Partindo

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Eu me negava.

Me neguei a noite inteira, naquela sala de espera. Ainda tinha sangue na minha roupa, mas eu me negava.

- ...sinto muito, mas seu marido, infelizmente...

Eu me negava.

Isso não podia acontecer de verdade. Isso não podia acontecer comigo. Isso não podia, jamais, acontecer com ele.

Quando entrei debaixo do chuveiro e senti a água extremamente fria tocar minha pele. Ainda estava em negação. A água adquiria o tom vermelho ao misturar-se com o sangue. Negação.

Não derramei uma única lágrima depois de receber a notícia. Porque eu me negava.

E me neguei. A noite inteira, acordada, sentindo o outro lado da cama vazio. Seu perfume ainda circulava por tudo na casa, e também por isso, eu me negava.

"Você ainda está aqui. Comigo. Eu sinto você."

Mas, como uma bomba atômica, sem aviso, a minha ficha caiu, no momento em que o avistei dentro do caixão. Todos chorando ao seu redor. E ele lá, parado, sem respirar... morto.

- ...sinto muito, mas seu marido, infelizmente veio a óbito.

Óbito. Morte. Ele havia ido. Antes de mim.

E então me parti. Todas as lágrimas contidas pela negação foram expulsas freneticamente. Agarrei-me a ele. Estava disposta a me matar para acompanhá-lo. Eu apenas o queria de volta. Vivo e comigo. Ou apenas comigo. Mas o queria. Precisava.

Não aguentei vê-lo ser enterrado. Me arrastei, aos prantos, de volta à nossa casa.

Peguei todas as suas roupas, joguei em cima da nossa cama, e me enfiei entre elas, numa tentativa muito falha de reproduzir seu toque, sua presença... o mínimo para voltar a me sentir viva.

Ele tinha vindo a óbito. Nós dois morremos.

Não Espere Por Mim, AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora