Noite

23 1 0
                                    

Todos os meus medos foram consolidados naquela noite. Dessa vez, ele estava nos meus sonhos, mas não da forma como estava antes.

Eu estava na escrivaninha, calculando algumas contas que tínhamos. Ele terminava de se vestir para ir trabalhar. E cantava algum rock antigo enquanto o fazia.

Terminei de fazer todas as contas e respirei fundo ao constatar que outra vez não teríamos dinheiro para pagar todas elas.

- Ei! - Andou até mim e começou a massagear meus ombros. - Não se preocupa. Nós vamos dar um jeito. No final sempre teremos um ao outro...

- ...e isso é o que realmente importa. - Completei.

- Exatamente. - Falou, soltando meus ombros.

Levantei a cabeça e ele selou nossos lábios, antes de se dirigir à porta.

- Bom dia! - Disse eu, sorrindo.

- Bom dia! Ah! Não vou poder vir para o almoço, então não espere por mim, amor. - Ele parecia estar desapontado, mas sorriu.

- Tudo bem. - Falei, e soltei um beijo no ar.

O vi saindo pela porta, e voltei a encarar os papeis.

Foi então que ouvi.

O barulho ensurdecedor. Havia sido um tiro. Não sei como deduzi logo isso, mas corri para fora de casa, e o encontrei sangrando. Um tiro. Um tiro no coração.

- Socorro! - Gritei e me ajoelhei, o abraçando. - Alguém chama uma ambulância! Meu marido está baleado! Socorro!

O pesadelo daquela noite era uma reconstituição fiel do dia da sua morte.

Depois que a ambulância chegou e fomos ao hospital, passei o dia e quase uma noite inteira, na sala de espera. Eles estavam tentando remover a bala, mas ele não resistiu.

Acordei e não consegui voltar a  dormir. Em quatro meses minha vida tinha sido despedaçada. E eu soube que aquela lembrança tão nítida, faria eu jogar fora toda a minha evolução.

Não Espere Por Mim, AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora