobrir uma parte de si. Ernesto e Camilo sempre foram melhores amigos, grandes confidentes e quase irmãos. Apesar disso, eles guardam oculta dentro de si uma parte de suas vidas. Camilo se atrai exclusivamente por homens...