Naomi

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Uma semana depois de Luísa ter ido embora, eu me arrumava para uma visita.

Não tinha evoluído muito nas últimas três semanas... em geral ainda estava tudo na mesma. Porém, quase sete meses depois, eu havia tomado uma decisão.

Sete meses depois, decidi ir visitá-lo.

Me vesti bem, apesar de não estar tão bem assim. Passei até mesmo maquiagem.

Peguei um táxi e fiquei o caminho inteiro de olhos fechados, tentando evitar memórias, evitando desistir de ir lá. Antes do destino final passamos numa floricultura, mas não QUALQUER floricultura, era a que ele tinha comprado o primeiro buquê que me deu.

Dentro do carro eu era apenas lágrimas. Comprei rosas, as minhas menos favoritas, mas as mais amadas por ele.

Quando senti o carro parar, tive a sensação que o leve efeito da inércia duraria uma eternidade só para que eu não tivesse que entrar lá. No cemitério.

Desci, paguei a corrida e observei o carro sumir no horizonte. Só então consegui dar os primeiros passos.

O ar mórbido do cemitério era sinistro, porém calmo e de certa forma acolhedor. Como se tudo ali soubesse absorver sofrimento, estivesse acostumado com isso, e agora receberia o meu também, sem oposição. Como se dissesse: "tudo bem, estou acostumado, apoie a cabeça no meu ombro e chore, eu te entendo". Era um lugar para isso, sem dúvida.

As lágrimas caíam de maneira mais frenética a cada passo. Minha respiração não sabia mais o seu padrão habitual e eu tinha a leve sensação de estar sufocando.

Quando finalmente cheguei, após caminhar por alguns minutos, desviando de lápides, mausoléus e placas, encarei a escritura.

Era ele. Nome, sobrenome... as datas batiam perfeitamente. Foi estranho, porque meu sonho era chegar ali e descobrir que tudo não passara de um engano e eu sofri sete meses por nada. Mas a realidade é mais real que isso.

Coloquei o buquê sobre as flores mortas que ainda estavam lá. Talvez colocadas por algum amigo ou familiar.

Estava na hora. Não tinha mais como voltar a trás.

- Eu... isso... é só que... - Respirei fundo e tentei controlar as lágrimas. - Tudo bem. - Disse para mim mesma. - Já fazem sete meses. Os mais difíceis da minha vida. Para ser sincera, não acredito 100% ainda. É muito irreal não te ter aqui, comigo. Mesmo que tenha passado sete meses.

"Você talvez esteja desapontado, eu duvido, mas talvez esteja. Porque eu esperei. E você me pediu para não fazer isso. Desculpa. Na verdade só percebi quando uma garota de 12 anos me disse isso."

"Eu... eu estou aqui porque tomei uma decisão. E você tem que saber antes de qualquer pessoa! Por mais que não possa de fato me ouvir. Decidi que não vou mais esperar."

E então mais lágrimas caíram em cascata.

"Isso é muito difícil. Não sei se vou conseguir, mas preciso tentar! Ainda te amo! Vou te amar pra sempre! Ainda serei Naomi. Sua Naomi. Você ainda será Lucas. Meu Lucas. Mas não vou mais esperar. E sei que você entende. Porque sempre entendia."

Senti meus olhos arderem. Senti que morreria ali mesmo. Mas consegui respirar normalmente e encarei a placa outra vez.

"Eu te amo."

E então saí andando pelo cemitério. Sentindo que o ombro dele havia feito bem para mim, mas que eu não precisaria voltar tão cedo.

Andei pelas ruas da cidade. Tomei um sorvete. Voltei para casa andando e respirando normalmente.

Não havia superado por completo - e provavelmente isso nunca aconteceu -, mas eu havia decidido que queria superar. Superar a dor, não a nossa história, porque isso seria impossível superar. E eu não queria.

Não Espere Por Mim, AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora