O Pó de Sumiço roubado da mesa de madame Saturnália levou Sebastiana até o coração da Estação Interdimensional com Esquina ao Polo Norte. Chacoalhando a poeira luminescente das roupas, a moçoila deixou-se terminar de surgir no meio da multidão, piscando olhos e aquietando a respiração.
Ruídos convolutos penetravam as orelhas da duende de súbito, fazendo-a girar no lugar, como que procurando a fonte, só para encontrá-la por toda parte: era o repentino burburinho, o que a assustara, apenas. A estação estava ainda mais lotada do que da última vez que Noelo lá estivera, percebia, um labirinto de gorros coloridos desenrolando-se debaixo do teto translúcido do prédio.
― Calma, Tiana ― ela falou a si mesma, num murmuro. ― Foco no que você tem que fazer. Deixa as consequências pra depois. Foco!
Era meio difícil focar com tanto duende indo e vindo na e contra a direção da moçoila. Noelo sentia-se quase que num carrossel, naquele momento, vendo o mundo todo girar ao redor enquanto ela mesma girava à procura do mundo. Se pudesse fazer um pedido a uma estrela do natal, ela pediria ser capaz de cumprir aquela missão da maneira que tivesse de ser. Com a noite reinando no céu, Sebastiana notou-se provavelmente atrasada para o tempo certo, pisando então nos sapatos errados e caminhando pelo chão errado. Carvões, carvões! Não era possível que toda a investigação chegaria ao fim por conta de um mero problema organizacional – perdendo-se na estação, Noelo temia ter perdido um ladrão de estrelas pela multidão.
― Bem, eu já fui expulsa da cidade, de qualquer jeito... ― balbuciou, enfezada, apertando o passo por entre os espaços apertados entre um transeunte e outro, o tempo passando junto com ela. ― Vamos lá, sorte... Me ajuda só dessa vez. Prometo que só vou pedir hoje...
Sebastiana já havia feito alguns pedidos à própria sorte algumas vezes na vida, sabia bem. Caso a entidade existisse de fato, por certo Ela teria algumas contas bem certas para acertar com a duende. Sorte que a sorte não operava assim, para o azar de Noelo.
Parecendo enormes piscinas luminescentes grudadas em altas paredes de tijolos, os Portais Precisos pescaram a atenção dos olhos da moçoila enquanto ela zanzava, impaciente, pelos meandros da estação. Nunca havia atravessado uma daquelas coisas, a duende; achava, em verdade, tais portais um tanto inquietantes, talvez até perigosos, como seus instintos lhe diziam. Era meio horripilante como os duendes simplesmente caminhavam para aquelas massas ondulantes de magia líquida e desapareciam para sabe-se lá onde. Por certo, atravessar um daqueles portais devia ser no mínimo desconfortável e Sebastiana esperava do fundo coração que, caso o maldito ladrão de estrelas já tivesse mesmo sumido pra outra dimensão, ele tivesse o pior caso de efeitos colaterais provocados por viagem interdimensional. Era o mínimo, aquilo, para compensar o desconforto aterrador que a moçoila estava sentindo.
Foi quando uma visão confortável fez o coração de Noelo finalmente parar de doer e se acalmar.
Sua mente tinha um cálculo rápido e preciso, como sempre, não falhando em reconhecer o par de chifres que se projetava acima da cabeça de uma porção de duendes separando a moçoila de um dos Portais Precisos. Qual foi a surpresa e alívio que a duende sentiu ao ver os preciosos cabelos brancos de Rômulo aparecendo ao lado de um arisco Asno, ambos nadando com a correnteza de duendes.
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O Paradeiro das Estrelas
FantasyA população de Polo Norte entra em desespero quando estrelas do natal são roubadas na calada da noite, no que dois elfos azarados se vêem numa inquietante investigação pela misteriosa Floresta Áurea. Afinal, haverá uma conspiração enganando a todos...