Milagre de Natal

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Ernesto sentia de novo o coração acelerado de Camilo e gostava dessa sensação. Gostava também da sensação da mão do menor acariciando seus cabelos. Gostava também da sensação dos cabelos do menor em suas mãos. Os dois, sem dizer palavra alguma, sentiam-se um ao outro como quem sente pela primeira vez. O que, ao fim das contas, era o que realmente acontecia naquele salão. Era esse o primeiro abraço depois de admitirem oficialmente para si que desejavam um ao outro.

Diferente dos outros abraços, esse não se desfez por conta própria dos dois, que pareciam capazes de se manter nessa mesma posição até a meia noite. Soltaram-se quando Julieta entrou pela porta e disse num tom alegre:

"Camilo, finalmente desceu."

Os dois se separaram devagar e Camilo disse que estava esperando mais pessoas chegarem. Apenas vira Ernesto, mas imaginava já terem aparecido mais pessoas. Os três saíram e Camilo aproveitou a oportunidade para olhar o termômetro: 14 graus. Julieta ouviu a sugestão de levar as coisas para dentro, mas a mesma afirmou que fora feito café em larga quantidade, suficiente para manter aquecidos todos os convidados.

Já na rua, viu-se que ninguém havia chego ainda e que, também, já não faltava mais nada ser arrumado, deixando todos livres para conversarem. Camilo e Ernesto se sentaram um pouco afastados de todos, próximos de uma tocha, a qual não lhes aquecia, mas iluminava um pouco. Nenhum assunto, em si, foi iniciado. Eles apenas falavam sobre o que quer que houvesse de aleatório para falar.

Em dado momento, Ernesto comentou sobre o frio repentino, falando na temperatura que costumava fazer na Itália nessa época do ano.

"Falando em frio: Como que você tá aguentando esse frio com essa roupa?" Perguntou Camilo, agradecido pelo tema sólido que finalmente se fez.

"Tá meio frio, mas é lidável, eu acho." Disse Ernesto sorrindo um pouco. Nessa temperatura, porém, o frio já se fazia difícil de lidar.

"Deixa eu ver." Disse Camilo estendendo as suas mãos, pegando as de Ernesto. O italiano se surpreendeu com essa ação, mas não recuou. Gostava, também, da sensação dessas mãos de príncipe em suas mãos. "Ernesto, as tuas mãos parecem duas pedras de gelo." Completou o rapaz, ainda com aquelas mãos entre as suas.

"As mãos demoram pra esquentar e esfriam rápido. Isso é normal." Disse Ernesto tentando despreocupar Camilo. "Obrigado por tentar esquentá-las"

Os dois ficaram um pouco sem jeito com a resposta do italiano. A sorte deles estava no fato de todos os outros habitantes da mansão estarem distantes e distraídos deles. Entre uma risada e uma desviada envergonhada de olhar, os dois sequer notaram que ainda mantinham as mãos juntas. Camilo fora o primeiro a notar, soltando-a um pouco rápido e, logo, perguntando para o amigo:

"Eu posso te dar um paletó por essa noite... Pra você não sentir tanto frio..."

Ernesto teve dificuldades em aceitar, mas ao ver que a insistência daquele príncipe não se encerraria enquanto ele não o aceitasse, disse que sim. Camilo subiu sozinho para o quarto e tomou um paletó de tom marrom, para combinar com o colete. Desceu tão rápido quanto subiu, entregando aquele paletó ao homem que o usaria pelo resto da noite.

Levou aproximadamente meia hora, na qual aqueles dois flertaram entre si de formas que apenas eles foram capazes de perceber, até que outras pessoas começassem a chegar. A família Benedito veio em massa comandando um pelotão no qual vinham praticamente todos os convidados, como numa procissão. As irmãs e seus cônjuges à frente, Ofélia, Felisberto e Jane logo atrás. Luccino e Otávio vinham ao lado de Brandão. Ludmila, Januário, Olegário, Charlotte e uma outra grande parte dos habitantes do vale vieram num pelotão mais atrás. No mesmo pelotão vinha Ema, conversando com Ludmila.

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