Algo parece prestes a explodir. Sem duvidas, minha cabeça. O som estridente do celular rasga meu cérebro ao meio. Aperto os olhos, sentindo a pontada latejante na têmpora, e amaldiçoo quem quer que tenha decidido me torturar tão cedo. Alcanço o aparelho jogado ao lado da estante e atendo no último toque sem saber o número na tela.
- Bom dia, poderia falar com Maya Seo?- Franzo o cenho tentando reconhecer a voz, mas falho miseravelmente e me jogo na cama.
- Bom dia. É ela quem fala.- Tento soar como uma pessoa calma.
- É da cafeteria Coffee Yang. Gostaria de lhe parabenizar dando a notícia de que foi contratada.
Salto tão alto que por poucos centímetros, a dor de cabeça aumentaria com uma batida no teto. Os olhos que antes tentavam se acostumar com a luz, agora estão pulando para fora. Tampo minha boca para que nenhum grito inesperado saia e deixe a mulher do outro lado surda.
- Ainda está aí?
- Oi! Sim!- Respiro fundo.- Desculpe. Estou um tanto que surpresa.- Seus risos chegam em meus ouvidos.
- Nossa chefe prefere que você venha aqui hoje mesmo, se não estiver com compromissos importantes. Ela quer explicar tudo pessoalmente.- Concordo sorridente mesmo que não esteja me vendo.
- Tenho que resolver um assunto, mas no começo da tarde, estarei aí.
Tudo passa voando pelos meus ouvidos e saem do outro lado. Olho as caixas e penso alegremente que quando voltar, colocarei minhas coisinhas todas em seus devidos lugares, onde permanecerão neles por bastante tempo. Vou tomar o meu banho e ele passa a ser o mais feliz da semana. Programo tudo em minha mente como uma lista das coisas que farei antes de ir ao café.
Informarei o Sr. Chuck de que a nossa conversa sobre a troca de horário está de pé. Tinha sido bem simpático ao dizer que estaria disposto a me ajudar da maneira possível. Depois do último dia trabalhando de manhã na galeria, fico com uma sensação estranha de fim e começo ao mesmo tempo. Eu vou continuar trabalhando aqui, mas é estranho pensar que, a partir de agora, minhas manhãs não pertencerão mais a este lugar, mas a outro, onde novas rotinas e rostos me aguardam.
Pego o ônibus correndo mesmo ainda tendo algumas horas. Queria contar para alguém. Não para a senhora cochilando ao meu lado, nem para os passageiros cansados encarando o nada. Queria contar para ele. Mas e se dormir não for mais o suficiente para encontrá-lo? Agora que saciei a insônia, a outra coisa só cresceu mais. Não sonhei. Só dormi. Isso não acontecia há tanto tempo. Tanto que cheguei a esquecer do quão sem sentido eram os sonhos antes. Do quanto era horrível ter pesadelos e acordar com um sentimento ruim no peito. E eu que nem tive um pesadelo sequer hoje, ainda acordei com essa dor. Um vazio obscuro como abrir um livro e perceber que todas as palavras sumiram. Minha mente é um céu sem estrelas. Pela primeira vez, não há asas flutuando no escuro, nem sussurros no vento. Apenas silêncio. E eu me pergunto se ele se foi... ou se nunca esteve aqui.
(***)
Atravesso a porta sentindo o peso da novidade. Como se fosse meu primeiro emprego. Como se cada olhar ali estivesse me avaliando. Quero sorrir, parecer confiante, mas não tenho certeza se meu nervosismo deixaria isso acontecer. Uma menina de cabelo preto e ralo me recebe. A franja quase cobrindo os olhos puxados. Seus dentes são pequenos parecendo de uma criança. Sorrio de volta olhando um pouco para baixo devido à sua altura.
- Boa tarde! O que...- Um garoto loiro aparece do outro lado do balcão ao seu lado. O do sorriso perfeito de dar inveja.
- Não é uma cliente, Shizuki.- Ela franze o cenho me observando.- É a Maya. Maya, certo?- Me pergunta e afirmo rindo da expressão dela que parece de alguém desvendando um mistério.
- Estava tão ansiosa para conhecer você! Sinto que seremos boas amigas.- Seus olhos somem para um sorriso simpático aparecer.- Logo noto seu sotaque parecido com o da Sra. Sakurai.
Minha nova chefe me mostra o lugar enquanto conversamos sobre como funcionará as coisas. Explica que terei que me adaptar a não só entregar nas mesas ou anotar pedidos, mas também a exercer as funções dos meus colegas, já que pode haver um imprevisto de faltarem por necessidade. Conversamos também sobre o salário, horário e folgas na semana.
- Vou te apresentar os funcionários que passarão quase todos os dias com você.- Se juntam em nossa frente quando o lugar já está vazio e pronto para ser fechado.- Está é Shizuki, minha filha. Ela cuida da parte da contabilidade.- Tudo faz sentido, ambas são japonesas.- Yuna. É a veterana. Sua especialidade é a culinária.- Os cabelos ondulados e castanhos combinam com o rosto de modelo. Sua feição é doce e também sorrimos uma para outra. Deve ser a que me ligou para dar a notícia do emprego.- E esse é o Vernon. Que trabalha na parte das bebidas, mas daria um ótimo k-idol.- Rimos todos enquanto ele fica vermelho e sorri sem graça, abaixando o olhar e coçando a nuca.
- É um grande prazer conhecer todos vocês.- Faço uma reverência demorada. Eles repetem.- Espero que possamos nos dar muito bem.- Será que estou sorrindo demais? Ou de menos? Talvez eles já tenham se enturmado e eu seja apenas a nova estranha. Mas Shizuki sorri para mim como se já fôssemos amigas, e isso alivia um pouco meu peito
Um clima mais agradável que o de antes aparece. Sou atraída pela loja de conveniência perto do parque. Compro alguns doces e em seguida me sento no banco de sempre. Vejo o sol indo embora, assim como os pais de mãos dadas com seus filhos cabisbaixos pelo fim da diversão. Os mínimos detalhes da paisagem me deixam encantada. Meu olhar longe para sobre alguém de calça jeans e camisa listrada. Sem duvidas, não o reconheceria se não estivesse usando meu óculos. Vernon. Abraça uma menina que parece bastante com ele. Pensaria que é até mesmo sua irmã gêmea, se não fosse nitidamente mais jovem. Os dois se distanciam e somem até que tudo que eu consigo ver é o horizonte.
Seria bom ter uma irmã. Até mesmo um irmão. Não igual às minhas meias irmãs por parte de pai. E sim do tipo que tem uma amizade. Aquele tipo de amizade tão forte que você sente que se não fossem do mesmo sangue, iria desejar isso. Acho que seria bom ter ao menos um amigo. Uma amiga. Talvez, no fundo, eu só queira alguém que não vá embora.

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Sky. (Mingyu)
FanficA vaga lembrança de se deitar sobre a grama com sua mãe, depois de correrem alegremente pelo jardim, e de observar o céu que a encantou mais que as flores do lugar, persiste. Naquele dia, Maya quis desesperadamente ver uma estrela cadente. Em compar...