Capítulo II - The One That Got Away

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Particularmente, eu acho que essa música se encaixa perfeitamente na relação que a Mare tem tanto com o Maven com o Cal, porque, se certa forma os dois foram embora. Ela fez planos com os dois, e os dois se foram.

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O dia estava ensolarado em Norta. Quando eu abri os olhos, depois de muita insistência do meu despertador, pude perceber os raios de sol que atravessavam as grossas cortinas do meu quarto. Ao virar-me na cama para desligar o insistente aparelho, acabei ficando de frente para as sacolas que, durante um surto na noite anterior, havia colocado as coisas que eu ainda guardava do Maven.

— Nada de voltar atrás agora, baby. — Ao ouvir a sua voz procurei por ele, e o encontrei encostado na parede próxima a porta. Balancei a minha cabeça em afirmação e me levantei.

Não demorei muito no banho, pois sabia que o meu tempo estaria pequeno naquela manhã. Coloquei uma roupa confortável e desci para comer algo antes de sair. Precisaria, de qualquer forma, voltar em casa antes de ir trabalhar, então a minha manhã estava corrida.

Depois que o Shade me ajudou a terminar de embalar os pertences do Maven, nós descemos as escadas e o meu irmão cozinhou para mim. Fez a massa que eu mais gostava, e, como sempre, havia ficado deliciosa; mas, em compensação, a cozinha estava uma bagunça. Porém, eu não tinha tempo para arrumar a bagunça de panelas e copos naquele momento.

Uma nutricionista me mataria pelo terrível café da manhã que havia tomado, mas eu estava com pressa. Deixei a louça do café acumulada com a do jantar antes de subir correndo para o quarto. Sentei-me na cama e calcei os meus coturnos, e comecei a descer as sacoladas até o meu carro; felizmente nenhuma delas arrebentou durante o percurso.

Conferi a água e a comida do meu gato antes de sair, e em poucos minutos estava indo em direção ao meu primeiro destino. Para a grande maioria das pessoas, aquela era uma quinta-feira normal. As pessoas acordariam, e iriam para os seus trabalhos, as crianças iriam para suas respectivas escolas, o trânsito estaria caótico que qualquer forma, e a vida continuaria. Mas para mim, aquela não era uma simples quinta-feira. Era dia trinta de março, e estava completando mais um ano que o meu marido havia morrido.

Estacionei o meu carro na vaga do estacionamento e olhei em volta. Como eu esperava não havia mais do que algumas senhoras transitando por ali. Saltei do carro e caminhei até a entrada da Igreja. Eu não era muito religiosa, ninguém da minha família era. Comparecíamos às missas algumas vezes no ano, mas não como os mandamentos da Igreja. No fundo eu não ligava, nunca fui muito apegada à ideia de um Deus, mas respeitava aqueles que acreditavam.

Deixei de acreditar em Deus quando ele me deixou no momento em que eu mais precisava. E ele não me ajudou depois. Provavelmente estava ocupado demais com os pedidos infinitos que os nós, seres humanos, sempre fazíamos. Afinal, nós a humanidade nunca estava satisfeita com o que tínhamos.

Eu sabia que aquela Igreja fazia doação voluntária para aqueles que realmente precisavam, e saberiam melhor do que eu o que fazer com aquela monteira de roupas que eu tinha no meu porta-malas.

— Bom dia. — Olhei para o senhor que se aproximava. Ele parecia ser um pouco mais velho que o meu pai, e carregava um sorriso bondoso no rosto. — Posso ajudá-la?

— Bom dia. — Abri o meu melhor sorriso, mesmo sabendo que ele não chegaria aos meus olhos. — Eu gostaria de saber se ainda estão aceitando doações. — Perguntei.

— Sim, recebemos doações o ano todo. — Abri um sorriso sem mostrar os dentes.

— Eu tenho algumas coisas para doar, roupas, o senhor poderia me dizer em que lugar as deixo? — Ele balançou a cabeça em afirmação e apontou para uma porta do lado esquerdo ao altar.

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