Camilo foi seguido por Ernesto no caminho até seu quarto. No que os dois chegaram, o morador da casa fez o italiano entrar primeiro, entrando logo em seguida. Logo que a porta foi fechada, Ernesto se sentou na cama do amigo e começou a tirar sua camisa social, ficando apenas com a regata cobrindo seu torso. Camilo quase lhe interrompeu, mas não o fez, não queria demonstrar o embrião de vergonha que brotou em seu corpo. Não era a primeira vez e não seria a última que o veria com menos roupas, mas fazia já algum tempo que Ernesto não se "despia" tão repentinamente.
Tentou desviar a sua atenção para outra coisa: a mesa na qual anotara o sonho. Não foi a melhor escolha, ele logo percebeu. As imagens do sonho voltaram com força e, Camilo não mais conseguindo evitar a tensão que sentia, logo sentiu a pele avermelhar. Ernesto não percebera de início essa variação na cor da pele do rapaz, já que estava ocupado com um dos braços da camisa, que prendera em sua mão. O dono do quarto aproveitou o espaço de tempo para se sentar na cama ao lado do amigo, pensando que talvez assim essa vermelhidão repentina pudesse sumir.
Quando a camisa finalmente desprendeu do braço do italiano, logo suas atenções se voltaram para Camilo, que ainda estava um pouco vermelho e parecia levemente tenso. Levemente curioso, ele se permitiu perguntar:
"É impressão minha ou você está mais vermelho que o normal?"
"Nada demais. É... O calor! Está mais quente que o normal pra essa época do ano." Camilo respondeu gaguejando mais do que o normal.
"Tá bom... Essa gagueira me diz que não tem nada a ver com o calor." Respondeu Ernesto nada convencido pela resposta do amigo.
"Por que outra razão você acha que eu ficaria vermelho?" Disse o outro tenso, porém rindo um pouco sem jeito, tentando virar o jogo nessa discussão.
"Sei-lá. Vergonha, sangue demais na cabeça, algo do tipo." Contagiado pelo riso, o italiano sorriu enquanto enumerava tais possibilidades de vermelhidão facial.
"Ok, ok. Eu fiquei meio impactado de você ter começado a se despir assim, tão de repente." Camilo respondeu, contendo um pequeno sorriso envergonhado.
"É, você tem razão. Eu não podia tirar a minha camisa assim tão de repente." Disse Ernesto compreensivamente. "Eu nem lembrava que ver alguém se despir na sua frente te incomodava tanto."
"E quem disse que incomoda?" Camilo respondeu mentalmente, não dando sinais de qual a verdadeira razão da vermelhidão por conta da camisa removida. Ernesto, em resposta à revelação recém feita, quase botou a camisa de volta, mas seu amigo declinou essa possibilidade. Ao ver que havia uma alta insistência por parte do italiano, o menor retirou sua camisa, ficando do mesmo jeito que Ernesto.
"O problema real é que foi muito de repente." Respondeu o dono do quarto, encerrando essa situação, ocultando a real razão da vermelhidão novamente.
Logo que o assunto da vestimenta se perdeu, os dois começaram a falar sobre os rumos do café "Três Mosqueteiros". Camilo se atrasara para duas das três reuniões e Januário já demonstrava preocupação com o companheiro de trabalho. Ernesto, sentindo a preocupação do colega, resolvera vir ver em que estado estava o amigo. Era a segunda vez que ele vinha para sua casa tentar engatar uma conversa sobre isso, já que da outra vez encontrara a sala vazia, pressupondo que Camilo estava, estranhamente, dormindo. O italiano, então, resolvera aparecer outro dia para entender o que se passava com seu amigo.
Ao ouvir esse pequeno relato, Camilo disse de forma vaga que andava insone, dormindo por vezes apenas ao amanhecer, ocultando os sonhos eróticos constantes. Ernesto por vezes tentava obter alguma resposta mais sólida, desistindo de tentar após várias respostas vagas que variavam entre noites mal dormidas e calor.
"Enfim" disse o rapaz dos olhos azuis encerrando o assunto da insônia "Nada disso explica você entrando e desaparecendo pelos fundos."
"Se eu entrasse pela frente eu teria de explicar o porquê de querer entrar sozinho, de precisar tanto ver alguém presumidamente dormindo e por aí vai." Explicou Ernesto lentamente, caçando as razões enquanto falava.
Camilo aceitou a resposta, não pensando mais em formas de alongar a conversa. Vários assuntos já estavam atualizados e uma conversa maior poderia cortar assuntos em potencial para conversas futuras. Ernesto, então, se levantou, tomando sua camisa de volta e pondo em seu corpo.
"Bom, acho que eu já vou indo" Disse se encaminhando à porta.
"Ok então." Camilo respondeu indo para a porta junto.
Os dois saíram do quarto e se encaminharam pelo corredor, descendo as escadas em silêncio. Chegando ao térreo, o italiano falou em um tom alto, para que todos lhe ouvissem:
"Gente, eu já vou indo. Tchau."
"Tchau." Disseram todos em uníssono. Tenória ajudava Estilingue, que escrevia em um caderno de caligrafia; Julieta e Aurélio liam juntos o jornal do dia, que chegara enquanto Camilo e Ernesto estavam no andar de cima. Para se despedir, porém, todos interromperam o que faziam, despediram-se dele e apenas voltaram a se focar no que faziam antes após os dois rapazes saírem pela porta.
Já do lado de fora, à metade do quintal, eles enfim se despediram com um longo abraço. Quando Camilo se virou para entrar na casa, porém, Ernesto lhe chamou e disse com um pequeno sorriso:
"Obrigado por se abrir comigo. Vou tentar tomar um pouco mais de cuidado pra não te envergonhar."
"Primeiro: Eu já disse que não foi vergonha o que eu senti; Segundo: Me abrir eu não me abri." Camilo retrucou tentando manter um semblante calmo.
"Bom... Nove de cada dez pessoas que admitem algo que normalmente não admitiriam estão, na verdade, se abrindo com alguém." Disse Ernesto mantendo o sorriso.
O rapaz dos olhos azuis repentinamente perdera a fala. Sempre se distraía quando olhava de forma tão direta para o amigo na inexistência de um assunto. Um sorriso que pensava em escapar de sua boca foi contido no exato instante em que já começava a se formar. O italiano não reparou, ou agiu como se não tivesse reparado.
O olhar dos dois se sustentou por aproximadamente quatro segundos, no qual os dois mantiveram um silêncio constante. Os dois estavam em transe, incapazes, por instantes, de desviar o olhar para qualquer coisa que fosse. Logo, porém, Ernesto rompeu esse pequeno transe, anunciando que precisaria ir finalmente. Camilo, no mesmo instante, abraçou seu amigo, se despedindo e logo voltando para dentro. Os dois, agora fora do campo de visão um do outro, abriram um largo sorriso que, se alguém os visse naquele momento, poderiam considerá-los dois sorrisos apaixonados.
Gente eu tô no meio de uma crise inspiracional que me bateu com força. Essa é a razão pra esse capítulo ter demorado tanto assim pra sair. Eu espero que esse início esteja agradável. É bem complicadinho lidar com uma história com tantos personagens no núcleo principal, mas aos poucos eu me acostumo. Eu ainda vou tentar estabelecer um ritmo de postagem, mas eu ainda não tenho nada estabelecido. Até mais.
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Nosso Sonho
FanfictionDuas formas diferentes de descobrir uma parte de si. Ernesto e Camilo sempre foram melhores amigos, grandes confidentes e quase irmãos. Apesar disso, eles guardam oculta dentro de si uma parte de suas vidas. Camilo se atrai exclusivamente por homens...