Espera

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Uma semana depois, eu ainda não conseguia respirar direito. Andar direito. Falar. Sorrir. Viver. Não conseguia viver.

Cada dia confirmava o que eu soube desde o momento em que a minha ficha caiu: fui enterrada também.

Meus sonhos, meus planos, minhas vontades, minha vida. Enterrada junto a ele. Dividíamos aquele caixão. Ele em corpo e eu em espírito! Espírito que com toda a certeza não me habitava mais.

- ...pense no que ele iria querer...

Eu tinha vontade de gritar toda vez que ouvia alguém me dizer isso. Pensar no que ele queria reforçava a ideia de que ele era passado e lembrar disso sempre me fazia chorar loucamente.

Imagine a sensação de perder seu rumo. De não saber a motivação de acordar e dormir. A motivação de respirar. Imagine que você simplesmente não sabe, de mais nada. Nada.

Era exatamente assim que eu me sentia. Vazia e sabendo de nada, sobre mim, sobre o mundo, sobre a vida.

Um mês depois e eu não comia o suficiente para me manter de pé, o que resultou em várias idas ao hospital. O mesmo hospital onde o perdi. Todas as vezes que eu entrava lá, a dor se intensificava e a vontade de morrer também.

Em contra peso, eu tinha uma lembrança ingênua. Não boa, mas não ruim.

Naqueles corredores eu tive certeza de que ele estava vivo. Tudo o que passava na minha cabeça era: "vai ficar tudo bem, ele é forte, muito forte".

A espera durou a noite inteira e então recebi a notícia, que na verdade não teve peso sobre mim, o peso veio ao vê-lo no caixão.

Ainda assim, toda vez que me levavam ao maldito hospital, as cenas corriam como um filme na minha cabeça: eu gritando, ele na maca, sangue escorrendo, ele morrendo. Tudo vindo ao mesmo tempo. Enquanto eu sentia meu corpo perder as forças. E ansiava para que as perdesse completo. Para tê-lo de volta aos meus braços e parar de sofrer ao reviver aqueles momentos.

Não Espere Por Mim, AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora