Luísa

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Não foi bem como eu esperava. Na placa estava escrito o nome dela, para que viesse até mim, mas ela simplesmente passou direto. Sabia que era ela porque a menina simplesmente olhou para a placa, apontou para si mesma e passou direto. Nem olhou para o meu rosto. E eu a segui.

- Você não sabe onde ir. Tem que esperar por mim. - Falei ao alcançá-la.

- Você não é a mulher da foto que me disseram para chamar de vó. - Devolveu sem parar de andar.

- Porque não sou quem você deve chamar de vó. Sou sua tia.

- Ah. - Foi tudo que ela disse por fim.

Não perguntou quem eu era, por que estava lá ao invés da avó... nada. Simplesmente continuou andando.

Tomei a frente e comecei a seguir no caminho certo, sabia que ela estava me seguindo, porque ouvia passos muito próximos, mesmo no caótico e barulhento aeroporto.

Entramos no táxi e o caminho inteiro até o apartamento a garota não disse uma palavra. Nem eu. Estava tentando me conter para não desabar dentro do carro. Parecia que eu e ele tínhamos vivido momentos especiais em cada esquina daquela cidade. E tudo que voltava à minha cabeça era a lembrança de que ele havia morrido. E isso me fazia querer morrer junto outra vez.

Chegamos no apartamento e eu fui direto para o meu quarto. Meu lugar seguro. Já estava deitada e chorando muito quando alguém bateu na porta. E eu sabia que esse alguém só podia ser a menina.

- O que houve? - Perguntei da cama.

- Onde coloco minhas coisas? E... qual é o meu quarto?

- Põe a mala na sala e fica por lá até sua vó chegar.

- Que horas ela chega?

Olhei no relógio na minha mesa de cabeceira e revirei os olhos.

- Faltam cinco horas. A gente tem TV à cabo, não vai ser tão chato.

- Ah. Mas... - Ela deu uma longa pausa e suspirou alto algumas vezes. - Eu também tô com fome.

- Tem comida na cozinha. Não é possível que não saiba passar geléia num pão.

Ouvi os passos se distanciarem e afundei novamente o rosto entre os travesseiros. Poucos minutos depois, Luísa voltou a bater na minha porta. Não esperou que eu perguntasse, apenas falou:

- Não encontrei a geléia.

Sei que não deveria, mas fiquei com raiva no mesmo instante. Sentia que ela era uma intrusa, jamais entenderia minha dor, jamais calaria a boca. Jamais me deixaria e paz. Quis enfiá-la no primeiro táxi que visse, para mandar de volta.

Ao invés de deixar minha raiva soar, apenas respondi, calmamente:

- Nas prateleiras de cima, Luísa.

- Eu não alcanço.

"Tudo bem. Temos um problema! Você não alcança a prateleira, e eu não vou aguentar você."

Não Espere Por Mim, AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora