- Não estou pra ninguém Carla, entendeu. Ninguém.
Nem me dou o trabalho de olhar pra Carla, nem de esperar sua resposta. Entro feito um foguete em minha sala. Não quero que ninguém olhe pra mim. Sento em minha cadeira e me debruço na mesa. A vontade é de continuar fazendo o que fiz durante toda a noite. Chorar!
Tô parecendo uma garota mimada, adolescente com sua primeira decepção amorosa. Onde é que está aquela mulher madura, determinada e firme feito uma rocha? O que esta acontecendo comigo?
Eu me vi em uma situação vulnerável e pensei que poderia contornar isso. Mas hoje eu vejo que tudo que fiz foi uma grande burrada. Me envolvi em uma situação embaraçosa e eu sou a culpada, eu sabia de tudo que estava acontecendo e continuei com isso. Sabia que Camilo era casado e mesmo assim me deixei envolver. Pra piorar eu entreguei à sua esposa provas de sua traição, contornei a situação para fazer dele um canalha, mas no final eu era quem estava me enganando, eu é que faltei com o meu próprio caráter... Afinal de contas a amante fui eu. Eu destruí um lar, que por mais que não estivesse as mil maravilhas, eu incentivei a discórdia, e ainda joguei a merda no ventilador contando tudo para Sara. Me sinto suja. Agora estou aos prantos em minha mesa de trabalho, sem saber o que eu faço com relação a nada. Meu corpo padeceu.
De repente escuto uma batida na porta.
- Já disse que eu não estou para ninguém, Carla.
- Desculpa, Marina... Eu tentei, mas ela insistiu.
Quando ergo minha cabeça, um par de olhos a me fuzilar. Sua expressão é de ódio e não tiro sua razão. Garanto que essa era a última pessoa a qual eu desejava ver.
- Tudo bem, Carla, deixe-nos a sós.
- Você é uma maldita piranha, sabia?
- Sara, eu não admito...
- Quem é você pra admitir alguma coisa aqui, sua vadia barata. Biscate!
- Chega. Você não vai entrar no meu trabalho pra ficar me ofendendo.
- Ah, quer dizer que você pode entrar na minha família, destruir meu casamento, fingir ser uma detetive, jogar na minha cara que meu marido tá me traindo com uma qualquer da rua, mas no final era você que se deitava com ele. Não duvido nada, estava rindo da minha cara. Que adjetivo menor você quer do que piranha?
Já não bastava estar me sentindo um lixo, precisava ainda receber a visita ilustre da mulher traída, pra me jogar na cara tudo que eu fiz. Ótimo. De certo modo me coloquei no seu lugar e deixei que ela desferisse todas as suas ofensas, o que pra minha sorte não durou muito, acredito que o meu silêncio foi letal para sua ira. Da mesma forma que ela entrou ela saiu da minha sala. Feito um furacão.
Olho para o relógio do computador que ainda marca 10h27min. O dia pelo visto será longo. Pego o telefone e disco o ramal da Carla.
- Liga, por favor, para o celular do meu irmão Fred. Se ele não puder atender liga pro Bruno.
Assim que aguardo a ligação, já estou decidida do que vou fazer. O telefone toca.
- Marina, seu irmão Frederico na linha.
- Ok pode passar.
Assim a Carla transfere a ligação
- Oi maninha, que milagre é esse que você tá me ligando...? Ah, uma coisa. Tem que mandar essa sua secretária parar de me chamar de Frederico, fico parecendo o avô do Papai Noel.
- Ok, Fred, vejo isso depois, mas eu tô precisando saber de uma coisa, se tem como você ver na administração do hospital se eu posso ir agora falar com a mamãe... – digo apressadamente quase sem respirar - sei que não é horário de visita, nem de troca de acompanhante, mas é algo super urgente e...
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Sigilo Emocional
RomanceMarina hoje é a gerente geral de um jornal de grande circulação e sempre foi muito dedicada ao seu trabalho desde quanto era estagiária. Mas depois que sua mãe ficou doente, o dinheiro começou a faltar dentro de casa. Então teve uma ideia para cons...