A população de Polo Norte entra em desespero quando estrelas do natal são roubadas na calada da noite, no que dois elfos azarados se vêem numa inquietante investigação pela misteriosa Floresta Áurea. Afinal, haverá uma conspiração enganando a todos...
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O coração de Sebastiana batia forte dentro do peito, como que prestes a explodir, as caretas murtas dos ursos de pelúcia arranhando o estômago da duende e quase o fazendo vazar para fora numa série de dejetos gosmentos de si mesmo.
A tensão era tanta que a atenção da moçoila teimava em ficar dispersa, enganando-a: precisava pensar rapidamente em um plano de fuga ou alguma coisa, já que a saída original não havia funcionado como era para ter sido. Era tão a cara de Rômulo ter apenas metade da solução para um problema: ainda que a súbita ausência do amigo diminuísse o estresse em cima dos ombros de Sebastiana, entretanto, a duende precisava admitir que, sim, ela sentia-se mais vulnerável sem a presença reconfortante do outro ali.
― Anda, Tiana ― ela falava consigo mesma. ― Lembra do que você aprendeu na academia.
Por certo, Sebastiana não tinha tido nenhuma disciplina que tratasse exclusivamente de como alguém deveria agir caso fosse emboscado por um bando de ursos de pelúcia mal-encarados. Seria uma disciplina útil, entretanto. A moçoila desejou ter mais conhecimentos sobre como se safar daquela situação tão específica. Sem saber o que fazer, contudo, tudo o que a cabeça de Noelo pôde improvisar foi o óbvio e inseguro: correr! Era aquela a única opção que sobrara – correr e torcer que o pior não acontecesse.
Então foi isso que ela fez: botou um pé na frente do outro e se meteu por entre as criaturas felpudas, sentindo as garras e olhares dos ditos cujos se virarem em sua direção. Eles eram muitos, percebeu Sebastiana. Quanto mais ela se embrenhava na floresta de pelúcias, mais pelúcias morto-vivas apareciam: todas exibindo na cara a mesma expressão descabida, os mesmos olhos vazios.
A oficial suspirou de cansaço. Escapando da punhalada atropelada de um urso com pelagem amarela e focinho vermelho, Noelo abaixou a cabeça, quase escorregando na neve, trabalhando para que pudesse esquivar a investida de outra criatura, esta tingida de verde-esmeralda e metida num babador de criança. A moçoila não havia sido atingida ainda. Isso era bom. Estava conseguindo escapar dos monstros sem que estes lhe pegassem, embora não pudesse calcular exatamente por quanto mais tempo poderia continuá-lo fazendo.
Vezes e outras, logo em seguida, Sebastiana sentiu as garras de alguma criatura roçando contra sua pele, o que a fazia arrepiar dos pés à cabeça. Precisava continuar. Não podia parar. Tinha de sair dali. Mas como? O exército de pelúcias parecia simplesmente infinito, visto que, para todos cinco ursos que Noelo deixava para trás, mais dez pareciam surgir, só para manter o coração da duende disparado. Era como embrenhar-se num labirinto vivo, lutando pela própria sobrevivência.
― Era melhor eu ter ido procurar aquelas crianças, como eu fui instruída a fazer... ― murmurou a oficial, enclausurada, o fôlego se perdendo entre uma baforada e outra na noite estrelada. Chutando a neve, Sebastiana corria como se não houvesse amanhã, esquivando-se de ursos, procurando uma saída, fazendo um pedido às estrelas, se controlando para não chorar.
Foi quando ela viu.
Havia uma pata de urso enterrada na neve, bem no chão à sua frente. Noelo parou de súbito. Formigando, algo em seu inconsciente catucou os neurônios da moçoila, como que mandando uma mensagem clara e pouco sucinta: algo está muito errado! A duende, entretanto, nem desconfiava de por que algo estaria assim tão errado, embora ela não fosse demorar tanto para descobrir.
A pata no chão era cor-de-rosa. Parecia feita de chiclete. Decepada e esquecida na brancura da neve, a coisinha inócua hipnotizou os olhos de Sebastiana por um segundo inteiro, sem que ela pudesse exatamente dizer por quê. E aí ela pôde.
A pata se mexeu.
E a duende engoliu em seco.
A aproximadamente vinte centímetros de onde aparecia a pata rosa chiclete, outra do mesmo tom surgiu, vinda da neve. Era como ver uma planta emergindo do solo, aquilo, só que mais aterrador: logo a neve se mexia toda naquele ponto, duas orelhas surgindo entre as duas patas, e, depois, uma testa felpuda, dois olhos, um focinho, uma boca aberta. Outro urso. Escalando um caminho para fora da própria cova, ávido pelo ar frio da noite, os botões vermelhos do olhar travados na expressão de total horror que tinha na cara de Sebastiana.
E a moçoila deu um grito.
― AHH! ― berrou, sem pensar, retrocedendo dois passos de onde o urso cor-de-rosa brotava, o medo brotando feito fungo em seu coração.
Noelo não estava entendendo o que estava acontecendo. Não entendia como estava acontecendo. Não fazia ideia de por quê. Sua mente se esvaziara, de repente. E só tinha o horror que era aquilo tudo: a imagem aterradora da criatura felpuda se erguendo de debaixo da terra para caminhar, vagarosamente, na direção da duende.
― O-o que está acontecendo? ― queria ela saber, chacoalhando de medo. ― Isso... isso não... não pode ser...
Mas era.
A noite dos morto-vivos... que eram ursos de pelúcia
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