10. A Sorte

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O Pó de Sumiço roubado da mesa de madame Saturnália levou Sebastiana até o coração da Estação Interdimensional com Esquina ao Polo Norte

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O Pó de Sumiço roubado da mesa de madame Saturnália levou Sebastiana até o coração da Estação Interdimensional com Esquina ao Polo Norte. Chacoalhando a poeira luminescente das roupas, a moçoila deixou-se terminar de surgir no meio da multidão, piscando olhos e aquietando a respiração.

Ruídos convolutos penetravam as orelhas da duende de súbito, fazendo-a girar no lugar, como que procurando a fonte, só para encontrá-la por toda parte: era o repentino burburinho, o que a assustara, apenas. A estação estava ainda mais lotada do que da última vez que Noelo lá estivera, percebia, um labirinto de gorros coloridos desenrolando-se debaixo do teto translúcido do prédio.

― Calma, Tiana ― ela falou a si mesma, num murmuro. ― Foco no que você tem que fazer. Deixa as consequências pra depois. Foco!

Era meio difícil focar com tanto duende indo e vindo na e contra a direção da moçoila. Noelo sentia-se quase que num carrossel, naquele momento, vendo o mundo todo girar ao redor enquanto ela mesma girava à procura do mundo. Se pudesse fazer um pedido a uma estrela do natal, ela pediria ser capaz de cumprir aquela missão da maneira que tivesse de ser. Com a noite reinando no céu, Sebastiana notou-se provavelmente atrasada para o tempo certo, pisando então nos sapatos errados e caminhando pelo chão errado. Carvões, carvões! Não era possível que toda a investigação chegaria ao fim por conta de um mero problema organizacional – perdendo-se na estação, Noelo temia ter perdido um ladrão de estrelas pela multidão.

― Bem, eu já fui expulsa da cidade, de qualquer jeito... ― balbuciou, enfezada, apertando o passo por entre os espaços apertados entre um transeunte e outro, o tempo passando junto com ela. ― Vamos lá, sorte... Me ajuda só dessa vez. Prometo que só vou pedir hoje...

Sebastiana já havia feito alguns pedidos à própria sorte algumas vezes na vida, sabia bem. Caso a entidade existisse de fato, por certo Ela teria algumas contas bem certas para acertar com a duende. Sorte que a sorte não operava assim, para o azar de Noelo.

Parecendo enormes piscinas luminescentes grudadas em altas paredes de tijolos, os Portais Precisos pescaram a atenção dos olhos da moçoila enquanto ela zanzava, impaciente, pelos meandros da estação. Nunca havia atravessado uma daquelas coisas, a duende; achava, em verdade, tais portais um tanto inquietantes, talvez até perigosos, como seus instintos lhe diziam. Era meio horripilante como os duendes simplesmente caminhavam para aquelas massas ondulantes de magia líquida e desapareciam para sabe-se lá onde. Por certo, atravessar um daqueles portais devia ser no mínimo desconfortável e Sebastiana esperava do fundo coração que, caso o maldito ladrão de estrelas já tivesse mesmo sumido pra outra dimensão, ele tivesse o pior caso de efeitos colaterais provocados por viagem interdimensional. Era o mínimo, aquilo, para compensar o desconforto aterrador que a moçoila estava sentindo.

Foi quando uma visão confortável fez o coração de Noelo finalmente parar de doer e se acalmar.

Sua mente tinha um cálculo rápido e preciso, como sempre, não falhando em reconhecer o par de chifres que se projetava acima da cabeça de uma porção de duendes separando a moçoila de um dos Portais Precisos. Qual foi a surpresa e alívio que a duende sentiu ao ver os preciosos cabelos brancos de Rômulo aparecendo ao lado de um arisco Asno, ambos nadando com a correnteza de duendes.

O Paradeiro das EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora