Sigilo Emocional

Capítulo 09 - Marina - A vingança é um prato que se como frio...

- Oi Carla, posso falar sim... Pode ver essa? Tamanho “M”, por favor.

- Com é que é? – perguntou Carla do outro lado da linha.

- Tô falando com a vendedora da loja, Carla. Precisei fazer uma comprinha. Na verdade, tô aqui no shopping pra passar o tempo até dar a hora.

- Hora pra que?

- Estou esperado o Heitor sair do trabalho.

- Como assim, hoje é sábado. O que ele está fazendo lá?

- Eu sei que dia é hoje, mas tinha trabalho atrasado e eu pedi pra ele, Guilherme e a Viviane irem hoje.

- Aff tu é ruim heim.

- Poxa amiga, não fala assim não. Você sabe o inferno que foi essa semana. Tive que ir todos os dias pra casa da minha mãe, sem falar que tive que ficar driblando o Camilo a semana inteirinha, já que só vou conseguir falar com o Heitor hoje.

- Nem fala, passei a semana inventando coisas pro gostosão para não passar ligações nem dar seu número pra ele. Mas amiga,tô ligando exatamente por isso. Esquece aquela ideia maluca minha, amiga. Pelo amor de Deus, não propõem isso pro coitado.

- Carlinha, é genial a sua ideia, para com isso.

- Marina, ele é gay você não vai fazer isso com o coitado!

- Heitor é gay? – disse abismada e fiquei de boca aberta no meio da loja.

- Nossa, tu deve ser cega mesmo. Já viu ele com namorada nesses anos que trabalha lá?... Ele já deu fora na Vanessa, na Chris e até em mim. Só almoça com o Guilherme... Seiiiiii não viu. Todo mundo na edição nem dá mais bola. Todo mundo já sabe que ele é gay.

- Você já deu em cima do Heitor?

- Só escutou isso né safada. – Carla rindo da minha cara – Ah, na época eu achava ele bonitinho.

- Que seja melhor ainda só quero pra provocar o Camilo, Carla. Então amiga... Preciso desligar por que já está dando hora e preciso pagar a blusinha linda que eu achei aqui. Beijo.

Nada vai fazer eu voltar atrás. Eu não vou prejudicar ninguém, não estarei usando ninguém, serei bem clara com Heitor que eu quero apenas me vingar do Camilo, todo mundo daquela empresa já deve tá sabendo do meu envolvimento com ele. Sempre tem um fofoqueiro que começa tudo, e não duvido nada a Carla ter comentado com alguém e esse alguém fez o favor de espalhar isso, se não publicou no próprio jornal: “Extra Extra, Camilo e Marina estão tendo um saco”. Só que eu ainda acredito que vingança é uma atitude muito incorreta, não é assim que funciona as coisas. Acredito que quando se guarda rancor vai se tornando uma bola de neve interminável. O e o mau humor pode ser risível. Eu, ao menos, estou ciente do que eu estou fazendo e estou impondo os meus limites: Não vou me envolver mais com o Camilo, não deixarei mais aflorar nada por ele. Apenas quero que ele perceba o quanto é idiota, que poderia está dando o valor a sua esposa e não está. Você deve estar pensando, poxa mais você vai prejudicar o casamento dele com a Sara. E eu te digo nada disso, estarei apenas fazendo o meu trabalho, afinal de contas ela está desconfiada e estarei apenas trabalhando para lhe mostra o que está ocorrendo. Pronto!

Chega até ser tolice que alguém perca tempo se dedicando a se vingar do que quer que seja, mas definitivamente eu estou disposta a ser vista como tola, ele merece isso. Quando a Carla me falou da sua ideia, fiquei pensando será simples demais, poderia expor ele ao ridículo, mostrar para as pessoas o quando ele é um lixo. Mas me recordo também de quando Sara me disse que eu fosse o mais discreta possível. Me recordo ainda com facilidade da iraniana Ameneh Bahrami, que perdoou o homem que lhe jogou ácido no rosto, deixando-a cega pra sempre. Ela poderia simplesmente desejar a morte ou a própria cegueira, então ela decide que nem oito nem oitenta: No Hospital de Teerã, o médico já estava com o material na mão para consumar a vingança (autorizada pelas leis islâmicas). O agressor estava de joelhos, aos prantos, aguardando o pior, quando chegou o telefonema com o perdão da vítima. Não vou deixar barato, mas também não vou expô-lo ao ridículo. Algo apenas para que ele aprenda, e sinta assim como eu estou sentindo a dor do engano, de ser feita de palhaça. Não sou seu brinquedo e nunca serei.